Montagem da coluna de Marcelo Hessel

Créditos da imagem: Omelete/Divulgação

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Dicas do Hessel #017 | Ennio Morricone, hits e lados B

Confira nossa homenagem ao mestre das trilhas sonoras do cinema

30.07.2020, às 11H02.

No dia 6 de julho, o cinema e o mundo perderam Ennio Morricone, e ainda ressoa - como o eco de uma gaita no descampado - a obra do compositor italiano na memória do público. Em nove décadas de vida, e sessenta anos de carreira nas telas, Morricone ajudou a moldar o faroeste spaghetti, as histórias de terror do giallo, os dramas políticos italianos, suspenses na Hollywood dos anos 80.

Morricone sabia ser muito sutil quando o caso pedia (a trilha atmosférica de O Enigma de Outro Mundo é fundamental para criar o clima do filme), mas sua especialidade era a orquestração que envolvia o espectador num crescendo grandiloquente, e não é por acaso que, ao longo dessas décadas, ele tenha criado a música de muitos épicos históricos e geracionais, como em Os Intocáveis (um favorito pessoal). A lista abaixo traz sete sugestões - entre greatest hits e umas garimpagens de streaming - que mostram a versatilidade do maestro e o impacto de suas criações.

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Queimada

Foto de Queimada
Divulgação

Durante os anos que consolidaram a marca de Morricone, um dos seus parceiros mais frequentes era o diretor Gillo Pontecorvo, conhecido por dramas políticos históricos, como A Batalha de Argel (1966), um dos trabalhos mais célebres do compositor.

Já no caso de Queimada, três anos depois, Pontecorvo e Morricone se voltam para uma história ambientada no Caribe durante uma revolução fictícia no século 19, com Marlon Brando no papel de um agente agitador que, interessado nas plantações locais, coloca os escravos locais contra os colonizadores portugueses. É uma grande atuação de Brando e Morricone exercita, com composições que acompanham a crescente agitação de protestos sociais, seu talento para os temas emocionais e retumbantes.

Disponível no Belas Artes à La Carte.

Busca Frenética

Foto de Busca Frenética
Divulgação

Paranoia e pesadelo eram elementos frequentes nos filmes de terror italiano que estão (ao lado dos faroestes) na base da carreira de Morricone. Neste neonoir dirigido por Roman Polanski, sua única parceria com o diretor, o compositor leva sua experiência do giallo para uma trama também de paranoia e vertigem, sobre um cirurgião (Harrison Ford) que visita Paris com sua esposa e se vê envolvido numa trama internacional de tráfico, raptos e aparatos atômicos. É um exemplo de como Morricone consegue ser sutil quando o filme pede uma trilha que vai tomando o espectador aos poucos sem que ele perceba.

Disponível no Amazon Prime Video.

Cinzas no Paraíso

Foto de Cinzas no Paraíso
Divulgação

O segundo longa-metragem de Terrence Malick é o filme que moldou seu estilo e também definiu o que se poderia esperar de suas narrativas contemplativas, cheias de horas mágicas e campos de trigo. Morricone ganhou sua primeira indicação ao Oscar de melhor trilha sonora por essa história de triângulo amoroso no período da Primeira Guerra Mundial. A repercussão rendeu: em 1978, mesmo ano da estreia do filme, saiu um álbum com a trilha, que continua alguns temas além dos três que estão no longa, e em 2011 a Film Score Monthly lançou uma edição especial em dois discos com mais gravações originais do maestro para o filme.

Disponível no Telecine.

Três Homens em Conflito

Foto de Três Homens em Conflito
Divulgação

A referência obrigatória. De todas as seis colaborações de Morricone com o diretor Sergio Leone, esta, a terceira, que fecha a chamada Trilogia dos Dólares, talvez seja a mais conhecida, graças ao tema principal que imita o uivo dos coiotes e se tornou um hit pop em incontáveis releituras desde 1966. O jeito de Leone filmar, que situava o espectador em absurdas aproximações dos pistoleiros desse faroeste cheio de foras-da-lei, dependia muito da música para funcionar de verdade, e Morricone contribuiu de maneira fundamental. O apetite de Leone por situações de tensão crescente, levadas ao limite, e emendadas por instantes épicos de catarse, tem muito a ver com a maneira como Morricone constrói seus temas. Poucas vezes o trompete brilhou tanto como em Três Homens em Conflito.

Disponível no Telecine.

Quando Explode a Vingança

Foto de Quando Explode a Vingança
Divulgação

Numa época em que compunha mais para os terrores italianos, Morricone voltou a trabalhar com Sergio Leone neste faroeste de 1971, que juntava os tipos amorais do spaghetti western com o contexto das revoluções latinoamericanas. Depois de revolucionar o gênero, Leone já se permitia excessos de humor e ação, com metralhadoras giratórias e muitas bananas de dinamite, para contar a história de pistoleiros que se descobrem, por acaso, heróis da Revolução Mexicana. Diante da proposta lúdica, Morricone entrega seus temas mais ecléticos, que vão do cômico e do fantástico ao operístico em variações que não têm receio da mistura.

Disponível no Telecine.

Ata-Me!

Foto de Ata-Me!
Divulgação

Por anos, Morricone não soube dizer se Pedro Almodóvar gostou ou não das composições para este filme espanhol de 1989, sobre uma relação abusiva de um ex-paciente (Antonio Banderas) de hospital psiquiátrico com uma atriz pornô (Victoria Abril) que ele endeusa. Foi uma parceria inusitada, embora o cineasta e o compositor tenham em comum a tendência a levar o lado emocional de suas obras até o limite da tensão. O resultado é uma trilha que acompanha o sarcasmo de Almodóvar com tons mais solares, ao mesmo tempo em que se encaixa bem entre as composições melancólicas que Morricone fez desde os anos 60 para dramas românticos, gênero que o acompanharia por décadas.

Disponível no Amazon Prime Video.

Era uma Vez na América

Foto de Era uma Vez na América
Divulgação

Uma década separa a trilha de Nino Rota para O Poderoso Chefão e a derradeira colaboração de Morricone com Sergio Leone para este épico de 1984, e parece que toda a história da imigração italiana nos EUA e da Máfia no cinema acontece ao som desses dois compositores. Como Era uma Vez na América tem um tom memorialista, de nostalgia agridoce, Morricone deixa os temas retumbantes de suas outras colaborações com Leone e investe num som melódico capaz de conduzir o espectador por esse passeio de reminiscências - seja na versão de duas, três ou quatro horas. Não é por acaso que o famoso violoncelista Yo-Yo Ma seja um dos mais famosos intérpretes dos temas de Morricone: o cello é o instrumento ideal para transmitir nessas músicas o peso da História.

Disponível no Amazon Prime Video.

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Confira os destaques desta última semana

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