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Créditos da imagem: Warner Bros./Divulgação

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Os erros do DCEU que o novo DCU não deve cometer

Reboot comandado por James Gunn e Peter Safran chega aos cinemas em 2025 com Superman: Legacy

Omelete
6 min de leitura
08.08.2023, às 19H04.
Atualizada em 09.08.2023, ÀS 10H26

Quando estrear em 2025, Superman: Legacy será o primeiro filme do novo DCU, universo compartilhado da DC Comics nos cinemas, produzido agora por um DC Studios reformulado e comandado por James Gunn e Peter Safran. A franquia, que talvez seja apresentada ao público já em 2024 com algumas produções televisivas, substituirá o DCEU, que encerrará seus 10 anos de altos e baixos em dezembro, com Aquaman and the Lost Kingdom.

Obviamente, nenhum fã da editora e de seus personagens quer ver a nova empreitada repetindo os erros da gestão Walter Hamada, que levaram a uma franquia absolutamente caótica e que passou a década praticamente à sombra da maior rival, a Marvel. Para não cair no mesmo buraco, é bom que Gunn e Safran evitem neste renascimento alguns erros que se custaram caro para o DCEU a longo prazo — confira abaixo:

Desrespeitar os cineastas

Sim, eu sou um grande crítico das filmografias de Zack Snyder e David Ayer, mas isso não quer dizer que concorde com a forma bizarra que a Warner tratou os diretores. Quando contratou os cineastas, o estúdio estava mais do que ciente dos caminhos que eles pretendiam seguir com seus filmes. Quando Batman v Superman — A Origem da Justiça não bateu a famigerada barreira do US$1 bilhão nas bilheterias, no entanto, o selo decidiu picotar Liga da Justiça e Esquadrão Suicida, entregando filmes menos que medíocres e que nada tinham a ver com a proposta mais sombria que alguns fãs da DC esperavam na época. Ainda que nenhum estúdio queira perder dinheiro, a escolha da Warner de afastar os diretores — inclusive se aproveitando de tragédias pessoais no caso de Snyder — e de liberar cortes completamente opostos às suas visões foi extremamente desrespeitosa e deveria deixar qualquer cineasta com o pé atrás antes de assinar com o estúdio.

Vale lembrar que esse desrespeito não parou com Snyder e Ayer. Recentemente, a nova administração da Warner decidiu engavetar Batgirl, de Adil El ArbiBilall Al Fallah, em mais uma decisão extremamente polêmica do estúdio, que descartou um trabalho de meses de atores, roteiristas, cineastas, maquiadores, figurinistas e mais.

Por ser um diretor mais autoral que alguns colegas do meio, Gunn entende a necessidade da liberdade criativa e, se tudo der certo, deve permitir que os cineastas que embarcarem no DCU mantenham um maior controle sobre suas produções — a não ser que elas estejam realmente “inlançáveis”.

Negar a essência dos quadrinhos

Os maiores personagens da DC estão aí já há oito décadas. Claro, eles passaram por muitas versões neste período, mas sempre se mantiveram fiéis a alguns conceitos básicos. O Superman tem uma fé inabalável na humanidade, o Batman não mata e abomina armas de fogo e a Mulher-Maravilha é uma agente da paz que só apela para força letal quando absolutamente necessário. Os primeiros dois filmes do DCEU, no entanto, já chegaram virando essas características completamente de ponta-cabeça, introduzindo versões pouco reconhecíveis desses heróis (e de alguns vilões) com a desculpa de desconstruí-los.

Ainda que tenha agradado uma parcela do público, essa abordagem passou longe de ser unanimidade. Tanto é que, já em 2016, a Warner entrou num modo de correção de curso, demitindo Snyder, refazendo quase todo o Esquadrão Suicida de Ayer e entregando, nos anos seguintes, dois filmões pipoca coloridos com Aquaman e Shazam!, que seguiam tons e tramas bem mais próximos dos gibis.

Por ser a porta de entrada de muitas pessoas para o mundo dos heróis, as próximas produções da DC fariam muito bem em abraçar os conceitos básicos e estabelecidos de seus maiores personagens, evitando um racha entre os fãs como o que acontece desde 2013. O Superman não é o Superman se não for um bom moço, assim como o Batman não é o Batman se sair matando bandidos a torto e a direito. Se for para apresentá-los a uma nova geração de leitores e espectadores, que seja da maneira correta.

Se prender a um único tom ou gênero

Outro elemento das HQs que se perdeu com os vários blockbusters de herói que invadem as telas mensalmente há anos é a variedade de tons e gêneros. O DCEU alienou alguns fãs por sua insistência inicial no “sombrio e realista”, que inclusive tirou a paleta coloridíssima das páginas, além de transformar suas primeiras produções em dramas pseudorreflexivos finalizados por terceiros atos cheios de ação incoerente. Já seus rivais do MCU vêm já há algum tempo lançando basicamente apenas aventuras bem-humoradas sem qualquer peso dramático, pelo menos desde Vingadores: Ultimato.

Gibis de herói trazem histórias de ação, mistério, romance, terror, ficção científica, faroeste e mais, algo que os quase 40 filmes conjuntos de DCEU e MCU nem ensaiaram fazer até o momento. Expandir os horizontes do que um filme de boneco pode trazer seria um primeiro passo importante para enterrar a discussão sacal de saturação do gênero.

Apressar grandes eventos

A visão míope da Warner no começo dos anos 2010 fez com que o estúdio tentasse correr atrás do sucesso de Vingadores e anunciasse, já como seu segundo filme, Batman v Superman. Inchado, o longa precisou desenvolver (e matar) Clark Kent (Henry Cavill), apresentar um novo Bruce Wayne (Ben Affleck) e introduzir os membros da nova Liga da Justiça. Essa bagunça não só não deu certo como ainda impediu a Warner de construir qualquer expectativa sobre a franquia, que já parecia não ter muito para onde ir após o lançamento do longa, em 2016.

Com um leque de personagens que inclui Flash, Lanterna Verde, Zatanna, Asa Noturna, Mulher-Gavião, Canário Negro, Caçador de Marte e tantos outros, o DCU tem a oportunidade de desenvolver vários heróis com calma em filmes e séries ao invés de juntá-los de forma apressada em uma única produção. Claro que todos queremos ver a Liga da Justiça, os Titãs e a Batfamília completa nas telonas, mas o ideal seria que seus membros fossem melhor explorados para que sua união signifique alguma coisa de fato para os fãs.

Queimar “clássicos” logo de cara

Antes mesmo de decolar de fato, o DCEU já tinha gastado dois dos quadrinhos de maior sucesso da DC: O Cavaleiro das Trevas e A Morte do Superman — o Azulão, aliás, morreu já em seu segundo filme, diminuindo o impacto da história de forma significativa. O recém-fracassado Flash passou pelas mãos de muitos diretores e roteiristas, mas todos vinham trabalhando em uma adaptação de Ponto de Ignição, HQ superestimada de Geoff Johns que levou ao reboot do universo da editora nos quadrinhos. Nas páginas, esses eventos funcionaram pelo apego que o público tinha com os personagens, algo que não existiu na versão dos cinemas.

Não tínhamos anos acompanhando as aventuras de Clark nem ao menos para simpatizar com a encarnação de Cavill, quem dirá sentir o peso de sua morte. O mesmo vale para o Batffleck: não temos nenhum envolvimento emocional com ele para empatizar com sua mudança radical de abordagem na luta contra o crime. Para funcionar, esses momentos precisam de um investimento bem maior por parte do público. Se não desenvolver os personagens e o contexto que leva a esses arcos considerados clássicos, o DCU apenas desperdiçaria essa segunda chance do selo no cinema, acumulando “filmes-evento” vazios de qualquer significado e que ficarão abaixo até das piores expectativas.

O melhor caminho, na minha modesta opinião, é permitir que diretores e roteiristas trabalhem em tramas originais ou arcos menores das HQs, garantindo que adaptações de títulos grandes sejam reservadas para momentos que impactem de verdade a franquia e que não serão desfeitos ou ignorados em seu próximo capítulo.

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