Filmes

Entrevista

Cowboys & Aliens | Omelete entrevista Harrison Ford

Uma conversa com um dos maiores ícones do cinema

06.09.2011, às 19H04.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H35

Entrevistar Harrison Ford é uma experiência surrealista. Não é muito fácil encarar nos olhos o Han Solo, Deckard e Indiana Jones e agir com naturalidade. Ainda mais ao se notar que o ator é tão parecido com os personagens que tornou icônicos no cinema. Meio rabugento, caladão e dono de uma voz imponente, Ford, porém, parecia extremamente à vontade no rancho em Montana onde foram realizadas as filmagens de Cowboys & Aliens. Conversamos com ele durante 25 minutos sobre o cinema atual, o interesse dele em interpretar papeis diferentes, Blade Runner e mais.

Cowboys and Aliens

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Os faroestes foram parte da sua formação?

Eu não ia muito ao cinema quando era pequeno e ainda não vou. Eu gosto de trabalhar nos filmes, mas não vou assisti-los. Então, acho que não tenho um faroeste favorito. Mas não gosto de escolher favoritos - tenho cinco filhos e não tenho um que prefiro. Gosto de variedades e mudança, não de ficar sempre na mesma coisa.

Participar de Cowboys & Aliens deve ter sido uma grande mudança.

Foi bom ter a oportunidade de interpretar um personagem secundário e poder ignorar as responsabilidades do protagonista. Poder criar um personagem que não precisa ser simpático à audiência. O público pode me odiar e isso não prejudica o filme.

Mas o seu personagem começa como um cara mal e sofre algumas mudanças.

Mudar é parte do que torna qualquer trama interessante. Queremos ver pessoas nas telas que afetam a história e sejam afetadas por ela. Uma das coisas que sempre penso quando estou tentando criar um personagem é qual é a utilidade desse personagem ao longo da história? Como posso ajudar a contar essa história? Essa é a maneira mais simples de descrever como tomo essas decisões. E em cada cena, cada diálogo, essa é a referência. "Como posso ajudar a contar a história? Já disse isso antes? Por que estou dizendo isso de novo? Vou procurar algo novo para incoporar à trama." E quando você funde seu personagem à história, isso te dá uma força muito maior.

Qual foi sua reação inicial quando ouvir falar sobre esse projeto e seu título - Cowboys & Aliens?

Eu vi o título, li as primeiras 30 páginas e aí liguei para o meu empresário e disse que nada ali me interessava. Aí ele me lembrou que uma vez eu havia pedido para que ele me colocasse em filmes que as pessoas fossem assistir. "Esse é o tipo de filme que as pessoas vão assistir hoje em dia", ele me respondeu. Então li o resto do roteiro e, realmente, é esse tipo de filme. Mas como não vou ao cinema, eu não tinha noção disso. Também não tinha a referência da HQ ou dessa parte do projeto. Se você ler o roteiro todo e não souber como aquela história será contada, se será uma comédia, uma aventura ou tiver alguma ambição mais séria, não dá pra realmente saber como o filme será. Então fui falar com Jon [Favreau] sobre isso, queria saber qual o tom que ele daria e se ele seria ambicioso o suficiente para controlar o tom. Conforme fui conversando com todos, fui tomando mais confiança na ideia. Descobri que o roteiro ainda estava em desenvolvimento, então algumas das perguntas que eu tinha sobre o personagem eram de coisas que eu ainda podia influenciar. Por fim, conheci Daniel [Craig], que já estava envolvido com o projeto desde o começo e estava disposto a abrir espaço para que meu personagem pudesse se desenvolver mais.

O que você levou ao projeto?

Eu não gosto de levar crédito quando o processo é colaborativo. Há muitas pessoas envolvidas. Não funciona assim. Se você tem uma ideia e o diretor gostar dela, isso é bom. Mas quando você traz à mesa uma boa ideia para aprimorar o resultado final, não é certo tomar posse de tudo.

É bem difícil entender hoje em dia o que o público realmente quer e que tipo de pessoas vão aos cinemas. O que você acha que mudou para que tudo isso acontecesse?

Bem, o grande problema é que não vamos mais aos cinemas. Crianças e adolescentes vão aos cinemas, mas os filmes têm cada vez mais vindo a nós. O público mais velho decidiu que agora eles preferem ficar em casa e alugar um DVD ou assistir pela TV paga ao invés de ir ao cinema. E ambos são mercados completamente diferentes, além de também serem experiências diferentes. Mas a virtude verdadeira de um filme é que você vá até uma sala especialmente construída, na qual eles desligam as luzes e aumentam o volume, para que você se sente com vários outros seres humanos e tenha um sentimento de comunidade. Você está em um contexto onde é incentivado a sentir a música, a história - tudo em uma comunidade. Isso te faz sentir humano. É aí que está a virtude de um cinema. Não dá pra replicar isso quando se está em casa e o botão de pause é usado para ir ao banheiro, dar uma passada na geladeira... Não é a mesma coisa. Foi isso que aconteceu ao mercado do cinema. Tudo isso além da divisão por idade, gênero - nichos em geral. É difícil fazer um filme que satisfaça os investidores.

Mas com toda essa dificuldade do mercado, você tem interesse em fazer filmes menores? Ou talvez uma série de TV?

Como eu estava dizendo, prefiro filmes que sejam exibidos em uma tela maior. Realmente acho que a grandiosidade faz uma tremenda diferença - como quando ouve uma orquestra tocando ou quando ouve um punhado de pessoas em uma festa de gala. Eu prefiro a orquestra.

Você descreveu o processo de ida ao cinema maravilhosamente bem, mas você mesmo disse que não costuma ir.

Não estou tentando fazer sentido. [risos] Estou apenas explicando a verdade! [risos] Eu faço outras coisas, tenho mais o que fazer. Mas quando vou ao cinema e o filme é bom, me divirto muito. Vou com meu filho de 10 anos para assistir filmes infantis. Eles são incríveis.

Você assiste aos seus filmes?

Sempre assisto aos meus filmes. É necessário. Não os assisto logo após a conclusão, mas durante o processo de produção. Assim, ainda posso alterar alguma coisa que não me agrade.

Mas você vai às premieres, não? Aí assiste seus filmes lá.

Não, não. Assim que as luzes se apagam, eu vou ao bar. [risos] Já vi aquilo 20 vezes. Provavelmente já até fiquei para uma sessão-teste, para saber a reação das pessoas.

Este filme fez alcançou as suas expectativas? Com tantos efeitos especiais...

Eu assisti ao filme em vários estágios da produção. Confiava muito nas expectativas e habilidades de Jon [Favreau] e as outras pessoas envolvidas. Achei que tínhamos uma boa chance. Já conhecia intimamente a parte cowboy do filme porque foi a primeira parte finalizada. Depois que foram adicionados os elementos visuais, como você disse. Então ainda não tinha muita certeza sobre a parte alienígena. Nessa época, não tem como saber como o público vai reagir, coisa que ainda não sabemos.

Mas você ligou para o seu empresário e disse que queria estar em filmes que as pessoas fossem assistir. Você sentiu que acabou perdendo contato com o mercado?

Não, eu apenas percebi que, com menos oportunidades, se eu quisesse continuar a trabalhar com 69 anos, tinha que estar disponível para esse tipo de filme também. O tipo de filme que uma audiência mais jovem gosta.

Tem muita gente falando sobre um novo filme do Blade Runner ou até em transformar tudo em um seriado e coisas do tipo. Como você se sente sobre isso?

Eu não sinto nada sobre isso. Foi uma parte interessante da minha vida profissional, fico feliz que tenha feito esse filme e que ele foi lançado depois sem aquela terrível narração. Mas não tenho noção se é realmente uma decisão inteligente revisitar a franquia. Penso que se for pra fazer... toda vez que me envolvo com algum filme que seja trabalhado como franquia, sempre senti que somos responsáveis por trazer algo novo aos personagens e à experiência pela qual a audiência vai passar. Se o filme é feito com a ambição e a ideia de trazer algo novo ao filme, talvez ele faça sucesso. Não me sentiria mal se não fosse convidado para voltar, eu entenderia que eles estão atrás de sangue novo para ser derramado. Eles também estão fazendo outro filme do Jack Ryan e eu não estou envolvido. É a vida.

Após tantos filmes, ainda há algum papel que você sente falta de ter interpretado e que deseja interpretar?

Tenho grande interesse em fazer algo que nunca fiz antes. Isso me anima. Esse é o primeiro vilão que interpreto. Ter a chance de interpretar papéis mais característicos é bem interessante para mim. Continuo trabalhando na indústria e gosto de pensar que sou uma espécie de artesão. Então, onde quer que eu seja útil e tenha a oportunidade de permanecer ocupado e ser desafiado - é ali que quero estar.

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Cowboys & Aliens estreia no Brasil em 9 de setembro. Acesse a página abaixo para nosso conteúdo exclusivo.

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