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Affonso Solano | O incompreendido Immortan Joe

“Eu peço tão pouco. Apenas me tema, me ame... Faça o que eu peço e serei seu escravo.” – Jareth, Reis dos Duendes

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19.05.2015, às 21H46.

Talvez o filme que mais tenha me influenciado na vida tenha sido  Labirinto - A Magia do Tempo. Através da fábula do gênio Jim Henson, estabeleci os parâmetros que viriam a me conquistar nos filmes, livros, videogames, quadrinhos e qualquer forma de narrativa que encontrasse no futuro. Cenários e criaturas precisavam fazer sentido – mesmo fantásticos. Personagens masculinos e femininos deviam possuir profundidade. O emprego da música enquanto ferramenta narrativa (falada ou não).

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E o vilão.

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Aproveitando-se de um conflito emocional da protagonista Sarah, Jareth, o Rei dos Duendes, sequestra seu irmãozinho Toby e o esconde no labirinto, ameaçando transformá-lo em uma de suas criaturas caso a jovem não o encontre em menos de treze horas.

Maligno, certo?

Não exatamente. Ao final da película, somos apresentados à versão dos fatos através dos olhos do antagonista:

Me devolva a criança”, ordenou a jovem. Ao seu redor, escadas e passarelas flutuavam em uma quebra-cabeças surreal.

Tenha cuidado, Sarah”, Jareth a alertou, se aproximando. “Eu fui generoso até agora. Posso ser cruel”.

Generoso?”, ela protestou, inclinando o rosto. “O que você fez de generoso?

Tudo!”, ele retrucou, irritado. “Tudo que você queria eu fiz. Me pediu que a criança fosse levada e eu a levei. Se acovardou diante de mim e eu fui assustador. Eu reordenei o tempo, virei o mundo de cabeça para baixo e fiz tudo por você, Sarah... Estou exausto de tanto tentar corresponder às suas expectativas. Isso não é ser generoso?”.

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Aos poucos, entendemos que o Rei dos Duendes ama Sarah. Sua paixão, contudo, é imatura por natureza, limitando-o a utilizar os recursos que conhece para impressioná-la e conquistá-la. E é nesta dinâmica que reside o ingrediente mais importante da construção de um bom “vilão”: o ponto de vista.

Observemos o novo Mad Max: Estrada da Fúria (2015). Sob a perspectiva distorcida de Immortan Joe, ele é simplesmente um homem em busca de suas propriedades roubadas. Sua lógica releva o fato de que as “propriedades” sejam serem humanos desesperados para se livrar de um tirano escravista e homicida, é claro, mas suas motivações – ainda que extremamente racionalizadas – o transformam em uma figura trágica; crível dentro de um mundo incrível. Crível e interessante. Quem é Immortan Joe? Por que precisa respirar por aquele aparelho? O que houve com seu corpo? Quem ele era antes de tudo? Um traficante? Um professor? Um padeiro?

"Cruzei oceanos de tempo para encontrá-la", diz o apaixonado Drácula para sua reencarnada Mina, antes que um bando de ignorantes de outro continente corte sua cabeça e estrague seu reencontro romântico.

Para Dolores Umbridge, a disciplina salvará vidas amanhã.

Ai”, pensa o tubarão tentando se alimentar enquanto o explodem em alto mar.

Sei que possuem boas intenções, mas vocês simplesmente não são capazes de racionalizar”, diz Ultron. “Só há um caminho para a paz: a sua extinção”.

Malditos ladrões!”, sussurra Gollum, protegendo seu tesouro precioso, cujo amor eles querem destruir.

Um grande homem disse uma vez que nossa inteligência é diretamente proporcional a nossa capacidade de enxergar diferentes pontos de vista. Seja na ficção ou realidade, compreender a raiz do mal parece ser um meio eficaz de impedi-lo.

Ou uma escopeta. Escopetas quase sempre resolvem.

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Affonso Solano é cocriador do Matando Robôs Gigantes, escritor do livro O Espadachim de Carvão e tem um canal no YouTube chamado Hora Super.

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