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Gay Nerd | Meia-Noite e a confiança de ser quem você é

O poder de um herói LGBTI nas páginas da DC Comics

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26.06.2015, às 16H23.

A repercussão do primeiro texto desta coluna aqui no Omelete me fez refletir sobre a responsabilidade que é estar na linha de frente de uma discussão a respeito de um novo momento para o site: o da representatividade. Falo da representatividade LGBTI no mundo nerd, neste mundo do entretenimento que tanto amamos. É importante termos este espaço para discutir os temas de nosso interesse e refletir o quanto estamos sendo representados na mídia e nos produtos de entretenimento que consumimos e amamos. 

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Omelete Recomenda

O teor dos comentários, negativos e positivos, só mostrou que esta coluna é realmente necessária para discutirmos o papel dos LGBTIs dentro deste mundo e o quanto devemos continuar falando sobre o assunto. É uma grande responsabilidade estar diante desta coluna, mas como prega o diálogo maroto de Homem-Aranha: com grandes poderes, surgem grandes responsabilidades.

Já que comecei falando de representatividade, nada melhor do que falar do Meia-Noite, um herói com inspiração no Sombra e no Batman que é um verdadeiro chutador de bundas, assassino e não tem vergonha de assumir sua homossexualidade para o mundo. Traduzindo em pajubá: a bicha ahaza e grita "tá achando que é bagunça?!".

Contextualizando, Meia-Noite nasceu na editora Wildstorm em 1998, incorporada posteriormente pela DC Comics, como membro do grupo Stormwatch, uma versão de grupos como Vingadores e Liga da Justiça. Nosso herói se diferenciou por ser uma versão do Batman que mata os vilões e ainda possui superpoderes. Além disso, Meia-Noite tem um relacionamento duradouro com outro membro do Stormwatch, Apolo. Os personagens foram uns dos primeiros heróis a assumirem a homossexualidade e protagonizaram discussões a respeito da representatividade de personagens LGBTI nas páginas da nona arte, inclusive apresentando o tema da adoção de filhos.

Desde 2011 Meia-Noite faz parte do mesmo universo que Batman e Superman, aparecendo brevemente na mais recente saga Fim dos Tempos (Future's End). Depois do evento Convergência, o personagem ganhou uma revista solo como parte da nova estratégia da DC Comics, com o selo DCYOU, para atrair novos leitores e criar histórias diferentes das que já lemos todos os meses. A trama desta nova revista começa depois que Meia-Noite, Lucas Trent, termina o relacionamento de 13 anos com Apolo e precisa descobrir o que significa ser o vigilante/herói que é, além de outros segredos que não vou citar por aqui para não estragar a surpresa da leitura.

O que surpreende na HQ é vermos um personagem confortável em sua pele, em sua trama, em sua existência. Lucas aceita a sexualidade naturalmente e leva a vida de forma normal, como deve ser. O roteiro de Steve Orlando retrata o personagem em sua habitual roupagem violenta, gráfica, mas agora com um estado de graça e aceitação. Elementos contemporâneos como o Grindr estão inseridos na trama, assim como encontros amorosos com direito a cena de sexo que fazem os mais pudicos ou defensores da família tradicional arregalarem os olhos.

Definitivamente não é um quadrinho para qualquer um, mas cumpre o seu papel de apresentar um protagonista que representa uma minoria, embora seu roteirista, Orlando, assumidamente bissexual, não pretenda fazer de Meia-Noite um porta-voz das causas LGBTI. Ainda assim, em entrevista ao CBR, Steve Orlando diz: "a confiança do personagem, a falta de vergonha de quem ele é e o que faz, é um componente vital. Dessa forma ele é, sem dúvida, um modelo a seguir, dizendo que você nunca deve mudar quem você é por causa de alguém. E eu acho que homossexuais, heterossexuais, trans, brancos, negros, não importa, nós aspiramos esse conceito. Nós todos queremos ser inflexivelmente fiéis a nós mesmos." Táhn, queridan?! 

Estamos carecas de saber que o entretenimento nos proporciona uma fuga saudável da realidade para outros mundos, onde coisas improváveis acontecem e nos permitem fantasiar, sorrir, chorar e viver a vida de outros personagens. Muitas histórias até servem para refletirmos sobre momentos de nossas vidas e da sociedade em que vivemos. Entretenimento também é reflexão, filosofia, militância.

A representatividade de personagens LGBTI neste mundo cumpre exatamente o papel da reflexão, de mostrar para os leitores que essas pessoas existem aos montes no mundo, são normais e precisam ser tratadas como tal. Há quem acredite que a inclusão destes personagens aumenta ainda mais a segregação. Balela. Vermos um Homem-Aranha negro, uma Thor Mulher, um Constantine bi e um herói gay são apenas pequenos espaços de representação, pequenas janelas que precisam existir em um mundo tão diverso.

Você deve estar se perguntando: por que raios a tal da representatividade é importante? Ela é uma espécie de performance, uma forma de mostrar ao mundo que existimos. É performance de gênero, de sexualidade. E no cerne da performance está a insistência, a repetição, o ritual para mostrar que sim, estamos presentes. É uma forma de afirmação de minoria, antes condicionada aos guetos, que ganha espaço no mainstream para divulgar suas ideias e filosofias. Se não aparecemos e mostramos que estamos no mundo, não há como existir o conceito de normalidade para aquilo que vai contra a maré dos conceitos já estabelecidos. Representação é, trocando em miúdos, o discurso que levo pra vida e enfatizei na coluna anterior: botar a cara no sol!

Por fim, a trama de Meia-Noite se sustenta com elementos de sci-fi e com os desenhos excelentes de ACO, mas deixa a desejar por ainda apresentar somente um homem gay. Isso não basta! Precisamos de mais personagens lésbicas, bis e trans nesta e em outras tramas. Ir além do óbvio, sabe? Representar melhor a diversidade do mundo LGBTI. Entretanto, embora com defeitos, o quadrinho mensal cumpre a necessidade que temos de mostrar ao mundo a belezura que é ser diferente, colorido ou, como Meia-Noite, fora dos padrões. É o que diversidade representa, não é? Há vida, amigxs! Há vida colorida lá fora. Viemos para representar, viemos para ficar. Um bayjo e um quayjo e até a próxima coluna! 

E você, conhece algum livro, seriado, quadrinho ou qualquer outro produto de entretenimento que tenha personagens LGBTI? Comente deixando sua sugestão e quem sabe vira tema da próxima coluna! 

P.S. 1: No dia 28 de junho é comemorado o Dia Internacional do Orgulho LGBTI. Holiday, celebrate!

P.S. 2: A Suprema Corte dos Estados Unidos aprovou hoje o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O direito é válido em todo o país e garantido pela Constituição! Vamos comemorar com a hashtag #LoveWins!

Adotamos a sigla LGBTI por ser a mais completa para se referir à diversidade de gênero e identidade sexual nos dias atuais. O T se refere a "TRANS" (travestis, transexuais e transgêneros) e o I a "Intersexual", pessoas com características de ambos os sexos e que podem se reconhecer como homem ou mulher, independente das características físicas. Esta definição é contribuição do leitor Vinícius.

*Gay Nerd é uma coluna quinzenal que mistura nerdices aos temas LGBTI


Isaque Criscuolo é editor do Imerso, nerd, adora um lipsync e acredita que menos é mais

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