CCXP22 | “Está difícil competir com a realidade”, dizem chargistas

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CCXP22 | “Está difícil competir com a realidade”, dizem chargistas

Mesa sobre humor gráfico teve papos sobre censura, fascismo, Bolsonaro e Lula

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1 min de leitura
07.12.2022, às 16H18.

“Achei que a gente vinha aqui reclamar do Bolsonaro”, disse Caco Galhardo em um momento da mesa Humor nos Tempos da Cólera, no sábado da CCXP22.

Além de Galhardo, estavam presentes Gilmar Machado, Galvão Bertazzi, André Dahmer e Quinho. A mediação foi da pesquisadora Laluña Machado.

Assim que puxou o assunto do atual presidente – apenas por mais um mês –, todos os chargistas comentaram o clima de irrealidade dos últimos quatro anos.

“Em 2019, eu resolvi que não ia mais fazer charge, porque não dava mais”, disse Galvão Bertazzi, autor da tira Vida Besta. “A capa da Folha ou do Estadão era piada pronta. Já era absurdo de um tamanho que eu não podia perder meu tempo repetindo. Ia ser colocar absurdo em cima de um absurdo que já era absurdo demais.” 

“Todos os dias eu falava: eu não dou conta do que acontece”, contou Gilmar Machado, autor de Sobrevivente do Caos. “Eu previ que aquele cara ia sair em seis meses. Depois, um ano. Todas minhas previsões morreram.”

“Eu recebi mais ameaças de morte por charge sobre futebol do que por charge sobre política”, disse Quinho, que lança Inominável na CCXP22. “As ameaças por futebol não são reais, são coisas que o cara só extravasa na hora. Na política, são reais.” O chargista disse que está grato por ter ido trabalhar em casa durante a pandemia e não ficar com medo de sair da redação do jornal tarde da noite.

André Dahmer, de Malvados, disse que, no início do mandato do presidente, recebeu uma mensagem do veterano cartunista Jaguar: “Você é um homem de sorte, Dahmer: é sempre bom ter uma ditadurazinha pra trabalhar melhor”, disse Dahmer, imitando a voz rouca de Jaguar. “Eu tive a minha.”

A conversa também passou por censura e como a reação imediata das redes sociais mudou o trabalho dos chargistas. Dahmer contou que, quando só publicava em jornal, às vezes ligavam para lhe dizer: “Deu uma merda: 16 pessoas reclamaram da sua tira. Hoje em dia, 16 pessoas reclamando nos comentários é quase um elogio. É até ruim: SÓ 16 pessoas reclamaram.”

“Com o tempo a gente aprende que o Instagram bloqueia quando você desenha umas pirocas”, disse Galvão Bertazzi.

Caco Galhardo, que também começou publicando só nos jornais, disse que viu a chegada da internet como momento para soltar tudo que não podia fazer no papel. “Eu podia falar de religião, por exemplo. Eu ia colocar todo meu lado B na internet. Mas aí a censura voltou, agora do próprio leitor.”

Houve perguntas sobre como seria o clima para piada e crítica com o novo governo. Os chargistas ainda não sabem. Mas Galhardo deu uma sugestão do clima pela frente: “O fascismo trouxe um emburrecimento geral. Todo mundo aqui ficou mais burro. Agora que o Lula ganhou eu até me sinto mais inteligente. Pelo simples fato de não ter que pensar no Bolsonaro.”

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