Marcelo D'Salete

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CCXP Worlds | De Akira ao Museu Afro Brasil, as influências de Marcelo D’Salete

Premiado quadrinista revela como formou sua bagagem cultural

Omelete
5 min de leitura
05.12.2020, às 21H10.

Quando se pensa em quadrinhos no Brasil, é fácil se lembrar do nome de Marcelo D’Salete. Com uma expressiva produção na última década, o quadrinista lançou grandes obras como Cumbe e Angola Janga, graphic novels que lhe renderam prêmios importantes como Eisner, Jabuti e HQ Mix. Em painel especial durante a CCXP Worlds, o autor revelou sua vasta gama de influências, que vão de seu período como office boy, passam por mangás clássicos como Akira e chegam ao Museu Afro Brasil.

Em bate-papo com Andreza Delgado, D’Salete revelou que veio de uma família simples que mesmo não-politizada discutia assuntos em casa. Seu aprendizado sobre questões políticas, sociais e seu papel como jovem negro na periferia veio a partir da arte. “Sempre estudando de certo modo arte, história e cultura afro-brasileira. Tentando pensar o Brasil à partir disso e compreendendo que a gente não o entende sem compreender essa experiência diaspórica afro-brasileira aqui. Isso é essencial, e a minha obra reflete um pouco dessa experiência”.

Marcelo D’Salete citou também o período em que trabalhou como office boy como um fator importante para sua formação, já que criou um arcabouço de experiências que acabou culminando na realização desses trabalhos. Os dois primeiros livros, Noite Luz e Encruzilhada partiram muito de uma experiência minha no centro de São Paulo como office boy e outras coisas - jovem negro no centro da cidade -, partiu muito também do meu apreço pelo cinema, pelo que eu estava estudando sobre roteiro e cinema naquele período, mas com vontade de falar de histórias que estavam próximos de mim”.

Esses projetos eram muito pessoais, que fiz de uma forma muito despretensiosa. Realmente por gostar da mídia de quadrinhos, por uma forma incrível de contar histórias e porque era o veículo - artisticamente falando - que eu dominava alguma coisa. Então fico muito feliz por isso, relembra.

Além da vivência diária, Marcelo D’Salete citou também a importância dos cursos que fez em ETECs e faculdades, além do acesso a bibliotecas públicas, onde teve acesso a muitas obras que não conheceria se não fossem por esses espaços. Dentre um dos mais importantes, ele citou o acervo do Museu Afro Brasil, que surgiu durante sua graduação. Quando comecei a fazer o Angola Janga e o Cumbe, precisei dar uma reviravolta no que eu entendia e estudava para me aprofundar no Brasil do século XVII. E aí, claro, muitas bibliotecas e o Museu Afro Brasil foram essenciais para isso. Tanto pelos livros, mas também pela parte iconográfica do museu”.

Mais para o fim da conversa, D’Salete voltou a falar de suas influências ao revelar o que aprendeu com mangás clássicos. “Akira foi uma leitura essencial para a minha trajetória. A forma como o mangá conta histórias, geralmente com uma imersão muito grande. Você vê a história a partir do personagem, não é tanto pelo narrador, você realmente entra na narrativa e isso me chamou muita atenção. Akira, Preto e Branco [de Taiyō Matsumoto] e outros quadrinhos”. 

Pensando a representatividade

Um dos assuntos mais debatidos nos últimos anos é a representatividade, tema que se torna cada vez mais relevante também para a cultura pop. Na opinião de Marcelo D’Salete é fundamental ter diferentes vozes para contar novas histórias: “considero que é muito importante ter autores negros em diferentes instâncias - tanto quadrinhos, literatura, cinema e outras áreas, - mas é muito importante também a gente fomentar o debate sobre o tipo de visão, sobre essa história, que a gente acaba desenvolvendo com esas obras”.

Para o autor, mais do que representatividade é necessário ter responsabilidade. No sentido de que ter apenas uma cara preta ali a mais, se você não tem algo alinhado com a sua trajetória, com a periferia, com os grupos historicamente marginalizados, você somente vai ser uma outra cara preta para oprimir as pessoas que fizeram parte da sua trajetória. Acho muito importante que a gente faça essa discussão.”

D’Salete relembrou que a associação de pessoas contra os interesses do grupo em que pertencem é uma questão histórica que vem desde a época em que o Brasil ainda era uma colônia, mas é importante ter cuidado e responsabilidade. “A gente precisa compreender que algumas associações são contra os interesses históricos de determinados grupos periféricos e marginalizados nessa história. Tem que ter muito cuidado”. A saída para prevenir questões como essas estão ligadas ao compartilhamento de informações: “Pensar em debates para fortalecer essas pessoas que estão fazendo esse debate na base, na periferia, e dentro desses grupos orgânicos, periféricos e etc.

Indicações de leitura por Marcelo D’Salete

Questionado sobre quais HQs anda lendo, D’Salete afirmou que a cena nacional de quadrinhos é enorme e que certamente acabaria esquecendo de alguém. Porém, dentre suas indicações ele citou a obra de Marcello Quintanilha; Carolina, biografia em quadrinhos da escritora Carolina Maria de Jesus criada por João Pinheiro e Sirlene Barbosa; Couro de Gato, de Carlos Patati e João Sánchez; e Beco do Rosário, de Ana Luiza Koehler.

A CCXP Worlds: A Journey of Hope, primeira edição 100% digital do maior evento de cultura pop do mundo, acontece entre os dias 4 e 6 de dezembro de 2020. Os ingressos gratuitos e os pacotes especiais, que dão direito a atrações e brindes exclusivos, estão disponíveis no site www.ccxp.com.br.

Neste sábado (5), a Amazon apresenta as novas séries The Wilds e Invincible, além da quinta temporada de The Expanse, os diretores Anthony e Joe Russo falam de seus próximos trabalhos depois de Vingadores, e Jessica Chastain traz seu novo filme, As Agentes 355. No lado dos quadrinhos, é o dia de nomes como Garth Ennis e Kelly Sue DeConnick, além de novidades da Turma da Mônica e do evento DC Future State.

Quem perdeu alguma coisa ou quer rever os melhores momentos pode acessar os vídeos on demand, que serão disponibilizados na plataforma em até 24 horas depois da exibição ao vivo e ficam no ar até o dia 13 de dezembro.

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