Vi e Jinx em Arcane

Créditos da imagem: Divulgação/Netflix

Arcane

Artigo

Surpreendente estreia de Arcane enriquece o universo de League of Legends

Personagens bem escolhidos, visual deslumbrante e história ágil fazem da adaptação do game uma opção para todo tipo de público.

08.11.2021, às 09H45.
Atualizada em 08.11.2021, ÀS 10H33

O jogo League of Legends foi lançado no ano de 2009 e em 2012 já era um dos maiores fenômenos entre o público que se sente atraído por essa personificação, em que o jogador assume um personagem e joga contra o próprio jogo ou contra outros jogadores, online, assumindo uma evolução dentro do que está planejado para o personagem e para os universos em que eles estão inseridos. Sendo assim, há uma quantidade imensa de detalhes que constituem a rotina dos jogadores, mas que não são necessárias para que a série Arcane alcance metas mais abrangentes.

Em universos fantásticos há sempre um background que ajuda a situar o espectador dentro da adaptação. Talvez a grande popularidade do jogo tenha feito com que a Riot Games e a Netflix tenham achado que esse “prólogo” não era necessário. Mas, entender onde a trama está situada através de uma narração ou da clássica legenda que passa pelo meio da tela pode ajudar a estabelecer um envolvimento mais imediato. Contudo, Arcane tem um objetivo maior: envolver você desde o primeiro minuto com um visual impressionante e um texto afiado, rebelde, provocador.

Mesmo assim, vale lembrar que Arcane se passa num momento anterior ao que o jogo ficou conhecido. É uma espécie de prequel, que permite conhecer mais detalhes sobre o que já existia e inserir novos elementos que não afetem o que os fãs já conhecem do jogo. Assim, a série explora a diferença socioeconômica entre duas cidades: Piltover é a parte “rica”, desenvolvida, conhecida como Cidade do Progresso; e Zaun é a periferia, subterrânea, que abriga, como é comum nesse tipo de dramaturgia, os personagens que buscam o mínimo de senso de igualdade.

Além disso, ciência e a magia são parte importante da narrativa, já que é através da junção dessas duas coisas que a parte rica, Piltover, mantém sua hegemonia. A palavra “arcano”, que se refere a um mistério, a algo realmente imperscrutável, está no centro das tensões entre as duas cidades. E é claro que sem perder os elementos humanos disso. As irmãs Violet e Powder circulam entre os dois pólos até que um evento traumático as separa. E aí que Powder ressurge como Jinx, uma das preferidas dos jogadores de LoL, que mesmo vindo do mesmo lugar de opressão da irmã, se tornará inimiga dela.

O Arcano dos Resultados

Toda essa esteira narrativa não vem de uma hora para outra. Um dos grandes acertos da série foi não ter cedido ao impulso de dar aos fãs a presença de Jinx como prioridade imediata. Piltover e Zaun são apresentadas como se deve, como mais um exemplo do quanto as diferenças econômicas acumulam pressões em ambos os lados dessa moeda. Em Piltover há uma paranoia sobre quem está no subterrâneo, enquanto em Zaun não se pára de pensar em como melhorar as próprias condições de vida atacando a superfície. Em animações onde o colorido e a ação são grande parte do apelo, costuma ser difícil incutir a base da trama sem distrair o espectador. Em Arcane isso não acontece.

Os episódios se organizaram de maneira inteligente, sempre começando com a ilustração das motivações ou emoções de algum personagem, criando um clima emocional, eloquente, que vai crescendo e quase sempre termina com uma sequência visualmente impactante e regada de música pop, como se costuma ver no material excelente que a Riot disponibiliza no YouTube. Há personagens que o público já conhece (e que serão capitãs) e personagens criados para embasar o futuro. Vander, por exemplo, funciona como um tutor das irmãs e causa imediata empatia; e Silco, por outro lado, existe para sustentar e explicar parte do que os fãs ainda não sabiam sobre Jinx. Nem Vander e nem Silco existem no jogo, mas as presenças deles ali estão em total concordância com os objetivos e trajetórias da série.

O mais importante acerca desses primeiros episódios é que eles impressionam por honrar a origem, seduzir novos espectadores e sustentar uma marca com muito drama, ação e um ótimo texto. Ao contrário do que geralmente acontece, uma coisa não compensa a deficiência da outra; elas se complementam, usando com sabedoria aqueles códigos recorrentes que muitas vezes fazem a história de  se aproximar de um filme de super-heróis. Os clichês estão na espinha da produção, mas há uma extrema elegância e inteligência na forma como eles são usados.

Com os primeiros episódios já disponíveis na Netflix, Arcane tem tudo nas mãos para se tornar um sucesso tão grande quanto o do game de onde se originou. Em seus diálogos, a série fala constantemente sobre responsabilidade (pelo povo, pela magia, pela ciência, por outras pessoas) e parece reconhecer em si mesma o significado dessa palavra.

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