The Witch From Mercury | O Gundam ideal para você conhecer a franquia

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The Witch From Mercury | O Gundam ideal para você conhecer a franquia

Após tramas políticas, garotos shippáveis e propaganda de brinquedos, a franquia Gundam ganhou uma série que vai te ensinar a gostar de robôs gigantes

Omelete
8 min de leitura
21.06.2023, às 11H31.

Não sei qual foi a falha no meu processo de introdução ao meio otaku, mas nunca consegui curtir séries de robôs gigantes como a franquia Gundam. Até curto alguns animes nos quais os mechas - que é como são chamados esses trambolhões de aço - têm menos importância, mas os conflitos políticos e combates de mísseis comuns no universo Gundam sempre me afastaram. E foi com todos esses pés atrás que tentei novamente me aproximar da franquia com Mobile Suit Gundam: The Witch From Mercury... e dessa vez alguma coisa clicou comigo.

Para quem não conhece, Gundam é apenas a mais importante franquia de robôs gigantes do Japão. Criada por Yoshiyuki Tomino em 1979 e produzida pelo estúdio Sunrise, a primeira série da franquia foi responsável por criar todos os principais elementos que seriam considerados fundamentais para qualquer bom anime de robô gigante nas décadas seguintes.

Claro, o Gundam de 1979 não é o primeiro anime de robôs gigantes, mas com certeza é o mais influente. Na verdade, o primeiro passo de toneladas foi dado por Tetsujin 28-yo, anime em preto e branco lançado no Japão em 1963, adaptando o mangá homônimo. E mesmo Tetsujin 28-yo está longe de ser a primeira história de robô gigante porque já existiam mangás com esse tema. Após esta série tivemos outras franquias muito importantes nascendo como Mazinger Z (de 1972), Getter Robo (de 1974) e Groiser X: O Pirata do Espaço (de 1976), cada um introduzindo um elemento diferente ao gênero.

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Mas Gundam se tornou algo muito grande e pioneiro de certa forma. Enquanto outros animes criavam super robôs gigantescos com fontes de energia infinita, a franquia Mobile Suit Gundam adicionou uma pitada de realidade (na medida do possível, claro). Limitações de bateria e munição, engenharia mais verossímil e questões tecnológicas e políticas foram inseridas na primeira série de Gundam e retornadas em futuras iterações após o sucesso dessa série no final dos anos 1970.

Como é de se esperar, a franquia teve seus altos e baixos de popularidade. Após algumas séries televisivas e até um longa metragem nos anos 1980, a franquia Gundam focou no nicho, lançando séries exclusivas para vídeo, com circulação mais limitada. Mas após o lançamento de Mobile Suit Victory Gundam e Mobile Fighter G Gundam no começo dos anos 1990, a franquia da Sunrise fez um movimento mercadológico que marcou um novo passo para popularizar a franquia, a criação da série Gundam Wing.

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Para quem viveu o mundo otaku no final dos anos 1990 e começo dos anos 2000 com certeza esbarrou em algum material deste anime. Qualquer evento que se circulava encontrávamos cosplayers dos pilotos, exibições de episódios em salas temáticas e o clássico “Just Communication” tocando a cada 40 minutos. Gundam Wing manteve os principais elementos da franquia, como a questão política e os conflitos entre aliados e inimigos, mas adicionou algo que estava bombando naquela década: boybands. Ou quase isso.

Com a proposta diferentona de trazer um anime protagonizado por 5 personagens, Gundam Wing apresentou a franquia para uma nova geração de otakus que agora podiam não só acompanhar as tretas espaciais como também shippar qual que era o piloto de mobile suit mais gatinho. E o visual dos cinco protagonistas seguiu a cartilha dos animes do momento, um prato cheio para atingir uma demografia feminina. O resultado deu super certo e Gundam Wing conquistou muitos países, inclusive o Brasil, onde foi exibido no Cartoon Network no começo dos anos 2000. A nossa TV aberta não embarcou nesse robô, infelizmente, mas o canal pago exibiu todos os episódios e até os OVAs de Gundam Wing, assim como a editora Panini lançou o mangá completo por aqui na época.

Esse artigo não tem compromisso de recontar toda a trajetória da franquia porque isso daria pano para umas 10 matérias sequenciais, mas vale mencionar que Gundam é uma franquia de muitas possibilidades, se permitindo moldar de acordo com os temas de maior sucesso entre os otakus de cada época. Então ao mesmo tempo que os fãs do estilão clássico são contemplados com histórias densas e batalhas espaciais ferozes, Gundam ainda oferece espaço para experimentar e focar em outros públicos em suas séries derivadas. Um exemplo é a série Gundam Build Fighters, focada num público mais novo e protagonizada por crianças que brincam com Gundams em miniatura, uma espécie de Medabots ainda mais armamentista.

A bruxinha de Mercúrio

Mas onde se encaixa The Witch from Mercury, a mais recente série da franquia? É necessário ter assistido às trocentas séries anteriores para entender onde esta se encaixa? Felizmente a resposta é não. Podemos dizer que o anime que estreou em 2022 funciona tanto como uma porta de entrada para quem não conhece nada de Gundam quanto um terreno familiar para antigos fãs. Calma, a gente explica.

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The Witch From Mercury começa quando a jovem Suletta Mercury chega para estudar na Escola de Tecnologia Asticassia, fundada por uma empresa especializada nos tais dos mobile suits (robôs gigantes humanoides usados para combates). Um pouco tímida e atrapalhada, Suletta acaba caindo no meio de uma treta envolvendo a jovem burguesa Miorine Rembran e o então líder dos estudantes Guel Jeturk. Suletta e seu Gundam Aerial enfrentam o playboyzinho e, com a vitória, a protagonista acaba conquistando um prêmio inesperado, a mão de Miorine. E agora essas duas noivinhas vão passar por várias experiências escolares, enfrentando outros desafetos e aprendendo a cuidar melhor de seus robôs gigantes.

Mas não pense que The Witch From Mercury escapa totalmente das discussões políticas. Muito rapidamente aprendemos que este universo é comandado por empresas, e cada uma tem seus respectivos herdeiros estudando na Academia. Ou seja, enquanto acompanhamos a vida escolar de Suletta e os demais, também vemos os conflitos dos jovens repercutindo no mundo corporativo, como se eles utilizassem os adolescentes para resolver suas pendências e concorrências externas.

Por colocar um elenco jovem em uma ambientação escolar, Gundam: The Witch From Mercury introduz os temas comuns da série de forma bem mais palatável e fácil de compreender. Ainda estão lá todos os debates políticos comuns à franquia, mas espaçados entre cenas de Miorine plantando tomates ou de brigas e sabotagens de alunos durante avaliações da escola. O ambiente educativo também tem suas próprias questões de convivência, com uma rixa histórica entre os terráqueos e os “espacianos”, pessoas que nasceram fora do nosso planeta.

Por não ser tão chegado na complexidade das histórias de animes de mecha, essa divisão entre trama política/trama escolar de The Witch From Mercury caiu como uma luva para alguém como eu. Além disso, não podemos ignorar o carisma enorme do elenco de personagens, capaz de proporcionar cenas muito engraçadas ou dramas bastante comoventes. As personalidades dos alunos da escola trazem muitos clichês adoráveis para quem curte histórias de ambientação escolar, estão lá o nerd sabe tudo, a garota encrenqueira, o herdeiro sem noção e por aí vai.

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A própria Suletta é uma das raras protagonistas de animes com quem podemos nos afeiçoar em poucos minutos, e seu contraste com a personalidade mais afiada de Miorine torna aquelas duas algo encantador de se assistir. Além disso, o relacionamento do casal improvável rapidamente foi abraçado pelos fãs LGBTQIAP+, e as duas logo foram projetadas a ícones da diversidade na franquia Gundam. O impacto da personagem é tão grande que recentemente viralizou uma foto de uma Parada do Orgulho LGBTQIAP+ na Polônia e era possível ver ao fundo uma placa com a imagem da protagonista de The Witch From Mercury acompanhada do texto "ame todo mundo, mas especialmente Suletta Mercury, a melhor garota!!".

E The Witch From Mercury faz tudo muito bem feito. As cenas de luta não são apenas muito bonitas de se assistir, mas com boas coreografias e uma música que amplifica a emoção de cada cena. A construção de relacionamento entre os personagens, a forma como eles vão ganhando profundidade a cada capítulo, é algo bastante engenhoso, mérito do roteirista Ichiro Okouchi. Experiência é o que não falta para o escritor, que já esteve envolvido em outros muito projetos que remetem a Gundam, como a criação de Code Geass e até mesmo a autoria de light novels de Martian Sucessor Nadesico e Revolutionary Girl Utena (série que traz muitas outras semelhanças ao The Witch from Mercury, para a alegria dos otakus com mais tempo de carreira).

Por ter conseguido pegar elementos dos animes atuais de sucesso e encaixar nesse universo Gundam, The Witch From Mercury se tornou a porta de entrada perfeita para a franquia. E o resultado parece ter valido a pena, já que o último relatório da Bandai Namco revelou um aumento de 2 bilhões de ienes (uns 73 milhões de reais) nos lucros de Gundam, tudo graças ao sucesso de Sulettinha. E com mais projetos vindo aí, até mesmo um filme em live-action da Netflix, podemos esperar que o mundo todo logo será tomado por esses robôs gigantes.

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Onde assistir?

Caso tenha se interessado por Mobile Suit Gundam: The Witch From Mercury, saiba que a série está sendo lançada semanalmente pela Crunchyroll, com legendas em português. Vale destacar que a primeira metade da temporada foi recentemente disponibilizada com dublagem em português, inclusive do episódio piloto que introduz a ambientação da série.

Já assistiu às aventuras de Suletta e agora quer se aprofundar no universo Gundam? Aí tem muita opção para você, pois diversas séries estão disponíveis na Crunchyroll, como Mobile Suit Gundam 79, Gundam Wing, Gundam ZZ e muito mais. Também há coisa para assistir na Netflix, como Mobile Suit Gundam: Iron-Blooded Orphans e Mobile Suit Gundam Hathaway.

Atualmente, o gênero de robôs gigantes está consolidado, e repleto de opções que vão de variações dos temas de Gundam a séries que utilizam robôs gigantes apenas como desculpa para contar outro tipo de história, como é o caso de Neon Genesis Evangelion. Não duvido que The Witch From Mercury seja capaz de abrir caminho para uma nova legião de otakus, que agora poderão ser apresentados a Code Geass, Tengen Toppa Gurren Lagann, SSSS Gridman e Darling in the FranXX (só que este é melhor ignorar). E sejamos todos bem vindos ao mundinho dos robôs gigantes!

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