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The Walking Dead | Centésimo episódio balanceia explosões e discursos motivacionais

"Mercy" é divertido, mas apresenta linha temporal confusa

23.10.2017, às 00H01.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H48

A oitava temporada de The Walking Dead retornou sem se aguentar nas pernas tamanho era o peso das expectativas depositadas em seus ombros. Pudera: não foi uma, nem duas, nem três vezes que os produtores e os atores da série alimentaram o hype sobre os novos episódios, que finalmente trariam a fatídica e tão esperada grande guerra entre os seguidores de Rick Grimes (Andrew Lincoln) e os Salvadores de Negan (Jeffrey Dean Morgan). Bem, a guerra de fato começou em "Mercy", mas o foco ficou mais voltado para mostrar a preparação, tanto moral quanto estratégica, dos envolvidos do que em adiantar o confronto propriamente dito.

Talvez por frases como "acho que teremos dez explosões por episódio; toda hora tem alguém atirando em alguma coisa ou explodindo algo", dita pelo produtor Scott Gimple, muita gente estivesse esperando uma sequência interminável de ação - o que não aconteceu, mas também não foi exatamente o problema. O primeiro episódio do oitavo ano soube balancear bem as sequências de ação e as partes mais tranquilas. Houve sim muito barulho - destaque para o divertido trecho de Daryl (Norman Reedus) explodindo coisas pela estrada - em quantidade suficiente para não eclipsar totalmente o excesso de cenas que giravam ao redor de discursos motivacionais. Maggie (Lauren Cohan), Ezekiel (Khary Payton), Negan e Rick tiveram seus momentos de palanque - só o ex-xerife teve uns três.

Mas, em relação a isso, não houve exatamente um problema: ao contrário do que se viu no último ano, foi um episódio satisfatoriamente dinâmico do ponto de vista de ação. A principal falha do episódio, na verdade, foi a linha temporal confusa. Os fãs de The Walking Dead ficaram bastante curiosos sobre o Rick de barba representar o salto temporal que é visto nos quadrinhos e que sucede o encerramento da guerra conta Negan - leia mais sobre isso aqui. Contudo, a forma como as cenas desse flashforward foram inseridas não serviram para nada além de gerar confusão - e, é claro, apresentar finalmente uma versão mais crescida para Judith, que continua sendo um bebê ao passo que seu irmão já está da altura do pai deles. A própria sequência de Rick e Carl (Chandler Riggs) no posto de gasolina, por mais que possa se revelar importante no futuro, ficou mal encaixada no capítulo

Outra coisa que chamou atenção é a total falta de justificativa para os lapsos de diplomacia entre inimigos em The Walking Dead. É simplesmente inconcebível que Negan fique absolutamente vulnerável, na mira de dezenas de armas e todo mundo resolva esperar para agir até que ele termine mais um dos seus discursos que, convenhamos, eram divertidos logo quando o personagem surgiu mas, a essa altura do campeonato, soam apenas irritantes - só faz parecer mais inverossímil ainda que ninguém dê um tiro na cabeça do vilão só pelo prazer de fazer ele ficar quieto.

Aliás, sobre Negan e os Salvadores, uma coisa ficou nebulosa: eles realmente não pensaram que seriam atacados? Em momento nenhum o episódio mostrou o time de vilões se preparando minimamente para a obviedade de uma guerra anunciada no fim da sétima temporada. Alguém com tantas cartas na manga como Negan - não esqueçamos que foi ele que plantou inimigos escondidos na sombra de Rick ao cooptar Jadis (Pollyanna McIntosh) e seu bando bem recentemente - bobear desse jeito não condiz tão bem com a construção do personagem como não apenas um sádico desagradável, mas também um estrategista.

Por outro lado, o episódio serviu para legitimar lideranças de forma mais desenhada - em especial no caso de Maggie. O diálogo entre a viúva de Glenn (Steven Yeun) e Rick foi um momento bacana do episódio, mostrando claramente a evolução de dois dos personagens mais éticos e corajosos da série. Há uma clara tentativa também de aproveitar melhor personagens negligenciados até agora - essa tendência, aliás, começou no ano anterior, com Sasha (Sonequa Martin-Green) e parece continuar com o intragável Gabriel (Seth Gilliam) e o vilão Gregory (Xander Berkeley).

Uma coisa ficou clara em "Mercy": se os fãs tinham esperança de ver a história andar mais rápido do que nos últimos anos, podem esquecer. Se o primeiro episódio da oitava temporada for um reflexo do novo ano como um todo, a guerra contra Negan ainda vai durar um bom tempo. Mas, pelo menos, os produtores estão atentos que a morosidade do sétimo ano não agrada o público - o primeiro episódio, por mais que não tenha avançado tanto na história, não foi entediante e já se sabe que não haverá mais aquela tão conhecida sequência de capítulos inteiros focados em um só personagem. Ainda que a experiência diga o contrário, é preciso dar um voto de confiança para a série. Se as críticas dos espectadores foram de fato ouvidas, pode ser que venha por aí uma boa - nem ruim, nem ótima - remessa de episódios.

O próximo capítulo de The Walking Dead vai ao ar em 29 de outubro. No Brasil, o canal pago Fox se encarrega da transmissão.