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The Last of Us: Saiba a história triste de Bill e Frank no jogo

Ao contrário da série, a história dos dois não tem um final feliz

30.01.2023, às 18H45.

O terceiro episódio de The Last of Us estreou essa semana e já gerou vários memes e lágrimas dos fãs - até os do game da Naughty Dog foram pegos de surpresa. Isso porque a história de Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett) foi bastante alterada para se encaixar na mensagem que a HBO quer passar com a série.

Saiba quais são as diferenças entre a série e o jogo da PlayStation.

AVISO: Os próximos parágrafos contêm spoilers tanto da adaptação quanto do game! São também mencionados temas sensíveis, como suicídio.

SEMELHANÇAS

HBO Max / Naughty Dog

A caracterização de Offerman ficou bastante parecida com Bill do jogo, com o penteado, barba e o fato de ele estar constantemente armado para o que der e vier. A série consegue enriquecer mais o personagem ao mostrar ele mais ligado ao sobrevivencialismo (estilo de vida que prepara a pessoa para situações de emergência) e mostrando que ele é ligado a uma filosofia exibindo a bandeira de Gadsden (utilizada como símbolo do liberalismo clássico e ligada aos movimentos de extrema-direita).

Assim como no jogo, o Bill de Offerman é bastante metódico, individualista e pouco flexível, mas é o seu mecanismo de sobrevivência. Ambos têm um território para chamar de seu, a diferença seria o cenário: no game da PlayStation, Bill tem a cidade de Lincoln em um ambiente mais urbano com prédios, enquanto no seriado há um ar mais cidade do interior, com casas e um território mais limitado de dominar - o que seria mais plausível.

E FRANK?

HBO Max/Reprodução

No game, o relacionamento entre Bill e Frank é dito num tom mais tímido, mas o motivo é mais trágico em relação à adaptação. No jogo, quando Ellie e Joel chegam na cidade, eles precisam passar por corredores e armadilhas espalhadas por Bill até chegar onde está o próprio. Em um determinado momento, Bill menciona de forma amena que tinha um parceiro chamado Frank - sendo apenas os dois únicos sobreviventes da cidade - e que eles tiveram uma desavença e ele sumiu. A conversa tem o mesmo tom de “precisar de alguém para proteger”, mas mais sombrio:

“Uma vez, eu tinha alguém com quem me importava. Foi um parceiro. Alguém de quem eu precisava cuidar. E neste mundo, esse tipo de merda serve para uma coisa: matar você.”; disse Bill para Joel.

Até esse momento, o jogo deixa dúbio o relacionamento entre os dois, pois também poderia ser interpretado como parceiros de contrabando. Mas isso cai quando encontramos Frank, embora não como imaginamos.

No jogo, Joel, Ellie e Bill vão até um colégio onde havia um carro militar abandonado há pouco tempo, mas chegando lá eles notam que a bateria foi roubada. Nisso, surge uma horda de infectados e eles fogem do local até se abrigarem em uma casa. Dentro do lugar, eles descobrem o corpo de Frank, pendurado em uma corda.

No jogo, Bill encontra Frank morto enforcado. Imagem: Naughty Dog / Reprodução

Ao lado do cadáver, há um bilhete de Frank para Bill. Nele, ele conta que Frank odiava profundamente Bill por conta de seus métodos e decidiu se separar. Seu plano era ir para a Zona de Quarentena, em Boston, e ele foi em busca de suprimentos e da bateria no carro militar, mas acabou sendo mordido por infectados. Para não virar mais um, Frank decide tirar a própria vida se enforcando.

“Acho que você estava certo. Tentar deixar esta cidade vai me matar. Ainda melhor do que passar mais um dia com você”; diz o bilhete. Bill se mostra abalado por ver o ex-parceiro morto, mas tenta parecer forte para Joel.

Por fim, Joel e Ellie seguem o seu caminho para levar a carga viva para os Vagalumes, enquanto Bill termina sua jornada sozinho, em uma cidade infestada de infectados.

VALEU A PENA A MUDANÇA?

HBO Max/Divulgação

Na narrativa do jogo, a história de Bill e Frank é um alerta para Joel tomar cuidado ao se relacionar, pois nem sempre há um final feliz nas relações. Já a série quis ir para um caminho oposto, mas que fizesse sentido para a trama da TV e a mensagem que querem passar para os dois protagonistas.

O Bill da série é uma pessoa rígida, que sempre priorizou a si mesmo antes da humanidade mesmo no momento de sobrevivência. Mas foi com Frank, com sua maneira oposta de ver o mundo e de confiar nos outros, que Bill se desarmou para mostrar e se permitir vulnerável em um mundo hostil aos humanos.

Além de apresentar um romance LGBT+, a série mostrou que é possível cultivar o amor e cuidado mesmo no solo mais impróprio (ou infectado) e na pessoa mais frígida - como na cena da colheita de morangos, que carrega a metáfora tão certeira. Por fim, Bill escreve para Joel na carta de despedida:

"Eu odiava o mundo, e fiquei feliz quando todos morreram. Mas eu estava errado, porque tinha uma pessoa que valia a pena salvar"

Essa mudança é importante para reforçar tanto o terceiro e último arco do capítulo como a frase de Tess pedindo para Joel cuidar de Ellie: “Salve quem você pode salvar”.

Em entrevista, Neil Druckmann, criador do jogo e produtor executivo da série, revelou que no começo não queria mudar a história dos personagens. Porém, com o trabalho de Craig Mazin, showrunner da adaptação, ele se sentiu mais à vontade para a mudanç. "Foi tão bonito e comovente e meio que atingiu o alvo no que diz respeito a falar sobre os temas e aumentar as apostas para Joel e Ellie de uma maneira interessante. Mesmo que estejamos nos desviando tanto, me senti completamente à vontade para dizer: 'Com certeza, vamos fazer isso. Essa é uma ótima ideia.'"

Como uma pessoa que jogou The Last of Us, posso dizer que não me fez falta a narrativa de Bill e Frank do jogo para a série. Sem hesitação, a série da HBO vem conseguindo provar que é uma adaptação capaz agradar tanto os fãs que têm carinho pelo jogo, com cenas e diálogos e, ao mesmo tempo, alterar elementos do roteiro e que façam sentido para o formato - agradando fãs e não-fãs do jogo, o que é um feito raro.