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Séries e TV
Entrevista

“A comida é o nosso gore”: Como Servant criou os pratos menos apetitosos da TV

“O livro de receitas de Sean não seria um best-seller”, brinca Toby Kebbell

4 min de leitura
CC
14.01.2023, às 06H00.
Atualizada em 31.08.2023, ÀS 13H51

Créditos da imagem: Toby Kebbell em cena de Servant (Reprodução)

Toby Kebbell, que passou quatro temporadas interpretando o chef Sean em Servant, é rápido em se distanciar do personagem quando o assunto são seus gostos culinários peculiares: Não, eu nunca tentei fazer sorvete de marisco, ou um doce elaborado a partir da placenta da minha esposa. Digamos que não vou seguir o livro de receitas de Sean, e não acho que esse livro seria um best-seller se existisse”.

Em entrevista ao Omelete antes da estreia da 4ª e última temporada da série, que começou a lançar seus episódios na sexta (13) pelo Apple TV+, o ator e o criador M. Night Shyamalan destrincharam a importância dos pratos ousados de Sean em Servant. “Eu não consigo nem mesmo explicar completamente porque as cenas de culinária funcionam tão bem na nossa série”, admite Shyamalan. “Mas é como se a comida tivesse se tornado o nosso gore”.

Começou como só um dos elementos do piloto, algo que veio de Tony [Basgallop, cocriador], que é uma pessoa muito interessada em culinária”, conta ele. “Aos poucos, no entanto, isso se tornou o aspecto mais cinemático de uma série que quase nunca saía de um único cenário. Violência, criação, destruição... tudo isso está dentro da culinária, e é tudo muito simbólico, quando você relaciona aqueles atos com a vida e a morte”. 

Kebbell admite que se divertiu interpretando as aventuras de Sean na cozinha, e que aprendeu muito sobre a arte da culinária nesses quatro anos - especialmente sob a tutela de Drew Ditomo, chef que serviu como consultor no set de Servant. “Uma das coisas que me impressiona sobre a culinária é a rapidez. Eu sempre tenho dificuldade nas minhas finalizações, na apresentação do prato... enquanto isso, Drew faz tudo muito rápido, enquanto a chapa ainda está quente”, conta.

Amor vs. gratidão

Toby Kebbell e Lauren Ambrose em cena de Servant (Reprodução)

Shyamalan reflete que os banquetes preparados por Sean ainda adicionam um elemento de luxo decadente à série. “Essa família, nessa casa enorme e linda, dando essas festas extraordinárias... Comida, vinho o tempo todo. Eles estão querendo mostrar que tudo está bem, quando obviamente não está. [...] Todos os meus projetos são sobre processar uma perda, de certa forma”.

Kebbell assina embaixo ao dizer que a crúcis dessa história, para Sean, são as mentiras que ele conta para manter sua vida em pé” - especificamente, a forma como ele se recusa a revelar para a mulher, Dorothy (Lauren Ambrose), que o filho dos dois morreu e o boneco que ela tem tratado como se fosse o recém-nascido é… bom, só um boneco. Ele sente uma culpa horrível pelo que aconteceu, e essa culpa o faz mentir cada vez mais. Ele coloca esse escudo entre sua família e o resto do mundo - um escudo de negação da realidade”.

Não tenho certeza de que Sean era a melhor das pessoas mesmo antes de tudo acontecer, acho que ele podia ser muito cruel com colegas de profissão”, reflete o ator. “De alguma forma, aquela tragédia foi resultado dessa atitude, do quão pouco ele ligava para as pessoas ao seu redor - ele deixou a sua esposa exausta sozinha com um recém-nascido, só para poder ir para Los Angeles se promover. Na vida, não é sempre tudo sobre você, é importante se importar com os outros e como você os afeta”.

Encarando as consequências de seus atos, portanto, Sean tenta ser muito gentil o tempo todo, como se isso fosse o bastante para apagar o que aconteceu”. Kebbell, que manteve um diário onde escrevia como seu personagem, acredita que o amor dele por Dorothy é mais motivado por gratidão do que por um sentimento romântico: “Foi ela quem o promoveu, quem o levou de um cozinheiro qualquer para um chef prestigiado, que tem seu próprio restaurante. [...] É claro que ele a ama, mas o amor não é o bastante - acima de tudo, ele acha que precisa se segurar a essa vida falsa para provar que é grato pelo que ela fez”.

Essa ansiedade constante de Sean foi exatamente o que atraiu o ator para Servant - e talvez venham mais projetos de terror e suspense por aí. “Para mim, o horror tem uma pecinha de realismo que falta no drama”, reflete. “Na vida real, estamos o tempo todo esperando pelo próximo susto, pelo próximo momento em que tudo vai dar errado”.