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Supernatural | Como a série cresceu após deixar de ser um procedural de terror

Há quase 15 anos, série dos Winchester era muito diferente do fenômeno que é hoje - mas a mudança foi para a melhor

22.10.2019, às 12H42.
Atualizada em 27.03.2020, ÀS 10H29

A partir desde terça-feira (22) no Brasil, os Irmãos Sam e Dean Winchester embarcam em uma última aventura com o início da 15ª temporada. Considerando que o programa está no ar há mais de uma década e já ultrapassou a marca de 300 episódios, é meio difícil de acreditar. O segredo do sucesso foi focar em seus personagens e mitologia, que só cresceu ao longo dos anos - mas o começo não poderia ter sido mais diferente. Quando a primeira temporada foi ao ar em 2005, o programa era focado no horror.

O motivo é seu criador, Eric Kripke. Antes de fazer casa na TV, o roteirista já tentava a mão em projetos de gênero. Um deles, por exemplo, é O Pesadelo (Boogeyman no original), ao qual escreveu o roteiro. O longa de 2005 acompanhava um homem confrontando traumas da sua infância, especificamente um monstro que assassinou seu pai quando era pequeno. Cheio de clichês e com pouca tensão, não era exatamente um filme bom, mas já trazia temática que definiria as aventuras dos Irmãos Winchester: a conexão entre o sombrio e as relações familiares.

No mesmo ano, Kripke teve a oportunidade de desenvolver um seriado do gênero na The WB (como era chamada a CW na época). Para expandir a temática, buscou influência em O Mistério do Relógio na Parede, obra infantojuvenil de John Bellairs. “Toda peça de folclore e todo objeto de ocultismo que é citado no livro é algo que existe no nosso mundo, em alguma lenda de algum lugar”, disse Kripke para a EW. “Quando sentei com meus roteiristas para escrever Supernatural, disse que todo artefato da mitologia precisava existir em algum lugar”.

O criador combinou seu apego por gênero, drama familiar e lendas urbanas e assim surgiu Supernatural. A primeira temporada escancarou esses elementos ao ter a busca de Dean (Jensen Ackles) e Sam (Jared Padalecki) por seu pai desaparecido como fio condutor, mas a executando como uma espécie de procedural. Cada episódio segue a estrutura de “Caso da Semana”, introduzindo mistérios e os resolvendo na mesma trama. Dessa forma, o programa trouxe uma grande variedade de horrores no seu ano um, indo de aparições fantasmagóricas e demônios a cemitérios indígenas e muito mais. O formato tem suas vantagens mas, para Supernatural, as limitações pesavam mais.

O ano um tem tramas de terror muito marcantes, como o da lenda urbana Bloody Mary ou então o Wendingo, tirado da obra de Algernon Blackwood, mas o tom sério com que tudo era conduzido deixava o programa com cara genérica. O que dava força ao ano um, além da seleção variada de monstros, era Sam e Dean. Porém, faltava sal até na relação entre os irmãos. Isso não significa que a série não era boa, só não tinha muito personalidade ao se parecer uma versão mais sombria de Arquivo X.

Foi só a partir da segunda temporada, quando o humor e desenvolvimento de personagens e mitologia própria ganharam mais espaço, que Supernatural se mostrou digna de virar o fenômeno que é hoje. Jensen Ackles e Jared Padalecki contribuíram bastante nisso, moldando seus respectivos personagens com bastante carisma e dedicação. A inspiração nas aventuras de Mulder e Scully sequer precisou ficar de lado para isso funcionar, com os irmãos frequentemente lidando com um novo monstro a cada semana enquanto batalhavam o demônio que assassinou sua mãe.

Quase 15 anos depois, Supernatural ensaia sua conclusão com confiança, tendo certeza absoluta de onde está sua força e quais são suas fraquezas. Kripke, que entrou no terror inspirado por O Mistério do Relógio na Parede, parece satisfeito com o gênero após ter conseguido a chance de roteirizar a adaptação do longa em 2018, dirigido por Eli Roth e estrelado por Jack Black e Cate Blanchett. Agora o roteirista tenta a mão em aventuras como Timeless e também tramas de heróis, como The Boys. O que se mantém constante, porém, é o seu conhecimento do meio televisivo e voz única, adquiridos após mais de uma década guiando os Irmãos Winchester por bons e maus bocados.

A temporada final de Supernatural estreia hoje, 22 de outubro, no canal Warner Channel, às 21h40.