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Star Wars - O Despertar da Força | Da Frigideira

Filme concilia bem velha e nova geração, efeitos práticos e CGI, mas esconde mais do que revela

16.12.2015, às 05H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H46

Antes mesmo da pré-estreia ocorrida em São Paulo nesta terça-feira, já era evidente que o grande desafio de Star Wars - O Despertar da Força (Star Wars - The Force Awakens, 2015) seria conciliar os muitos interesses que cercam essa franquia redefinidora da cultura pop do século 20. E o filme de J.J. Abrams é bem sucedido em alguns pontos dessa conciliação.

O primeiro é o visual. A opção por deixar a computação gráfica em segundo plano e privilegiar as criaturas e os cenários práticos dá ao filme uma sensação táctil que, logo de cara, é fundamental para dar um lugar no mundo aos personagens principais que são estranhos aos fãs: o stormtrooper desertor Finn e a sucateira Rey. É um prazer ver Rey descer as dunas de Jakku com seu trenó, ao som do bonito tema composto por John Williams para a personagem. O CGI fica mais reservado ao acabamento e às batalhas aéreas - e mesmo elas são travadas em paisagens "reais" (deserto, floresta, neve) e não no espaço. A preocupação com o aspecto táctil parece ser um dos maiores de Abrams, e não por acaso vemos a Millennium Falcon tirando finas do solo o tempo inteiro (ela voa baixo para fugir do radar, dizem).

Aproveitando: o Omelete viu o filme em IMAX 3D e a tecnologia tridimensional ressalta as texturas dos objetos físicos sobre os cenários retocados. O planeta Jakku termina especialmente bem resolvido no 3D, e no geral o novo Star Wars representa um novo patamar tecnológico para a companhia de efeitos Industrial Light & Magic (que fora criada em 1975 justamente para dar conta dos efeitos da trilogia original). George Lucas tem que se sentir orgulhoso do que a equipe da ILM fez em tão pouco tempo para o Episódio VII.

O segundo choque bem conciliado, no filme, é entre a velha e a nova geração. O Despertar da Força passa sua primeira metade com personagens inéditos, tanto entre mocinhos quanto entre vilões, jogando bastante com o inegável carisma de BB-8, e a Resistência de Leia Organa só entra em cena com a trama já bem adiantada, trazendo consigo fan services que nunca soam gratuitos. Rey e Finn são mais bem desenvolvidos do que os personagens centrais da Primeira Ordem, cuja dinâmica repete o básico da franquia: o imperial (General Hux) aposta no poderio bélico da frota, enquanto o "sith" (Kylo Ren) fica com o individualismo do lado negro da Força. Ainda que reluzente, Capitã Phasma não diz a que veio.

É na hora de conciliar o que revelar e o que omitir que J.J. Abrams se enrola um pouco. O diretor confunde mistério com negligência de informação na hora de apresentar esse novo status quo galáctico (a organização da Primeira Ordem pós-Império continua uma incógnita, e o serviço de inteligência da República inexiste), e as peças parecem meio jogadas no tabuleiro. Isso se torna um problema a partir do momento em que O Despertar da Força demonstra ter altas ambições dramáticas: destinos de um par de personagens são definidos, meio na pressa, e talvez o espectador fique sem entender como ou por quê.

É evidente que muita coisa ficou para ser explicada no Episódio VIII; a grande diferença entre O Despertar da Força e Uma Nova Esperança é que o novo longa não tem o mesmo senso de conclusão que o filme de 1977. Mas pelo menos um intento J.J. Abrams começou e levou até o fim: a criação de uma dupla cativante capaz de atrair novos espectadores e conduzir a franquia daqui em diante. A sucateira e o desertor.

Star Wars - O Despertar da Força estreia no Brasil em 17 de dezembro.

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