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Han Solo - Uma História Star Wars tem sessão de gala em Cannes, sem empolgar a crítica

Filme esbanja eficiência, prova o talento de Alden Ehrenreich, mas tem o tom morno de Ron Howard

15.05.2018, às 18H25.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H45

O ator Alden Ehrenreich estampava um sorriso no rosto durante sua passagem pelo Festival de Cannes para promover Han Solo – Uma História Star Wars. O motivo? Em entrevista ao canal oficial de TV do festival francês, ele afirmou que recebeu bênção de Harrison Ford, o Han Solo original, na forma de um "segue em frente". Ao lado do jovem ator, o diretor Ron Howard compartilhava da emoção de Ehrenreich.

Lucasfilm/Divulgação

"Não é todo dia que se tem uma resposta assim de alguém como Ford", disse o cineasta, que contracenou com Harrison em Loucuras de Verão (American Graffiti), o primeiro sucesso do então novato George Lucas, criador da saga Star Wars.

Ele assumiu às pressas o comando deste divertido tomo da cinessérie estelar, impregnando esta história com sua marca pessoal: eficiência acima de tudo, sem nunca deixar a temperatura sair do morno. Dono de filmes memoráveis, porém sempre bem comportados, como Splash - Uma Sereia em Minha Vida (1984) e Apollo 13 (1994), Howard só foi além deste seu cinema mauricinho no genial Rush (2013) e em Frost/ Nixon (2009). De resto, ele é sempre contido, careta, na média, como se vê nesta aventura sideral sem o tom épico comum a Star Wars.

O que existe de melhor no filme é Alden Ehrenreich, mostrando que, na prática, o endosso de Ford valeu a pena. Ele faz do jovem Solo um malandrão abusado, mas romântico, fiel a um amor por sua conterrânea Qi'ra (Emilia Clarke).

O vacilo de Howard, na direção da narrativa, foi ter concentrado demais a ação nos extremos do filme, criando flacidez entre os atos e diluindo as raras tiradas cômicas. Apesar de todo o carisma de Donald Glover, sua versão para Lando Calrissian não tem a picardia característica do ladino espacial. Seu Lando é emotivo demais, bonzinho, é muito... Ron Howard.

O que vitamina esta trama sobre como Han ganha o sobrenome Solo, vira amigo de Chewbacca e aprende a ser piloto é a figura de mentor atribuída a Woody Harrelson. Um dos melhores atores dos EUA na atualidade, ele é o Yoda ideal para o mercenário que, aqui, começa a guiar a Millennium Falcon: um mentor de índole torta.

Na sessão de imprensa, Cannes viu o filme sem surpresas ou vibrações coletivas. Já na gala para convidados, a presença na plateia de John Travolta deu um ânimo a mais a Howard e seu elenco. Travolta vai dar uma palestra sobre sua carreira nesta quarta, antes de apresentar a sessão celebrativa dos 40 anos de Grease - Nos Tempos da Brilhantina (1978).

Na competição pela Palma de Ouro, o dia foi abrilhantado por uma surpresa à francesa: o filme-piquete En Guerre, de Stéphane Brizé. O diretor retoma sua parceria com Vincent Lindon (premiado aqui em 2015 por A Medida de um Homem), na trama sobre a luta de um sindicalista pelos direitos trabalhistas de uma fábrica ameaçada de ser vendida. O enredo é contado com uma pegada documental, com Lindon entre não-atores, numa edição em tensão máxima até nos momentos de puro falatório.

Quarta-feira reserva mais uma surpresa pop para Cannes: a Quinzena dos Realizadores projeta o desenho animado japonês Mirai, de Mamoru Hosoda. Conhecido por O Rapaz e o Monstro (2015), o animador é visto como um novo Miyazaki. Seu novo filme fala de um garotinho que viaja no tempo guiado por uma versão adolescente de sua mãe. Cannes termina no dia 19.