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O Som no Cinema: Filmes que Fizeram História

Conheça os filmes que marcaram o cinema com inovações sonoras

CT
08.11.2010, às 00H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H46

Depois do breve apanhado sobre os primeiros anos do cinema sonoro, o especial O Som no Cinema se debruça sobre os filmes que marcaram história - e em alto e bom som!

FANTASIA

Lançado em 1940, Fantasia foi o terceiro longa-metragem da Walt Disney Pictures e marcou a história do cinema como um dos mais importantes experimentos sonoros deste O Cantor de Jazz, lançado 13 anos antes. Walt Disney se uniu a Leopold Stokowski, regente da Orquestra da Filadélfia, para realizar o curta O Aprendiz de Feiticeiro com o objetivo de revitalizar o Mickey, personagem mais querido de Disney, que fora superado em popularidade pelo Pato Donald. No entanto, o alto custo do filmete era comercialmente inviável para um desenho curta-metragem e Stokowski sugeriu a adição de outros segmentos, formando o surrealista concerto em película de oito segmentos de animação, embalados por música clássica e sem diálogos.

Ao trabalhar na trilha do filme, Stokowski foi um dos primeiros a conduzir experimentos com sistema estereofônico. A ideia do maestro era que Fantasia recriasse no cinema a acústica de uma sala de concerto. Para tanto, capturou o som de sua orquestra em três canais: direito, esquerdo e surround, fazendo do sistema estéreo Fantasound, exclusividade de poucos cinemas na época, o precursor do sistema surround que é amplamente utilizado hoje.

No entanto, gravar o som da orquestra à altura das expectativas de Stokowski custou ao estúdio mais do que deveria. Para exibir Fantasia, os donos de cinema precisariam investir em equipamentos especiais. A RKO, distribuidora dos filmes da Disney, se recusou a bancar estes gastos, levando Walt Disney a distribuir seu filme por conta própria pela primeira vez.

Walt Disney demorou a recuperar os mais de US$ 2 milhões investidos em Fantasia, que não agradou nem público - que esperava mais lançamentos como Branca de Neve e os Sete Anões (1937) -, nem a crítica da época, enfurecida pelo "mau uso" da música clássica. A situação mundial também não era das melhores para lançamentos internacionais, uma vez que o mercado europeu estava fechado pela Segunda Guerra Mundial. Para piorar a situação da Disney, os bancos fecharam a linha de crédito do estúdio, que foi forçado a tornar-se uma empresa de capital aberto, oferecendo suas ações para o público.

Tanto Disney quanto Fantasia sobreviveram. Mais tarde, com vários relançamentos no cinema, o estúdio conseguiu lucrar com o filme, que hoje é reconhecido como um clássico do cinema.

NASHVILLE

Para produzir seu drama musical de 1975, o diretor Robert Altman se uniu ao especialista de gravações em múltiplos canais Jim Webb. A parceria rendeu uma inovação técnica e fez de Nashville o primeiro filme a utilizar canais de som individuais para cada ator, para que cada voz pudesse ser acentuada ou diminuída na pós-produção.

Esta escolha quanto ao processo de captação foi motivada pelo roteiro, que reuniu 24 personagens principais em uma trama que retrata o universo da música country e gospel de Nashville, Tennessee, em meio ao turbulento momento político que cercava as comemorações do bicentenário dos EUA.

Durante as filmagens, cada ator foi equipado com um microfone e Webb e o cineasta realizaram gravações de até sete atores simultaneamente - decisão ousada para a época. Apesar de nunca estarem todos reunidos em uma única cena até o concerto e comício político que encerra a história, capturar cada voz separadamente permitiu que os diálogos tivessem destaque mesmo quando gravados em ambientes barulhentos. As cenas musicais também são gravações das performances, sem inserir canções feitas em estúdio separadamente.

Os experimentos de Altman e Webb também resultaram em um sistema que permitia gravar uma conversa ao telefone em tempo real - técnica que mais tarde foi utilizada em Todos os Homens do Presidente (1976), filme sobre o escândalo Watergate premiado com quatro Oscars.

STAR WARS - GUERRA NAS ESTRELAS

O longa de 1977 dirigido por George Lucas, posteriormente renomeado Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança, marcou a história do cinema não apenas por criar a cultura blockbuster que definiu o cinema que conhecemos hoje, ou pelos efeitos especiais à frente de seu tempo, mas também por seu o primeiro longa lançado em Dolby Stereo, com áudio capturado em quatro canais. Essa inovação tecnológica, no entanto, só tornou-se verdadeiramente marcante como a trilha sonora de uma geração por estar combinada ao trabalho de Ben Burtt como designer de som.

Usando técnicas simples, mas peculiares, Burtt criou efeitos sonoros que obedeciam a vontade de Lucas de que Star Wars, apesar de se passar no espaço, não tivesse sons eletrônicos e artificiais, indo contra a linguagem dos filmes de ficção científica da época. Lucas queria uma sonoridade "orgânica", para combinar com seu mundo extraterrestre que, visualmente, não era representado por um futurismo brilhante e higienizado. Segundo declarações do diretor, seu objetivo era retratar um "universo usado", com ferrugem, portas rangendo e naves espaciais cujos motores não pegavam de primeira. Assim, Burtt criou efeitos com sons cotidianos - que foram gerados com o auxílio de coisas como tubulações hidráulicas, passando por vocalizações de Burtt e sua equipe e até choros de sua filha bebê - capturados durante um ano e então combinados a alguns elementos eletrônicos.

O som do sabre de luz de Luke Skywalker, por exemplo, é uma mistura dos sons de um projetor de cinema e o ruído feito por um microfone ao ser colocado ao lado de uma televisão. A voz de Chewbacca foi construída com gravações de grunhidos de ursos em um zoológico. Já a icônica respiração de Darth Vader, por sua vez, é a respiração de Burtt ampliada por equipamentos de mergulho. Mas o maior desafio de Burtt foi criar da voz do robô R2-D2, um personagem que não falava em uma língua compreensível para a plateia mas, ainda assim, transmitia emoções. Depois de muito procurar em fontes externas os sons de sua imaginação, ele resolveu usar sua própria voz e outros assobios e vocalizações, mixadas por um sintetizador.

E assim, somando aos criativos efeitos sonoros à trilha sonora orquestrada do compositor John Williams, somos levados a uma galáxia muito, muito distante...

APOCALIPSE NOW

Outro marco tecnológico para a história do som do cinema, o filme de Francis Ford Coppola lançado em 1979 inaugurou o sistema surround 5.1, que permanece até hoje como o padrão mais comum de cinemas e aparelhos de home theater.

Segundo o designer de som Walter Murch, Coppola tinha três requisitos para o drama sobre a Guerra do Vietnã: som e imagem deveriam refletir a experiência de alucinação dos soldados, que lutavam movidos por drogas na maior parte do tempo; o som das armas deveria ser preciso; e ele queria que o filme "envolvesse a plateia em todas as dimensões".

Tecnicamente, não havia maneira melhor de cumprir o pedido do diretor do que com o novo sistema de áudio que posicionava caixas de som nos quatro cantos do cinema, uma atrás da tela e outra dedicada especificamente aos sons graves de baixa frequência, ampliando ainda mais o explosivo som das bombas e o marcante som dos helicópteros.

JANELA INDISCRETA

A escolhe deste filme para encerrar a lista já vem com pedido de desculpa aos entusiastas da tecnologia, pois a revolução que o quadragésimo filme de Alfred Hitchcock representa não é técnica, mas qualitativa. O diretor, que iniciou sua carreira ainda na era do Cinema Mudo, compreendeu melhor do que ninguém a importância do som para construir cenas de tensão - e não é por acaso rendeu-lhe a alcunha de Mestre do Suspense.

O uso do som para transmitir uma emoção do personagem tornou-se, ao longo de sua carreira, uma marca do cineasta - e em Janela Indiscreta (1954) a trilha sonora funciona como extensão dos sentimentos de L.B. Jeffries (James Stewart), fotógrafo que, por conta de uma perna quebrada, não pode sair de casa. Da janela, com uma lente teleobjetiva, ele espiona o dia-a-dia dos seus vizinhos - um compositor, uma bailarina, uma senhora solitária de meia-idade... Durante todo o filme, Hitchcock manipula o som para contar sua história e construir o suspense. Por exemplo, o som que acompanha a ampliação visual da teleobjetiva também torna-se mais alto, colaborando com a sensação de voyeur.

Considerando os três elementos básicos do som no cinema (diálogo, efeitos sonoros e música), uma das maneiras de manipular uma cena é dissociando o som de sua fonte. É isto que Hitchcock faz em Janela Indiscreta, em que em algumas cenas há separação quase total daquilo que vemos e ouvimos.

Elemento característico do cinema de Hitchcock, a manipulação do som também é usada em Psicose (1960), como na cena em que Marion (Jane Leigh) dirige até o hotel. O barulho do para-brisa e da chuva é muito forte, para que quando a chuva pare, a plateia perceba o silêncio que se segue.

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