O programa traz a renovação da Luta Livre, esporte que já foi febre no Brasil, revelando nomes até hoje lembrados pelos mais experientes, como Ted Boy Marino e Fantomas.
Chegar ao Ginásio Sete de Setembro, local das filmagens do programa, é de extrema dificuldade para quem não conhece bem as quebradas de São Paulo. Nem precisa dizer que levamos mais de uma hora pra conseguir encontrar o lugar...
Quando finalmente conseguimos chegar, a animação do ginásio nos surpreendeu. Uma platéia extremamente barulhenta esperava ansiosa o início dos combates da noite. Foi nesse clima que conversamos com o lutador veterano Michel Serdan, entusiasta da luta livre no país e criador do programa. Confira agora o descontraído papo que tivemos com ele!
| :: Omelete entrevista: Michel Serdan :: |
Primeiro, gostaríamos de um breve histórico da Luta Livre no Brasil.
A Luta Livre existe aqui no Brasil há mais ou menos 50 anos. Antes da televisão, as lutas aconteciam no Parque do Ibirapuera. Na época, só tinha estrangeiros, porque ainda não tinha nenhum lutador aqui no país. A primeira emissora de televisão a fazer Luta Livre aqui foi a TV Record. Ela transmitiu durante 10 anos, até a época que pegou fogo nos estúdios. A febre começou logo depois disso quando, na época, a Excelsior contratou os lutadores e colocou o Bolinha apresentando o programa. Isso foi há uns 30 anos.
A Luta Livre lá nos Estados Unidos já está em alta há mais ou menos 25 anos. E isso se deve ao Hulk Hogan, que é o dono de tudo. É o dono da WWF, se bem que hoje é um pool de empresas, mas ele é o centralizador de tudo nos Estados Unidos.
Ele foi o primeiro&qt;&
Não, o primeiro a fazer Luta Livre nos Estados Unidos para televisão era um brasileiro chamado Antonio Enoki, que hoje está no Japão. O Enoki estava tomando conta de tudo e o Hulk Hogan, sendo empresário. Daí os dois foram chamados para comandar e implantar a Luta Livre no Japão. As coisas deram certo para o Antonio e ele acabou ficando. O Hogan não conseguiu ficar muito tempo lá. Nos Estados Unidos, ele já era um líder, enquanto no Japão era apenas um empregado. Então, ele voltou para os Estados Unidos e implantou uma nova maneira de fazer luta livre, só com fisiculturistas.
Eu conheci o cara, lutamos juntos. A idéia dele era que a Luta Livre fosse só de gigantes, só de caras fortes. Isso porque até então, os lutadores não se preocupavam com o físico (o que também acontecia aqui). Eles pensavam eu sou lutador, o resto que se dane e o Hulk Hogan sempre achou, como fisiculturista, que a luta livre tinha que ter físico.
Então o Hulk Hogan estabeleceu o padrão que prevalece hoje...
Estabeleceu o padrão de lutadores que prevalece até hoje e o que está fazendo renascer a luta livre aqui no Brasil! É o que a gente está tentando fazer aqui também, embora num nível bem menor, com muita dificuldade. Porque aqui, quem banca tudo sou eu. O programa está na TV Gazeta, que não tem condições de bancar muita coisa e a gente vai levando do jeito que dá.
Muitas vezes fica a cargo do lutador, mas nem sempre. Por exemplo, esse no caso que você citou, do português. Ele é um amigo meu de muitos anos e não tinha o perfil para lutar aqui. Eu gostaria que ele viesse, até que num dia eu colei e falei Pô, você até que podia lutar com roupa portuguesa, escondendo o corpo. Ele era muito magro, e ainda é, apesar de estar engordando agora.
E há quanto tempo a nova geração do programa já está no ar&qt;&
Nós começamos em outubro do ano passado, no programa Goulart de Andrade, e ficamos lá durante quatro meses. Depois saímos do Goulart e ganhamos um programa próprio na Gazeta.
Você que encontra os lutadores ou os lutadores encontram vocês&qt;&
Quanto tempo vocês treinam para chegar aqui e fazer essa luta&qt;&
Se eu pegar um camarada agora, que nunca fez luta livre, ele leva em média quatro meses treinando umas três horas todos os dias. Se ele já fez algum outro tipo de modalidade de luta, ele já tem o corpo mais maleável, então fica mais fácil. Nesse caso, com uns dois meses ele está estreando como lutador. A gente só faz aquela adaptação do que ele já fez para luta livre e pronto.
O pré-requisito então é ser forte, ágil...
Hoje, tudo é visual. Tá cheio de velhos bons lutadores por aí, mas hoje estamos montando a nova geração. Hoje eu aposto no corpo, no visual. Tem muitos que aparecem na minha academia dizendo: Eu sou mestre disso, mestre daquilo, mestre de não sei o que lá... Não tem corpo&qt;& Eu não quero nem saber do que que ele é mestre. Não interessa! Quando eu encontrei o Sargento Castelão foi assim:
- Pô bicho, quer fazer luta livre&qt;&
- Eu&qt;&! Nunca fiz luta livre!
- O que você faz&qt;&
- Eu sou ator!
- É isso mesmo que eu quero.
Tem tamanho, tem corpo, tem tudo, o resto a gente faz.
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