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Temporada final de Fear The Walking Dead avança 7 anos no tempo... e nada muda

Completamente desfigurada, a série derivada de The Walking Dead começa seu último ciclo sem nenhuma história para contar.

5 min de leitura
HH
17.05.2023, às 11H40.

Créditos da imagem: Divulgação

Quem viveu os primeiros anos de The Walking Dead – a série mãe – não pode fechar os olhos para o que aconteceu ali, diante dos nossos olhos. Tudo ia bem, mas pouco a pouco, os produtores foram estabelecendo sua zona de conforto, com cenários fixos, um grupo pequeno de personagens e a mesma dinâmica narrativa: uma nova comunidade, um novo grupo de vilões, um tardio embate e tudo começa de novo. Milhões e mais milhões foram ganhos, temporada após temporada, apostando simplesmente na máxima de que algo grande iria acontecer... uma hora ia acontecer...

E eventualmente acontecia, claro. As temporadas, de 16 episódios cada uma, passavam horas e horas contemplando silêncios e longas caminhadas; tudo pela promessa de, em um season finale, algo realmente importante acontecer. E geralmente esses acontecimentos também giravam todos em torno da mesma premissa: a luta entre grupos. É evidente que em uma produção sobre um mundo pós-apocalíptico, os conflitos precisam ser mesmo entre sobreviventes. Contudo, depois da décima vez em que a dinâmica se repete, começamos a nos cansar. E esse cansaço veio.

Fear The Walking Dead surgiu como um respiro de alívio quando foi anunciada. A ideia parecia ser a de escapar dessa “melodia” estabelecida pela série-mãe, justamente porque ela se passaria no começo da infestação; os fãs teriam a oportunidade de ver como tudo começou, como as notícias começaram a chegar e como os personagens descobririam detalhes acerca da contaminação zumbi. Era a hora de explorar bastante as dúvidas sobre como as pessoas se transformavam, as regras para escapar vivo e, sobretudo, como a organização social foi afetada pelo desastre.

Durante alguns episódios até que tivemos isso. Sabemos que a ordem do AMC enquanto empresa é trazer tudo para o minimalismo o mais rápido possível, no interesse de que o investimento seja menor. Com isso, não demorou para que os personagens se deslocassem para regiões onde os roteiristas pudessem mantê-los por alguns episódios; uma base, um barco, um deserto, uma casa vazia... De um jeito ou de outro, estávamos sempre vendo as histórias dos derivados indo para o mesmo lugar.

Quando Fear The Walking Dead ultrapassou sua terceira temporada, o clima de apocalipse zumbi como nós conhecemos na série-mãe já estava se estabelecendo. Dentro dessa “fórmula” de entregar eventos “corajosos” a cada longo bloco de episódios, personagens importantes foram ficando pelo caminho. As mortes de protagonistas, personagens-chave e coadjuvante queridos se tornaram um traço de Fear The Walking Dead de uma forma ainda mais marcante que no original. Contudo, essa maneira indiscriminada de eliminar familiaridade provocou um efeito colateral inevitável: a falta de identidade. E foi assim, totalmente desfigurada, que a série chegou até aqui.

P.A.D.R.E

A sétima temporada de Fear The Walking Dead talvez tenha sido uma das piores temporadas da história das séries de TV. O conceito de “minimalismo” chegou até um nível absurdo em que quase todos os personagens estavam confinados em espaços fechados e não havia nenhum vestígio do que a série tinha sido um dia (sobretudo porque foi ali também que eles se livraram de Alicia). Os episódios eram vagos, arrastados... a temporada foi um suplício criativo sem nenhum prazer para nenhum dos envolvidos. É claro, então, que a estratégia dos produtores foi zerar tudo de novo e trazer de volta algum resquício de familiaridade. Contrariando a lógica, Madison (Kim Dickens) retornou das cinzas.

O último episódio da sétima temporada funcionou para a série como o começo da oitava. Morgan (Lennie James) encontrou Madison – que agora se chama Lark – trabalhando para uma espécie de organização chamada P.A.D.R.E, coletando bebês e crianças para levar ao complexo do grupo. Ao final do episódio, Madison acaba sendo capturada. Para a estreia do oitavo ano, os produtores, então, tomaram a bisonha decisão de avançar SETE anos no tempo. Quando a temporada final se inicia, é como se um outro derivado estivesse começando. Mas, seguindo a mesma ordem, a mesma fórmula, os mesmos princípios.

A passagem de tempo não tem absolutamente nenhum impacto para o espectador; ela existe única e exclusivamente para que a menina Wren (Zoey Merchant) seja inserida na trama. O descuido dos roteiristas é tanto que para eles pouco importa dar às coisas seu devido valor. Madison passou sete anos numa cela, mas sua aparência é exatamente a mesma; parece que ela esteve ali apenas por 1 dia. Depois desse tempo todo pensando em fugir, ela consegue ainda nos primeiros 15 minutos de episódio, sem fazer o menor esforço, depois de uma manobra do roteiro que é completamente absurda.

Uma vez no mundo externo, o universo de Fear The Walking Dead se estabelece como sempre foi. Até mesmo a ideia de avançar no tempo esbarra, de certa forma, com as questões de produção (dessa maneira eles podem aproveitar zumbis entre séries, já que eles estão numa linha temporal em que o início da contaminação já aconteceu há muitos anos e nenhum dos walkers tem mais uma aparência humana). A temporada se sustenta num fio de narrativa que está ali apenas para justificar a continuação das andanças e embates sem nenhuma emoção ou expectativa.

Há anos já sabemos que Morgan não é um personagem carismático e toda a esperança de ter Madison de volta à ação se esvai nos minutos em que fica claro que aquilo é só uma muleta dramatúrgica; o que ela faz qualquer outro personagem poderia fazer e sem outros personagens que tinham ligação com ela na série, não existe impacto nesse retorno.

Vamos torcer para que esse último ano seja um último ano mesmo e não outro desmembramento de núcleos em spin-offs sem assunto e justificativa. Mas, parece que a oportunidade já foi perdida... Fear The Walking Dead é uma série transfigurada, um mero braço fragilizado de uma ideia que um dia pareceu revolucionária... e agora só está zumbificada.