Aproveite as ofertas da Chippu Black!

Veja as ofertas
Termos e Condições Política de Privacidade
Séries e TV
Artigo

Stranger Things 5 poderia ser perfeita e, mesmo assim, não agradaria à internet

Seja pelo formato ou pelo intervalo entre temporadas, a série da Netflix sofre com o efeito das bolhas da internet e expectativas desmedidas

4 min de leitura
26.12.2025, às 17H50.

O fim de Stranger Things está próximo: o Volume 2 saiu no Natal e, finalmente, tudo sobre o Mundo Invertido foi revelado. Após nove anos, a série dissecou em três episódios o que fez a pacata Hawkins se tornar um portal para outra dimensão, com um misto de ciência, fantasia e RPG de mesa. No meio disso, independentemente do grupo, crianças, adolescentes e adultos se movimentam no tabuleiro orquestrado pelos Irmãos Duffer para encerrar a maior saga que a Netflix já criou. E, independentemente do resultado, há apenas um futuro possível: será inevitável escapar da sensação de decepção ao fim da jornada, por melhor que ele seja.

É meio óbvio dizer que é impossível agradar a todos, mas a era da Netflix e das redes sociais leva até essa constatação a outro patamar. Em tempos de excesso de informação e fácil acesso aos produtores e atores, parece ainda mais natural que a percepção do público e a expectativa de determinadas bolhas influenciem o desenvolvimento da história. E, por mais que os Duffer garantam que o fim está planejado desde o início, como garantir que, ao longo da produção, a história não mudou? É impossível, e por um motivo simples: não existe história imutável nem quando é feita sem olhares externos; o que dizer, então, de algo que é escrito aos olhos do público e na maior plataforma de conteúdo da geração?

Stranger Things começou como uma série sobre nostalgia e terminará como símbolo dos próprios tempos, seja pelo formato, pelas explicações, pela reação exagerada da internet ou pelos recordes. Acontece que, entre o Volume 2 e o Volume 3, a bolha que tomou conta da discussão (até agora) foi a da decepção com os episódios 5, 6 e 7, em que ninguém morreu, muito se explicou e quase nada foi resolvido. Ou será que isso é somente uma impressão de quem esperava mortes, confirmação de teorias e uma batalha final antes do final? De novo, é impossível saber, pois em nenhum momento a série deixou de atiçar essa expectativa - e não existe nada de errado nisso; só há uma conta a se pagar no balcão da internet.

A série da Netflix não é a única a passar por isso. A Marvel viu isso acontecer com Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, quando teorias se espalharam a ponto de criar um filme hipotético na cabeça de alguns fãs que se viram decepcionados ao chegar ao cinema e, veja só, assistiram ao filme de Sam Raimi, não o da internet. Game of Thrones sofreu isso a cada temporada (ou a cada episódio) com tudo atingindo o ápice nas complicadas últimas temporadas. A internet, essa entidade disforme, mas cheia de rostos e vozes ávidas por atenção, não aceita nada que desvie do que ela acha que é o correto. O problema é que não existe “certo” para ela: todo assunto existe para, e somente para, engajamento prioritariamente negativo.

Não é coincidência que as séries mais aclamadas dos últimos anos ganhem espaço em nichos ou façam nome após o final. Breaking Bad, Mad Men, Peaky Blinders, The Americans, Shogun, Task, The Pitt, Ruptura. Com exceção de uma ou outra, elas começam sem muito alarde, ganham atenção e, aos poucos, se tornam uma unanimidade em termos de qualidade. Entre elas, algumas sofrem quando enfrentam o hype da internet nas temporadas seguintes e evidenciam ainda mais o fato de que, quanto mais distante das bolhas você fica, mais leve o consumo e a repercussão se tornam. Mas como, então, fazer sucesso de início e, ao mesmo tempo, não sofrer com a internet? De novo, é impossível.

A internet e as redes se tornaram uma espécie de Devorador de Mentes que se alimenta de qualquer ação para criar um mundo cujo objetivo é apenas gerar ruído, confundir e criar um caos onde o ego de cada um se sente no centro das atenções. É lógico que nada disso isenta séries ou filmes de críticas, mas trata-se de um ambiente e de uma cultura muito específicos dos tempos atuais, em que, mais do que aparências, as impressões são tão importantes quanto o conteúdo.

Os criadores de Stranger Things sabem disso e, talvez, o maior problema da série nesta última temporada seja tentar agradar a todos, explicar tudo e não deixar espaço para interpretações - algo que traria mais discussões, debates e, principalmente, menos certezas. Mas hoje, mais do que nunca, o que se busca são respostas absolutas, sem espaço para discussão, apenas para o embate entre dois lados de uma questão. Pensar não engaja, ter convicção de qualquer coisa, sim. Ou o final é bom, ou é ruim; qualquer coisa entre esses dois extremos não passa de distração para a internet.