Quando a plataforma Star+ resolveu começar suas produções originais nacionais levando ao público a vida de ninguém menos que Sílvio Santos, ela deu o pontapé em um movimento visivelmente ambicioso. Com O Rei da TV, a plataforma mostrou desejo de inovar, investindo em uma linguagem surrealista. Com sua nova aposta, Santo Maldito, a Star+ mantém sua proposta de ousadia e discute filosofia e fé em uma dramaturgia promissora.
O primeiro episódio apresenta o professor universitário Reinaldo (Felipe Camargo), que tem uma carreira de escritor frustrada e vive na corda bamba para conseguir dar conta da vida diária. Quando tudo já parecia muito difícil, sua esposa entra em estado vegetativo, e desesperado para dar a ela o melhor tratamento, o professor acumula uma dívida astronômica no hospital em que ela está internada. Diante da certeza de que ela não acordará mais, Reinaldo decide abreviar a espera pelo fim e desligar os aparelhos.
Circulando pelos corredores, um dos enfermeiros presencia o monólogo de Reinaldo e começa a filmá-lo com o celular. Assim que puxa os plugues, sua esposa acorda e o enfermeiro evangélico acha estar diante de um milagre. De posse desse vídeo, o enfermeiro leva a boa nova até Samuel (Augusto Madeira), o pastor de uma pequena congregação cheia de problemas e carências. Com 15 mil reais disponíveis para ajudar Reinaldo a começar a pagar a dívida do hospital, Samuel lhe faz a proposta derradeira: em troca de dinheiro, Reinaldo faria cultos na igreja e exerceria seu “poder de cura”.
“Pela primeira vez eu não conseguia parar de ler os roteiros; li tudo, pela tela do celular”, disse Felipe Camargo na conversa que tivemos com ele e Augusto a respeito da estreia da série. “Eu tenho em comum com o Reinaldo a formação, a origem católica, que foi muito presente na minha vida. E é muito curioso porque acho que a série é principalmente sobre a fé, porque até não acreditar em nada, ser ateu, também é um tipo de fé”.
Para Augusto Madeira, seu personagem é pautado pelo estabelecimento do mistério: “No terceiro episódio temos um flashback que mostra o Samuel indo ajudar o irmão dele num assalto. Ele vai mais pra ajudar o irmão do que pra assaltar. Mas, dá tudo errado, ele é deixado pra trás e toma uma surra que o deixa paraplégico. Nesse dia o agressor vai finalizar essa surra dando um tiro no Samuel e o que salva ele é uma bíblia que havia sido colocada por um padre em sua jaqueta. A partir desse dia ele passa a achar que tem uma missão... Apesar de ser ateu, Reinaldo tem um passado suprimido de envolvimento religioso, o que reforça que o encontro deles não foi à toa”.
Embora Samuel esteja “comprando” os milagres que Reinaldo supostamente consegue fazer, Augusto garante que suas motivações são sinceras: “A crença dele está muito acima do dinheiro. Eu tentei construir o Samuel num lugar de crença mesmo, Pra mim ele acredita. E a religião é um polo de encontro... Pode ser ruim com ela, mas sem ela pode ser pior”.
“Essas discussões têm um ponto de partida muito importante, que são os roteiros”, disse Felipe ao citar o trabalho do time dramatúrgico formado por Rubens Marinelli, Ricardo Tiezzi e Bea Góes. “A concepção da série, o arco dos personagens... quando você parte de um bom roteiro você tem muito mais possibilidades de ter um trabalho coerente, que vale muito mais a pena do que ficar tentando tirar leite de pedra”. Os roteiros de Santo Maldito, aliás, poderão ser vistos por mais de 50 países quando a série estrear na plataforma no próximo dia 8 de fevereiro. “É um orgulho imenso exportar cultura brasileira pro mundo”, completou Augusto.
Com direção de Gustavo Bonafé, Mariana Bastos e Lucas Fazzio, Santo Maldito terá 8 episódios em sua primeira temporada, com grandes chances de retornar para uma segunda. Com um bom texto e direção caprichada, a produção do Star+ parece bastante promissora. Um milagre não será necessário.