Durante os anos em que Better Call Saul esteve no ar, a campanha dos espectadores e de parte da crítica por um reconhecimento no Emmy nunca se materializou. A série colecionou indicações, mas nunca levou, e isso inclui as duas indicações para a atriz Rhea Seehorn - que na tradição de Skyler em Breaking Bad fazia o ingrato papel da coadjuvante feminina que servia de contrapeso moral para o anti-herói protagonista.
Quando Seehorn foi indicada, em 2022 e 2023, o criador de Better Call Saul, Vince Gilligan, já desenvolvia para a Apple TV+ um novo projeto, intitulado Pluribus. E aí vem a recompensa. Desta vez Rhea Seehorn não apenas é promovida a protagonista como passa boa parte do tempo tendo os holofotes apenas para si, no papel de uma americana que mantém sua consciência (e seu mau-humor) durante uma invasão alienígena que torna todo o restante da população da Terra permanentemente bovino e contente.
Dá para enxergar esta nova série como uma reparação histórica? Em entrevista ao Omelete, a atriz comentou que “ainda está se beliscando pra ver se é mesmo verdade”. “Poder estrelar esta série com Vince e a equipe incrível que ele juntou é sensacional, mas eu queria aproveitar este momento para louvar atores e atrizes coadjuvantes por aí, porque em Better Call Saul eu nunca pensava que o que eu realmente merecia era um papel de protagonista, mesmo porque às vezes os papéis coadjuvantes são até mais interessantes.”
De qualquer forma, a relação com a série anterior da dupla acaba se insinuando porque a locação escolhida para Pluribus é a cidade de Albuquerque, no Estado americano do Novo México, que ficou famosa nos últimos 15 anos por ter sediado as tramas de Breaking Bad e BCS. Gilligan comenta a escolha: “Em relação à premissa de Pluribus a gente poderia escolher qualquer cidade. Eu estava relutante em situar em Albuquerque porque isso talvez confundisse as pessoas, e a série não tem nada a ver com as outras. Acabei escolhendo porque eu gosto de trabalhar com as equipes dessas séries e sentia falta disso, e a maioria das pessoas mora e trabalha em Albuquerque - eles são todos de lá. Sinto que somos uma família e, de forma muito egoísta, eu queria para mim de novo a experiência deles, o talento e o entusiasmo deles. E se fosse para transformar Albuquerque em outra cidade na série ia dar trabalho demais, lá não é só trocar as placas dos carros [risos]”.
Pluribus coloca a personagem de Rhea Seehorn numa posição quase quixotesca, em que ela se descobre ainda mais solitária por ser a única pessoa que permanece infeliz e insatisfeita diante do “trabalho” eficiente de manutenção do planeta que os alienígenas fazem depois do bem-sucedido plano de invasão e abdução. “O que tem sido divertido e interessante nessa posição de protagonista é descobrir que cabe bastante a mim estabelecer qual será o tom da série. Como atriz eu sou obcecada com essa definição de tom, e é um assunto difícil de debater, de definir, mas é importantíssimo para o sucesso de uma série. Vince fica te levando nas reviravoltas quando você lê [o roteiro], você não entende direito por que está chorando ou rindo, e é muito legal ir para o set e colaborar para dar forma a isso.”
Ao mesmo tempo em que parece grata e bastante energizada por estrelar Pluribus, a atriz coloca em contexto sua trajetória ao lado do criador dessas séries. “Além da chance de trabalhar de novo com Vince, é bom dar continuidade às incríveis lições que aprendi assistindo a pessoas trabalhando como Bob Odenkirk, que era o primeiro nome no cartaz naquela época. É bacana passar isso adiante e tratar todo mundo [no set] com respeito. Sinto que nós já fazíamos isso antes e Bob inclusive me ensinou grandes lições a esse respeito”, completa Seehorn.
Pluribus já está no Apple TV+ e a primeira temporada, com nove episódios, sai semanalmente, toda sexta-feira, até 26 de dezembro.