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Pico da Neblina | Como 2º ano torna a maconha na menor das preocupações

Ao Omelete, Quico Meirelles, Alê Pellegrino e Rodrigo Pesavento contam como novos episódios expandem o mundo onde o Brasil legalizou a comercialização da maconha

02.07.2022, às 06H00.
Atualizada em 04.07.2022, ÀS 14H11

Já faz algum tempo que se cristalizou na indústria televisiva a possibilidade de intervalos de tempo maiores entre o lançamento de temporadas de uma mesma série, mas pouco se comenta dos efeitos que anos extras imprimem sobre essas produções.

Bom exemplo disso é o de Pico da Neblina, série nacional da HBO que retorna para seu segundo ano no próximo domingo (3). Se em sua estreia em 2019 a ideia central do seriado de um Brasil onde a maconha foi legalizada já parecia muito distante da realidade, três anos depois - e mais próximo de novas eleições presidenciais - fica claro que a proposta beira à utopia nos conformes atuais. Por mais dura que pareça, porém, essa constatação não chega a ser um problema e sim um novo paradigma à produção - e os criadores parecem entender muito bem isso.

O que faz o Pico da Neblina ser o Pico da Neblina é a questão canábica, mas também como a gente traz isso para dentro de todos os debates éticos e morais”, explica o diretor da série, Quico Meirelles, ao Omelete. Também diretor-geral da série e responsável por múltiplos episódios da produção, ele é rápido em mostrar como a questão da legalização da comercialização da cannabis em si já deixou de ser uma questão dentro dos próprios eventos da história que quer contar: “A gente entende que já passou entre seis meses e um ano da legalização, então o assunto em si virou uma coisa do passado para a sociedade. Você ver alguém fumando um baseado na rua é tão corriqueiro quanto alguém chupando picolé, fumando cigarro ou tomando uma cerveja”.

As falas de Meirelles são muito coerentes com o status dos personagens nesses novos episódios. Se na primeira temporada a série era focada nos trabalhos de Biriba (Luis Navarro) e Vini (Daniel Furlan) para administrar uma loja de maconha nos primeiros dias do estabelecimento da droga como comércio, em meio aos abalos da mudança no mercado paralelo, a segunda já tem um olhar mais amplo sobre todas as partes. Tanto para o lado de negócios, conforme coexistem produções em massa e especializadas em cima da planta (e com usos cada vez mais experimentais), quanto dos personagens, agora rodeados em torno de uma nova loja no centro comandada por CD (Dexter), um dos líderes do tráfico na grande São Paulo. Tudo isso apenas poucos meses depois dos acontecimentos anteriores.

Para Rodrigo Pesavento, diretor de dois episódios nesse segundo ano, essa amplitude oferece maior espaço para criação na trama. “Essa segunda temporada começa para frente, mas tem muito flashback, ela volta bastante para trás para contextualizar”, expõe; “Para a gente entender cada vez mais o foco no drama dos personagens, além dos arcos de cada um”.

Tanto Pesavento quanto Alê Pellegrino, celebrada diretora de filmes publicitários que comanda o terceiro capítulo da temporada, também reforçam o desafio que é expandir o escopo da série perante as condições restritivas da pandemia, que exigiu muito mais da equipe para além de uma maior decupagem das cenas - passar um cigarro de maconha envolve muito mais planos agora que requer um cuidado sanitário, por exemplo. “Teve diárias que a gente filmava uma cena com cada diretor”, relembra Pellegrino, “Então começa um filmando com um elenco, daí daqui a pouco vem o próximo que vai filmar uma cena, outro com três atores, mais um filma com 10… foi uma loucura mesmo”.

Houve um trabalho muito grande não só do ator e do diretor, mas da equipe inteira para manter a coerência narrativa do personagem”, acrescenta ainda Pesavento.

Novos ares

O personagem vivido por Dexter é dos que ganharam boa profundidade nos novos episódios, até porque a posição simultânea de CD como ameaça e mais novo membro da família de Biriba coloca a série em nova rotação. “Ele não é mais aquele cara que tá lá em cima, a gente mostra muito mais a relação familiar, a vontade dele de ter uma família e de recuperar um tempo perdido”, comenta Pesavento; “É uma busca, a gente não só não tenta humanizar, mas o personagem que se humaniza”.

Para Meirelles, essa perspectiva é reforçada a partir do momento em que o público é apresentado às instâncias superiores do tráfico no início da temporada, o que por sua vez amplia a perspectiva geral do seriado. “Gostamos muito de construir isso e criar sempre essa fronteira ambígua entre o certo e o errado, a legalidade e a ilegalidade. É uma linha cinzenta de decisões morais que valem tanto pro CD quanto pro Biriba”, finaliza o diretor, que ainda acrescenta: “Ao longo desses dez episódios, a gente vai deixando isso mais tenso para o espectador. Às vezes ele vai gostar mais do Biriba, às vezes mais do CD, e isso vai se invertendo o tempo inteiro”.

Em outras palavras, no Pico da Neblina a maconha agora é a menor das preocupações.

Os novos episódios da série são exibidos aos domingos na HBO e na HBO Max.