São mais de três anos desde que Christopher Smith (John Cena) derrotou os Borboletas, encontrou a Liga da Justiça (de Zack Snyder) e matou o pai (Robert Patrick) na primeira temporada de Pacificador. Nesse meio tempo, o DCEU - antigo universo expandido da DC - acabou, James Gunn, que comandou O Esquadrão Suicida e a primeira temporada, se tornou chefe do novo DC Studios e o DC Universe foi lançado com Comando das Criaturas e Superman.
Se todas essas mudanças poderiam tirar um personagem como Pacificador do caminho da nova DC, James Gunn segurou o personagem nesse novo universo e logo de cara faz um retcon sem medo da patrulha do “não faz sentido”, colocando o anti-herói de John Cena e seus companheiros no mesmo universo do Superman de David Corenswet. É um movimento inteligente, simples e que não dá tempo nem de escrever 140 caracteres para xingar o diretor antes de a história começar de fato.
A necessidade de estabelecer o “novo” Pacificador no DCU é o grande Calcanhar de Aquiles do primeiro episódio da temporada. Gunn escreve e dirige o episódio que traz diversas referências ao novo universo: de Belle Reve e o Arkham, até Rick Flag Sr. (Frank Grillo) e citações aos acontecimentos de Superman, com a fenda dimensonal destruindo Metropolis se tornando ponto de atenção e prioridade número um da A.R.G.U.S.. É a mesma fórmula que a Marvel usa em suas séries. Personagens do cinema citados, fatos que mexem com uma agência maior… não dá para negar.
A questão é que o Pacificador tem um outro foco, que funciona muito mais. A melancolia e o drama de Chris e do seu grupo de companheiros é excelente e coloca esses personagens em um lugar onde eles estão de fato no imaginário popular. Todo mundo ama Superman e Batman - seja nas HQs, filmes, séries - e poucos realmente se importam com Pacificador, Vigilante (Freddie Stroma), Emilia Harcourt (Jennifer Holland), Economos (David Agee)... Ao levar essa “escanteada” para a trama da série, com o grupo tentando achar seu lugar no mundo depois de tê-lo salvado e sem ganhar os louros devidos, Gunn encontra a jornada principal do 2º ano. Solidão, isolamento e saudade são alguns dos elementos que fazem Chris olhar em outra dimensão uma versão aparentemente melhor dele, do pai e, agora, do irmão Keith (David Denman), que está vivo por lá.
Mesmo com essa ótima temática na mão, James Gunn se perde com piadas ruins e com o humor adolescente que também apresenta em outras obras. O momento mais sintomático é a da presença da Gangue da Justiça, quando Chris Smith tenta uma vaga no time. O que poderia ser um grande momento de decepção para o personagem - que o diretor tenta e segue a história como se fosse - nada mais é do que uma esquete ruim do SNL. Com a presença de Guy Gardner (Nathan Fillion), Mulher-Gavião (Isabela Merced) e Maxwell Lord (Sean Gunn), o diretor abusa de bobeiras envolvendo as nádegas do protagonista e coloca Lord como um idiota, que discute com seus empregados - já que a Gangue faz parte de suas empresas - como se fossem amigos num bar. O grande erro da cena é adaptar o grupo, que tem suas excentricidades em Superman, ao humor quase pastelão de Pacificador em seus piores momentos. É um fan-service que mais prejudica todos na cena do que ajuda na história.
Quem salva o show nesse primeiro episódio é John Cena. O ator abraça a melancolia e as dúvidas de Chris da melhor forma possível e mesmo em momentos ruins, como o citado acima, ele consegue passar para o espectador as emoções e dilemas do herói. Enquanto Gunn parece querer reafirmar mais uma vez que a série é adulta - e a longa cena da orgia é totalmente gratuita para isso -, Cena continua mostrando que Pacificador funciona muito mais com uma ingenuidade desse personagem que só quer, no fundo, se sentir feliz.
O episódio termina com Chris mexendo no vespeiro do Multiverso, matando sua versão do outro mundo e agora tendo que lidar com essa situação. É uma metáfora interessante para o próprio personagem, que deixou para trás muito do que foi construído no DCEU e agora precisa entender como vai seguir em frente, abraçando o novo, que está cheio de possibilidades. O problema é que a história precisa ter foco e James Gunn precisa lembrar o que deu errado em sua antiga casa. Não adianta apenas dizer que o DCU é diferente, precisa mostrar na tela. Por enquanto, os mesmos erros ainda foram cometidos.