Premiada em Cannes, no MIP TV, em 2017, e projetada este ano em Portuga no Fantasporto, Carcereiros, uma das séries mais esperadas da TV aberta nos últimos anos, enfim vai entrar em cartaz na grade da Globo: nesta quinta (26), às 22h20, o telespectador brasileiro vai conhecer a luta de Adriano (Rodrigo Lombardi), um agente penitenciário às voltas com a dura realidade das prisões. Dirigidos por José Eduardo Belmonte (de Gorila e Alemão) e Fernando Grostein (Coração Vagabundo), os episódios partem do livro homônimo de Drauzio Varella e de um material documental elaborado por Pedro Bial. O roteiro contou com dois dos maiores escritores do país Marçal Aquino (O Invasor) e Fernando Bonassi (Luxúria), além de um mestre do terror nas telas, o cineasta Dennison Ramalho (Ninjas), que lança este ano o longa Morto Não Fala.
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Aliás, em paralelo à série, Carcereiros também vai ganhar uma versão pra telona, a fim de retratar uma realidade bruta na qual, segundo Bonassi, as cadeias se transformam em “depósitos de pobres”. “Um carcereiro vive uma situação ímpar: representante de um Estado que não funciona, ele tem que lidar com a ponta mais violenta do crime, e faz isso tendo como arma apenas a sua palavra”, explica Bonassi, autor de peças teatrais aclamadas como Apocalipse 1,11. “Um carcereiro é um indivíduo que precisa flutuar entre a sua moral e a moral do meio em que trabalha, mas em ambos os casos, sua própria sobrevivência repousa em tratos e contratos de confiança mútua, baseado em palavras e atitudes, sem o quê, como se diz: ‘a cadeia vira’. Adriano, como ele próprio diz, ‘vai ao inferno todo dia’, e tenta se proteger do mal da melhor maneira possível".
Com experiências no terror (foi assistente de direção de José Mojica Marins em Encarnação do Demônio), Dennison diz que o Brasil retratado em Carcereiros é “um país brutalizado e brutalizante”. “A série mostra um país de atitudes e medidas polarizadas, cheio de corrupção, racismo, ódio mas, também, povoado de pessoas carentes de amor e compreensão. Se os sistemas carcerários são, ou devem ser, espelhos dos avanços civilizatórios de seus países, o do Brasil, que retratamos nos episódios de Carcereiros, é um lugar de trevas e de desesperança. Há que se ter enorme amor pela vida e força de vontade para não sucumbir — seja atrás das grades ou, como no caso dos personagens, na frente delas”, diz o cineasta.
Repórter policial em sua juventude, Marçal aprendeu nas ruas que “mais do que qualquer outro microcosmo, a cadeia oferece um perfeito retrato do Brasil, com seus apartheids e mazelas e profundos abismos sociais”. “Um rápido exame da população carcerária mostra com exatidão o desenho de classes, com a presença esmagadora de integrantes da base da pirâmide e a ausência quase que total de gente do andar de cima”, diz o roteirista dos cults Os Matadores e Ação Entre Amigos, que assina a esperada versão para os cinemas da HQ Tungstênio, que estreia em maio. “Sobre Carcereiros, penso que, acima de tudo, nosso objetivo primordial é criar entretenimento adulto de qualidade. Há muitas séries prisionais na TV nestes tempos. Cabe ao nosso seriado reafirmar sua originalidade (o ponto de vista do agente penitenciário é inédito em seriados), sem deixar de mostrar o que há de específico (e não é pouco e é dolorosamente desumano) num presídio brasileiro. Adriano é um herói cingido pela tensão entre sua ética pessoal e os desafios que seu cotidiano profissional lhe impõe”.