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Entrevista

Onde Nascem os Fortes | Patrícia Pillar e Alice Wegmann falam sobre luta por justiça em nova supersérie

Dupla vive mãe e filha unidas na busca por respostas após um desaparecimento

23.04.2018, às 17H30.
Atualizada em 27.04.2018, ÀS 08H04

Patrícia Pillar e Alice Wegmann voltam a dividir a cena em 23 de abril, na estreia de Onde Nascem os Fortes, nova supersérie da faixa das 23h da Globo. A dupla esteve junta em 2016, na minissérie Ligações Perigosas, quando a atriz veterana vivia Cecília, uma mulher dissimulada, e Wegman interpretava Cecília, sua ingênua sobrinha. Na nova trama assinada por George Moura e Sergio Goldenberg, com direção artística de José Luiz Villamarim, as duas atrizes voltam a encarnar uma relação familiar, mas, dessa vez, como mãe e filha. Na trama, Cássia, personagem de Pillar, e Maria, papel de Wegman, embarcam em jornadas que, apesar de distintas, acabam convergindo no mesmo ponto: a busca por justiça.

A série se desenvolve a partir do sumiço de Nonato (Marco Pigossi), após uma briga com Pedro (Alexandre Nero), o sujeito mais poderoso de uma cidadezinha fictícia chamada Sertão. Indícios levam a irmã gêmea do jovem, Maria, filha da engenheira química Cássia, a acreditar que o empresário é o responsável pelo desaparecimento. A interrogação sobre o que aconteceu com o rapaz é o ponto de partida da trama, uma saga de duas mulheres em busca por respostas em um lugar muitas vezes inóspito e agressivo. Em entrevista ao Omelete, Wegmann e Pillar falaram um pouco sobre como será a dinâmica das duas personagens na nova trama e o que esperar da produção.

O não saber domina essa menina e é isso o que a leva a fazer tudo o que ela faz. Tudo é muito forte, muito novo, ela descobre milhões de coisas nessa trajetória”, conta a intérprete da jovem Maria, que explica um pouco mais sobre as motivações da personagem em relação à possível perda do irmão já no episódio de estreia. “Eles são gêmeos, ou seja, nasceram juntos, cresceram juntos e faziam tudo juntos. Então, quando, de repente, tem essa quebra, ela se vê perdida. Ao mesmo tempo, ela quer preencher esse vazio descobrindo o que aconteceu de verdade. Ela exige uma resposta para tudo isso e vai atrás”.

O problema é que a necessidade fulminante por respostas que move a jovem acaba sendo fonte de preocupações para sua mãe que, além de não saber o paradeiro de um dos filhos, teme pelo que pode acontecer com a outra caso ela siga confrontando as figuras poderosas da cidade. “Eu vejo uma questão geracional. A Maria tem uma maneira de lidar com isso, que é a de uma moça jovem que não acredita na justiça. Ela vai nesse ímpeto que está associado à coragem. A Cássia vai por outro caminho, que é o de quem acredita que só pelo caminho da lei é possível resolver algo. Na mesma busca, na mesma dor você tem dois caminhos. E, obviamente, não existe um mais certo que o outro”, conta Pillar.

Apesar de ter apenas 22 anos, seria um erro chamar Wegmann de novata: esse já é o oitavo trabalho da atriz na Globo. É claro que não chega perto do currículo de Pillar, na ativa há mais de 30 anos, mas não faltam elogios à postura da jovem atriz no ofício da profissão. “É lindo para mim ver uma menina tão situada, tão ciente do que é sua profissão. É um orgulho danado e uma delícia poder conviver e contracenar. A gente tem um diálogo muito fluido, muito verdadeiro”, elogia a intérprete de Cássia e Wegmann devolve: “chegar aqui e ter a Patrícia me deixou mais segura, mais confortável. Ela é muito parceira, a gente bate uma bola sobre a cena antes e ela é muito carinhosa, cuidadosa”.

Liderança feminina

Para Wegmann, uma das coisas mais interessantes da nova trama é a força de sua personagem, descrita pela própria atriz como uma heroína feminista. “É uma personagem totalmente diferente de tudo que eu, pelo menos, já vi na televisão brasileira. A Maria vai se transformando, ela começa como uma menina de Recife que gosta de fazer bikecross. Ela vai tentar com as próprias mãos e com os próprios pés descobrir o que aconteceu com o irmão e, durante toda essa trajetória, vai virando outra pessoa, fazendo coisas que ela nunca pensou em fazer. Ela pega em uma arma, acidentalmente mata uma pessoa e precisa ficar foragida, ela vira uma espécie de cangaceira moderna”, conta a jovem atriz.

Isso por si só já dá alguma dimensão da intensidade dramática da personagem, mas Wegmann conta ainda que, durante a supersérie, gravou a cena mais intensa da sua carreira. “Era basicamente eu fugindo de dois seguranças do Pedro, um deles tenta me estuprar, eu reajo e sem querer mato um deles. Essa cena a gente fez em um plano sequência no meio daquela loucura toda que é a fábrica [de Bentonita, que serve de locação para a trama], os funcionários trabalhando, aquela poeira, caminhão passando. Foi muito desgastante, mas foi a cena mais emocionante que eu já fiz na vida. Eu tive uma catarse. Quando eu voltei para o set, o Zé Vilamarim estava de braços abertos, a gente se abraçou, ele chorando e eu chorando junto”.

A atriz espera ainda que essa dedicação seja vista na tela. “É muita intensidade e a gente querendo fazer o melhor o tempo todo. Todas as cenas exigem muito da gente, essa da fábrica mostra um pouco de tudo que a gente viveu nesse lugar”, conta. Além disso, Wegmann comemora estar à frente de um papel tão carregado de empoderamento. “Eu acho que é um momento muito especial, por conta da força da mulher. A gente está se descobrindo, o feminismo é um movimento que traz muita voz para a gente e a Maria tem muito isso dentro dela”, completa.

A força do sertão

Se Wegmann encara momentos difíceis, a trajetória de Pillar na série não é menos complicada. Sua personagem é uma mulher que nasceu na cidade de Sertão e foi para Recife, onde criava os dois filhos - o sumiço de Nonato faz com que ela volta ao local e enfrente alguns fantasmas do passado. Para viver uma mãe tão empenhada em lutar pelos herdeiros, Pillar conta que tenta pautar o ofício pela empatia. “Nosso trabalho é tentar se colocar no lugar do outro. Eu nunca tive filhos, mas tento me aproximar dessa tristeza, dessa dor que é um filho ser tirado de forma violenta de uma mãe. É doloroso, não é fácil”.

Se psicologicamente é complicado, a parte prática também não fica atrás. Para tirar a cidade fictícia do papel, o elenco passou meses imerso no interior da Paraíba, convivendo com a aridez. Isso, segundo Pillar, foi fundamental para criar não só sua personagem, mas para todo o elenco. “Ela é parte do sertão e o sertão é parte dela. Esses personagens são frutos do sertão. Eu acho que uma das mais belas coisas que a gente tem nesse trabalho são as pessoas daqui. Pessoas que nos emprestam uma verdade sobre esses lugares que a gente não tem. Somos abençoados por ter essa turma, o Irandhir [Santos, ator pernambucano], o Jesuíta [Barbosa, ator também de Pernambuco], toda essa turma maravilhosa que nos ajudam a dar verdade a essa história”, diz a atriz.

Com direção-geral de Luisa Lima, direção de Isabella Teixeira e de Walter Carvalho, Onde Nascem os Fortes estreia às 23h, em 23 de abril, na Globo.