Quando começou, há sete anos, Once Upon a Time tinha um ingrediente especial para vencer problemas de orçamento e alcançar o sucesso: inteligência. Escrita por Adam Horowitz e Edward Kitsis, ambos da sala de roteiristas de Lost, a série brincava com personagens de contos de fadas de modo esperto e surpreendente. Tanto que ficava fácil perdoar os efeitos especiais ruins e que sempre foram um problema para a proposta fantástica do programa. Com bons atores e um texto bem escrito, a primeira temporada levou a série a ser reconhecida como aquela produção que de longe parece péssima, mas que esconde um imenso potencial.
Contudo, o tempo provaria que aquela era uma ideia ameaçada pelas circunstâncias. Com 22 episódios por ano e um arsenal limitado de personagens a serem explorados, Once Upon a Time logo se tornou escrava da estrutura pseudoprocedural de abordar duas histórias centralizadoras por temporada e ir seguindo sem planejamento até quando o canal dissesse que era o fim. Além disso, como acontece em séries de super-heróis, a dramaturgia sempre focada em vilões querendo assassinar mocinhos ou ganhar mais e mais poder logo cai no erro de banalizar o senso de perigo: toda semana todo mundo quase morre e nunca ninguém morre. Com a credibilidade abalada, o cansaço só foi aumentando a olhos vistos.
Como geralmente acontece com esse tipo de proposta, há sempre um elemento sustentador e no caso de Once Upon a Time esse elemento se chama Regina. Lana Parrilla se tornou uma espécie de pilar imprescindível para a série, tanto que quando a ABC decidiu “reinicializar” a história, Lana era a única certeza de reaproveitamento de elenco. Numa decisão pouco comum, quase todo o cast foi dispensado, permanecendo apenas – além dela – Rumple (Robert Carlyle) e Hook (Colin O'Donoghue). Uma nova maldição deslocaria esses personagens para uma nova realidade, onde novos personagens começariam recriariam a atmosfera da série. Nomes como Jennifer Morrison (Emma Swan) e Rebecca Mader (Bruxa Má) fariam apenas participações ocasionais.
O começo dessa sétima temporada deixa evidente que o resultado dessa “revitalização” parece deslocado. Tiraram os personagens clássicos de suas funções, mas colocaram personagens novos exercendo as mesmas posições. Então, estão lá Lucy (Allison Fernandez), a filha de Henry (Andrew West), que acredita na fantasia enquanto ele não. Ele a segue até uma cidade em que ninguém sabe que é personagem de conto de fada e lá a guarda da menininha é disputada por Victora Belfrey (Gabrielle Anwar), uma empresária sem coração que manipula e castiga. Basicamente é a mesma carpintaria do primeiro ano, quase exatamente igual.
Em torno disso, seguem as dinâmicas conhecidas em que até mesmo a decisão de mostrar Cinderela como uma princesa forte, decidida e até meio amoral, já são parte da estrutura da série. Cinderela surgir na pele de uma atriz latina (Dania Ramirez) é o tipo de charme que a série já tinha antes. Bastam 15 minutos de episódio para ficar claro que nada mudou, mesmo que muito tenha mudado. É possível prever exatamente para onde a trama vai, mesmo que segredos e reviravoltas estejam claramente reservadas para os episódios futuros. A promessa de grandes mudanças se esvazia a cada bloco e tudo soa cansado e familiar.
A mudança para Seatle acaricia um pouco a expectativa da audiência e é bom ver a série investir em mais externas urbanas. Os novos papéis de Rumple, Regina e Hook na história são curiosos e distantes do que foi visto anteriormente. Assim como fizeram em Lost, os criadores gostam de ir e vir no tempo para revelar detalhes do presente. Saber como os três foram parar ali será o elemento mais relevante desse ano. Porém, a incapacidade de ousar na “melodia” essencial da série decepciona e desanima. A promessa de que outros personagens antigos retornarão aumenta a sensação de déjà vu e não vai demorar muito para que pareça que nenhuma “mudança” realmente aconteceu.
Once Upon a Time continuará no ar por todos os bons e maus motivos de sempre, sendo como sempre foi e contando e recontando o mesmo história. Afinal, assim são os contos de fada.
*A sétima temporada de Once Upon a Time estreou em outubro nos EUA e chega ao Brasil apenas em janeiro de 2018.