O primeiro episódio da volta de Les Revenants, drama sobrenatural ausente das telas de TV desde o final de 2012, é um prêmio para aqueles que conseguiram esperar tanto tempo após o final de sua primeira e brilhante temporada. Ouvir o tema composto pelo grupo Mogwai novamente já coloca os espectadores no clima para aguentar a densidade da série, que continua forte e as vezes até mais aterrorizante nessa segunda temporada.
Os cinco primeiros minutos de "L'Enfant", episódio de abertura do novo ano da série, são de uma beleza pouco comum em séries de TV e de uma atmosfera digna dos mais consagrados filmes de terror psicológico. O espectador se sente tão perdido e desorientado quanto Adele (Clotilde Hesme), aparentemente ferida dentro de uma ambulância. A construção do clima de paranoia e apreensão resulta numa promessa para os próximos capítulos: as coisas não serão mais as mesmas.
A partir desse ponto, Les Revenants precisa cuidar de diversos núcleos e os seus diferentes estágios emocionais. Muitos estão passando por mudanças assim como a decadente cidade, cada vez mais vazia. E é nesse clima de solidão e melancolia que mora um dos maiores trunfos da produção. Sempre tentamos encarar as situações com otimismo e procuramos achar uma saída para as situações mais difíceis. Porém essa tarefa se torna quase impossível uma vez que somos completamente absorvidos pelo clima da série e induzidos a compartilhar a mesma visão dos personagens.
Desde sua primeira temporada, Les Revenants já pode ser considerada uma das séries mais tristes já criadas - e agora, ao lado de The Leftovers, ela continuará figurando na lista, já que sua segunda temporada não busca trazer qualquer tipo de alegria à sua trama. Afundando assim como a cidade, os próximos episódios, se seguirem o ritmo do primeiro, estão rumo a um poço de tristeza, cercado por protagonistas profundos e bem desenvolvidos.
O desenvolvimento de personagens consegue mostrar sua força já no capítulo introdutório, trazendo carga emocional aos acontecimentos da primeira temporada, onde todos ainda estão colhendo as consequência dos retornos e tentando lidar com os mistérios que ainda os cercam. Les Revenants é, mesmo em ritmo lento, uma montanha-russa de emoções pesadas, talvez alcançando o máximo que uma série de TV consegue nesse quesito.
Em um dos melhores exercícios de direção, fotografia e roteiro, a volta de Les Revenants é construída com perfeição e, ao mesmo tempo em que consegue dar continuidade à sua incrível primeira temporada e agradar os fãs, funciona e se apresenta como uma espécie de novo começo.