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Segunda temporada de L.A.’s Finest começa com gosto de prato requentado

Esforço dos atores não compensa história sem carisma e piadas sem graça do episódio de estreia

18.09.2020, às 18H52.

Até agora, 2020 foi palco de diversos acontecimentos marcantes, nem todos positivos. Um dos maiores destaques do ano, aliás, foi o crescimento do movimento Black Lives Matter que, após anos denunciando a brutalidade policial contra civis negros, teve seu estopim nos Estados Unidos após a morte de George Floyd, sufocado por um policial quando já estava rendido, e de Breonna Taylor, alvejada por oficiais em sua casa. Os protestos contra a violência contra a população negra levaram diversas produções policiais, como Law & Order: Special Victims Unit e Brooklyn Nine-Nine, a reescrever roteiros para melhor refletir a relação entre a população e a polícia. Outras séries, como L.A.’s Finest, tiveram as estreias de seus novos anos adiadas por causa do momento delicado e, já no primeiro episódio da segunda temporada, é possível entender por quê.

Por mais que tenha sido gravado meses antes do início dos protestos, o episódio de estreia faz um esforço consciente para definir “bem” e “mal”. Frases soltas sobre mudanças na polícia de Los Angeles ou detetives fazendo juras de honestidade a testemunhas pareceriam irreais mesmo se o contexto mundial fosse diferente. A constante tentativa de reforçar as virtudes dos “detetives bonzinhos” não consegue substituir um bom desenvolvimento. A primeira hora do segundo ano L.A.’s Finest usa falas truncadas e, dado o momento atual nos Estados Unidos, falaciosas para convencer o público a torcer pelas protagonistas, mas não mostra nenhuma ação que efetivamente comprove seus argumentos. Essa abordagem desconexa da realidade deixa série ainda mais perdida em meio a tantas produções policiais, atuais e antigas, que exploram melhor diferentes facetas de seus personagens, não limitando-os a mocinhos e vilões.

A direção de “The Curse of The Black Pearl”, assinada por Anton Cropper (Suits, Black-ish), deixa bastante a desejar. Enquanto as cenas de ação são confusas e mais barulhentas do que empolgantes, as tentativas de humor são sem graça e ainda tentam reciclar piadas dos filmes dos Bad Boys, franquia da qual L.A.’s Finest faz parte.

Assim como a primeira temporada, este retorno da produção desperdiça o bom trabalho do elenco principal. Apesar de inserida em uma história fraca, a dinâmica entre Gabrielle Union e Jessica Alba continua sendo o ponto alto da série e mesmo os coadjuvantes Duane Martin e Zach Gilford têm seus momentos de brilho. Se não estivesse preso a diálogos truncados e trama óbvia, o quarteto teria condições de elevar a produção até, no mínimo, o nível de programas concorrentes.

Mesmo que mire em ser um entretenimento descomplicado, L.A.’s Finest mal consegue fazer o mínimo para divertir o público. A visão torta e quase utópica da relação entre policiais e civis desprende ainda mais o espectador da história e o bom trabalho do elenco é sufocado por um roteiro sem sentido. Ainda mais prejudicada pelo péssimo timing do lançamento, a série parece ter um caminho difícil pela frente, especialmente se o restante da segunda temporada entregar a mesma qualidade medíocre do episódio de estreia.