Minha viagem para Los Angeles naquele final de fevereiro tinha um objetivo: o primeiro Oscar do Brasil com Ainda Estou Aqui. As coisas mudaram, ou melhor, aumentaram de escopo, com o convite para visitar o set da segunda temporada de Fallout, maior sucesso do Prime Vídeo em 2024. E foi assim que, poucas semanas após os grandes incêndios que atingiram a cidade, embarquei para o árido interior da Califórnia, o cenário perfeito para reconstruir o cenário da segunda temporada: New Vegas.
Nossa primeira parada foi nos estúdios onde a Vault 33 foi construída. A primeira temporada de Fallout foi produzida na Costa Leste, em estúdios em Nova Iorque, mas depois de uma proposta grande de incentivo fiscal, a Amazon viajou para cidades Los Angeles e San Diego para moldar o pós-apocalipse da franquia da Bethesda. E quando digo “viajou” é no sentido literal da palavra. A operação por trás da nova temporada foi gigantesca e envolveu mais de 25 caminhões de grande porte transportando cenários e equipamentos de costa à costa com o auxílio de outros 70 caminhões menores.
Essa mudança deixou que a produção montasse a Vault 33 em um cenário único e totalmente interligado, com corredores hiper detalhados, móveis e eletrodomésticos vintage e grandes portas e janelas. Fallout tem um trabalho de direção de arte fantástico, que ajuda ainda mais a imersão não apenas do espectador, mas de todos os atores e figurantes que andavam pelas áreas do “esconderijo”. Todos de azul e amarelo, com o uniforme oficial, eles se preparavam para gravar um momento, digamos, alegre - que ainda não podemos revelar (você pode ver um pouco dela em um dos trailers). A cena foi feita diversas vezes, com câmeras penduradas uns 10 metros acima dos 30 atores que estavam no set e muito trabalho para a equipe de continuidade que precisava entrar em ação para organizar tudo de novo.
Nos arredores de New Vegas
As gravações começaram em novembro de 2023 e foram pausadas por 10 dias devido aos incêndios que atingiram os EUA. A produção continuou em ritmo ágil mesmo com os atrasos, com episódios sendo gravados ao mesmo tempo - algo que eu pude presenciar também nesta visita. Deixamos o estúdio em direção a um rancho que já havia sido usado para outras produções e chegamos à entrada da tão aguardada New Vegas. Cometi o erro de ir de tênis branco e a essa altura, andando cinco minutos pelas ruas de terra, eles já estavam completamente marrons.
Sem poder tirar fotos ou filmar nada, minha cabeça e as notas do celular iam se enchendo com as informações e os muitos detalhes do cenário aberto. O sol ajudava ainda mais o cenário cheio de poeira com vários figurantes vestindo roupas sujas e rasgadas. Eu estava andando pela Freeside de Fallout. No meio dela, Walton Goggins surgiu como Necrótico, usando seu visual completo e com o nariz para fora da prótese, marcado pelos pontos onde os efeitos especiais agirão para tirá-lo. Infelizmente não consegui falar com o ator, ele estava muito focado na cena que veríamos sendo filmada - e por questão de embargo, sim ela é importante deste jeito, não posso falar ainda. Mas assim que ela for ao ar, conto as curiosidades dela por aqui.
Entramos em um queridinho dos fãs para acompanhar a cena: o Atomic Wrangler. Totalmente construído do zero, o cenário abrigava a equipe que fugia do sol e acompanhava a cena pelos monitores. Sempre que dizia ser do Brasil, a reação era de felicidade tanto dos roteiristas que estavam por lá, quanto da equipe de relações públicas e marketing. Em uma conversa com o showrunner Graham Wagner, ele relembrou a atmosfera do público brasileiro durante a CCXP 23, lugar que marcou a série como o início de seu sucesso. Não é à toa que os representantes do marketing já estavam pensando no que fariam na CCXP 25 e, bom, agora já vimos que dá para esperar a volta para o terceiro ano.
Entre uma gravação e outra, passamos por detalhes como cartazes escritos Dean Domino: King of Swing, a escola de imitação de Elvis Presley, um grande letreiro do Silver Rush e o portão de entrada para a Las Vegas escrito "Welcome to the Strip", idêntico aos jogos. Uma loja de armas com milhares de itens, vários tirados diretamente dos games de Fallout e impressos em 3D. Tudo prático e construído de verdade, assim como as Stimpaks, Mentats e Rad-X, as armas de verdade no set. Para nossa segurança, o coordenador pediu que saíssemos do local quando ele começou a manejar o equipamento.
Fallout tem própria timeline e teve ajuda de The Last of Us
Do lado de fora, encontramos Geneva Robertson-Dworet, criadora da série, ao lado de Graham Wagner. Perguntei se os fãs da série poderiam esperar alguma história parecida com a do game de New Vegas e ela contou mais sobre a visão que os criadores e roteiristas têm para Fallout. “Cada jogador vive Fallout de um jeito diferente, cada um toma suas próprias decisões, e a nossa série reflete isso ao criar sua própria timeline”, disse a criadora. “Fallout é baseada nas escolhas narrativas que faz para a nossa história, mas tudo dentro de um universo canônico. A ideia não é substituir a experiência dos jogos, mas oferecer outra rota dentro da mesma Wasteland.”
A equipe não esconde também que outra adaptação, The Last of Us, da HBO, foi imprescindível para que a produção do Prime Video desse certo. “The Last of Us ajudou a mostrar que adaptações de games podem funcionar muito melhor na TV”, disse uma assistente da equipe de produção. “Fallout segue esse caminho, mas com identidade própria: mais satírica, mais violenta e profundamente conectada à cultura dos jogos”.
Se a primeira temporada apresentou esse mundo de forma colorida e fiel ao que os fãs amam na obra, a julgar pela grandiosidade dos sets e a paixão pelos detalhes que a equipe de produção coloca em cada canto, assim como em uma boa mesa de cassino, podemos apostar que a segunda temporada de Fallout está pronta para jogar pra valer.