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Entrevista

Dragon Ball Super | "O desafio é manter o nível de Dragon Ball Z", diz Wendel Bezerra sobre a dublagem brasileira

Falamos sobre a versão nacional com a voz de Goku, que também é diretor da adaptação

03.08.2017, às 18H36.
Atualizada em 04.08.2017, ÀS 13H10

Ao lado de Cavaleiros de Zodíaco, Dragon Ball é uma das franquias de anime mais queridas pelo público brasileiro desde que apareceu nas telinhas pela primeira vez em 1996. Agora, mais de 20 anos e muitas versões depois, um retorno está marcado para acontecer pelo Cartoon Network com Dragon Ball Super, a série de TV iniciada em 2015 no Japão.

Normalmente um atraso de quase dois anos seria o suficiente para irritar até o fã mais calmo, mas o anime conta com uma qualidade especial: a dublagem em português-brasileiro. Antecipando a estreia, o Omelete conversou sobre o processo de tradução com Wendel Bezerra, diretor de versão nacional e ator responsável pela icônica voz do protagonista Goku.

Trabalhar em uma franquia de fã  fervorosos significa que qualquer mudança será divisiva. Ele começa explicando o processo e os desafios de adaptar a obra de Akira Toriyama. "O público é muito grande, exigente e tem uma expectativa muito grande com essa série - mais que Dragon Ball Z. Então, qualquer coisa que a gente faça vai agradar muitos, desagradar muitos outros. É preciso ter calma, frieza e tranquilidade pois as escolhas nunca são feitas sozinhas, pela cabeça de alguém. É uma equipe que traduz, normalmente a mesma que traduzia os mangás, então conhecem bastante. Aí passa pelo diretor.

A maioria das coisas precisa ser revisada pela Toei e pelos produtores para ter aprovação, então qualquer coisa decidida passou por algumas pessoas, tanto escolha de elenco, títulos, versões musicais. Tudo é feito em grupo e sempre com a aprovação do cliente. O maior desafio então é, na verdade, fazer o melhor possível e estar preparado para a recepção porque muita gente já assistiu e acompanha. É um grupo de profissionais tentando fazer seu trabalho e o desafio é manter o nível que foi Dragon Ball Z."

Falando no anime clássico, um dos pontos mais fortes da tradução é contar com todo o elenco original, algo muito pedido pelo público. "Acho que é muito importante manter o maior número de vozes possível da dublagem do Dragon Ball Z porque elas se encaixaram muito bem em cada um dos seus personagens, de acordo com sua característica físicas e perfis psicológicos. Isso é importante porque é quase um sonho do público que assistiu na época, eles não querem perder a identidade. Isso acontece com muitas séries e filmes clássicos, ai se tem uma dublagem nova é como se fosse outro personagem, não é a mesma coisa. Existe uma ansiedade, uma expectativa, em função dessa memória afetiva que as pessoas têm com a série, com aquilo que elas assistiram na infância e na adolescência. Foi muito marcante.

O sucesso das vozes com seus personagens foi uma coisa decisiva para a aceitação e sucesso de Dragon Ball Z, então foi importante manter isso. Dá um pouco de trabalho, realmente, porque faz muitos anos que gravamos DBZ: algumas pessoas pararam de dublar, outras moram muito longe, tem até dublador morando fora do país, mas não medimos esforços para conseguir trazer todas as vozes que fizeram parte da série clássica. Foi difícil - está sendo difícil - mas a gente tem conseguido e os dubladores estão muito contentes em poder fazer parte desse projeto."

Com certeza não é tarefa fácil, e Bezerra garante que o processo todo toma bastante tempo. "Dublamos os episódios em blocos de cinco capítulos, para otimizar a vinda de cada ator: ao invés do ator comparecer várias vezes, você junta cinco episódios e ele faz a parte dele ao longo de todos. Um único capítulo demora em torno de 10 horas para dublar, em média. 10 horas de estúdio, depois tem uma hora de controle de qualidade, uma de mixagem, uma de edição e outra de envio para fora do país. Ao total, dá 14 ou 15 horas de dedicação da equipe inteira. Ah, e também tem a tradução. Leva em torno de oito horas para traduzir cada episódio."

Por fim, o dublador também comentou uma polêmica recente envolvendo a tradução da sequência inicial, recentemente divulgada na internet. "Vi que muita gente odiou a música de abertura. Como eu disse, qualquer coisa que fizermos será divisiva, então temos que lidar com isso. Com relação à abertura, pelo o que eu sei já havia uma feita por uma banda de fãs e se habituaram com aquela versão. Normalmente a primeira referência que você tem é a que acaba ficando na sua mente, então acho que teve esse questão de se acostumarem com a versão que rodava pela internet.

Fazer uma versão brasileira envolve fazer uma tradução da música, ai criar em cima do significado, passar a tradução para o inglês, mandar para o Japão onde um grupo avalia a fidelidade. Então gravamos a música com diversas vozes e mandamos tudo para lá onde eles escolhem qual versão fica melhor e aprovam.

É uma coisa feita por profissionais tentando fazer o melhor possível. O tradutor tentou ser fiel, assim como a adaptação; Os cantores dão o seu melhor, e ainda um grupo de pessoas que são donas do projeto no Japão decidem. Particularmente não acho que seja a melhor das músicas de Dragon Ball, mas as de encerramento são muito melhores. Não tem a mesma pegada que Super requer, mas é a música de abertura.

Não há o que se fazer, foi cantada e mixada por profissionais. Infelizmente nem sempre é possível atender a vontade de parte do público. Com o tempo as pessoas vão se acostumar e curtir a música", conclui.

Dragon Ball Super estreia pelo canal pago Cartoon Network em 5 de agosto, com os quatro primeiros capítulos indo ao ar às 17h, com reprise às 23h. A exibição regular acontecerá todos os dias, de segunda à sábado, às 15h30. Também haverá reprises todos os dias, às 23h. Também haverá maratonas no mesmo horário aos sabados.

Além disso, o serviço de streaming Crunchyroll se encarrega da transmissão simultânea no país, mas apenas com legendas em português.