Grag Queen brinca que todas as competidoras do Drag Race Brasil são “suas filhas” - e elas todas puxaram à mãe. “Tem as que cantam, que nem eu; tem as que estão sempre viajando, que nem eu; tem as que são mais do corpão, que nem eu; tem as que são mais do corpinho… que nem eu também”, lista a cantora e apresentadora do reality show, aos risos.
Em entrevista ao Omelete às vésperas do lançamento da segunda temporada do programa, Grag contou sobre como deu o seu “tempero especial” ao trabalho de apresentadora do Drag Race, comparou os cenários nacional e internacional da arte drag, e vilumbrou um futuro grandioso para o reality show brasileiro.
A segunda temporada do Drag Race Brasil estreia hoje (10), às 21h (horário de Brasília), pelo serviço de streaming WOW Presents Plus. Os capítulos seguintes sairão em regime semanal, sempre às quintas-feiras. Confira a entrevista completa a seguir!
OMELETE: Olá, Grag, bem-vinda ao Omelete!
GRAG QUEEN: Oi, Omelete!
OMELETE: Bom, apresentar o Drag Race é um trabalho que vem com bagagem. Como você trabalhou para encontrar o seu próprio estilo de apresentação? Existe uma preocupação de carregar o legado de RuPaul?
GRAG QUEEN: Então, é uma doideira carregar esse legado que pertence, simplesmente, à pessoa que eu mais sou fã nesse mundo. Muito maluco isso, mas eu tento sim imprimir a minha imagem, botar os meus bordões, trazer o meu coração - eu acho que essa é a variante de tudo. No programa a gente tem textos, tem regras, tem normas, tem falas, mas o que a gente personaliza ali é o material humano. Eu tenho muito coração, torço pelas meninas, sou mãe, filha, prima, tia, amiga. E isso é o que dá todo o borogodó brasileiro do nosso programa, né?
OMELETE: A primeira temporada do Drag Race Brasil foi um sucesso. Como isso se refletiu na segunda? O pessoal pode esperar uma produção maior, desafios e looks mais elaborados?
GRAG QUEEN: A maior diferença está nas próprias queens. Na primeira temporada, as participantes que estavam lá se arriscaram, né, foram tentar ver o que que ia acontecer após a exposição na TV. Ninguém sabia como ia ser a repercussão na internet, como ia lidar com grandes shows e demandas, se é que elas viriam! Agora, as meninas da segunda temporada têm o privilégio de entender qual caminho seguir, e isso faz elas chegarem com mais vontade de ganhar, porque elas sabem que o Drag Race Brasil é capaz muda vidas, e mudou a vida de todo mundo que participou. Elas estão com mais fome, estão a fim de fazer TV, estão muito criativas, e isso dá muito, muito tempero pra nossa competição.
OMELETE: Sobre as queens dessa segunda temporada, você consegue nos dar um gostinho do estilo de alguma delas? Quem é a comedy queen da temporada, quem é aquela que serve todos os looks, quem arranja mais treta na werk room?
GRAG QUEEN: Então, elas são todas minhas filhas, né? Tem as que cantam, que nem eu; tem as que estão sempre viajando, que nem eu; tem as que são mais do corpão, que nem eu; tem as que são mais do corpinho, que nem eu também. [Risos] Tem as que são mais engraçadas, tem as que dançam... Mas, no Drag Race Brasil, a competição é sobre mostrar que você realmente consegue transitar por todos os estilos: comédia, dança, carisma, Snatch Game. Então, na verdade, acho que todas têm vários talentos, porque a competição pede isso. Mas o gostinho eu não vou dar - vocês que têm que assistir, que saber.
OMELETE: As temporadas mais recentes de Drag Race, no mundo todo, têm lidado com um contexto político de virada ao conservadorismo, com muitos países inclusive se movendo para criminalizar ou marginalizar a arte drag. Como você vê esse contexto no Brasil hoje em dia, e que papel o Drag Race Brasil pode desempenhar?
GRAG QUEEN: Eu acho que, felizmente, estamos muito longe de criminalizar drag queens no Brasil - mas a gente sabe bem o que que tá acontecendo no resto do mundo. Eu tenho amigas que moram nos Estados Unidos, pessoas trans que falam com a gente, fãs, drag queens contando o quanto de maluquice tem acontecido pro lado de lá. E a nossa arte é isso, ela é política por si só, né? Estar aqui de peruca, brincando com a sua mente, fazendo arte, estando inserida no mercado, estando de bem com a minha família… isso é político. Eu acho sim que a minha arte, essa arte drag, é revolucionária. O fato de existirmos, resistirmos, já é um grande ato político - e com certeza, também, falar sobre isso, aproveitar a plataforma que temos para falar sobre. Nós ainda somos minoria, ainda vivemos dentro dos nossos espaços, então tem que falar com o público fora do nosso nicho para que tenhamos a proteção dessas pessoas, dos nossos aliados - projetos de lei, questões de segurança mesmo. Ainda é babado ser drag queen, e a gente tem visto que é.
OMELETE: Você tem experiência na cena drag brasileira e internacional. Como você compara os dois cenários? Nós temos queens que conseguem competir num nível global?
GRAG QUEEN: Os dois cenários são muito diferentes, sim. Porque tem a ver com a cultura de cada lugar, e nós somos Brasil - a gente é extra, é flamboyant, é ziriguidum. Falo em inglês, em francês e em português, em qualquer língua. As gatas dos Estados Unidos fazem o nome delas, mas aqui é muito mais babado. Qualquer coisa do Brasil é mais babado, vem com mais tempero, vem com o nosso molho. É inegável. Quando as queens americanas vêm pra cá, elas ficam doidas. E nós temos fenômenos aqui também - Pabllo Vittar, Gloria Groove -, a gente também revolucionou trazendo a cena drag para o mainstream. Eu tenho muito orgulho de ser drag, mas muito, muito mais orgulho de ser drag brasileira. E apresentar o Drag Race Brasil, ter várias filhas e sair pelo Brasilzão detectando talentos, é o meu maior sonho virando realidade.
OMELETE: RuPaul's Drag Race está no ar há mais de 15 anos. Você almeja que o Drag Race Brasil chegue nessa longevidade? Quer permanecer no programa por muito tempo?
GRAG QUEEN: Com certeza! Até porque, por onde andei nessas ruas do Brasil, vi muitos talentos, muitas gatas e gatos fazendo a arte drag de uma maneira muito singular. Tem gente esforçada, muitas pessoas que são boas e só não têm a plataforma, só não têm o holofote. Olha o meu caso, eu precisei de uma oportunidade para mostrar quem eu era. Saí do meu quarto para ser a rainha do universo [Grag Queen venceu a competição de canto drag internacional Queen of the Universe, ou “Rainha do Universo”, em 2021]. Então eu digo às minhas futuras filhas, e axé por isso, que sigam tentando, se inscrevendo, e sigam mando a sua arte, sendo fiéis a si mesmas e botando muita fé. Uma hora pode rolar.
OMELETE: Obrigado, Grag! E parabéns pela segunda temporada.
GRAG QUEEN: Um beijo, Omelete! Muito obrigada.