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Crítica

Young Sheldon - 1ª temporada | Crítica

Iain Armitage e Zoe Perry dão um show de química na série, mas quem comanda o spin-off de The Big Bang Theory é Meemaw, a avó do pequeno nerd

30.05.2018, às 13H01.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H33

Após 11 anos de The Big Bang Theory, a CBS decidiu que era hora de trazer um pouco de frescor para os fãs da atração e plantou sua primeira semente de spin-off. Levando em conta que a aclamada comédia está inevitavelmente chegando perto de sua conclusão, Young Sheldon foi uma iniciativa aparentemente previsível e confortável do ponto de vista da emissora ter apostado no personagem mais icônico da série original. Contudo, logo nos primeiros episódios fica claro que as semelhanças entre as duas produções são bastantes limitadas, o que é ousado do ponto de vista de apostar em novos públicos e dinâmicas bem diferentes do que foi visto até então em The Big Bang Theory.

A série se aventura pela infância de Sheldon (Iain Armitage), mostrando os pequenos percalços de um menino superdotado de inteligência imerso em uma comunidade intelectualmente pouco estimulante. A base da trama está no relacionamento familiar e ainda que seja muito focada nisso, não é só o ponto de vista de Sheldon lidando com o mundo que recebe os holofotes: há espaço de sobra para como o próprio rapaz impacta de maneira ora positiva, ora negativa a vida de quem orbita ao seu redor. Assim como The Big Bang Theory não funciona só com Leonard (Johnny Galecki) e Sheldon (Jim Parsons), Young Sheldon precisa de seus coadjuvantes para acontecer.

Como era de se esperar, apesar do pequeno gênio dar nome ao programa, o protagonismo é dividido entre Sheldon e Mary Cooper (Zoe Perry), sua mãe. O sucesso da dinâmica vem do fato dos dois serem figuras extremamente opostas em comportamentos, crenças e personalidades, mas estarem ligados pelo amor incondicional que só uma mãe e um filho ainda na infância conseguem transmitir. A relação dos dois é complicada, mas, ao mesmo tempo, é bonita ao mostrar que as diferenças não se sobrepõe em nenhum momento ao afeto de ambos. Nesse ponto, tanto Armitage quando Perry dão conta do recado.

A dupla de atores protagonistas acerta o ponto em apresentar personagens conhecidos como figuras quase inéditas. Há muito do Sheldon de Parsons em sua versão jovem, mas Armitage entrega uma versão menos lapidada do icônico físico teórico. É um desafio recriar Sheldon em roupagem ainda mais desajustada socialmente por ainda não ter passado por determinadas experiências e, é claro, pela ausência de determinados filtros em função da idade - o jovem ator consegue fazer isso. Paralelamente, Perry também entrega uma Marry enfrentando o ineditismo de lidar com as excentricidades do filho ainda sem o ar de experiência - e cansaço - de Laurie Metcalf em The Big Bang Theory.

No geral, nenhum personagem sobra ou sofre com desempenhos irregulares. Missy e o George pai não contam com grandes arcos elaborados, mas funcionam como secundários. A relação da irmã gêmea com Sheldon é bonita e a garota é responsável por boas tiradas. No caso do George filho, Young Sheldon ganha pontos por contrapor tudo que foi apresentado sobre ele até então em The Big Bang Theory: não que alguém duvidasse, mas ter Sheldon como irmão não foi fácil e a série mostra isso. O destaque absoluto, contudo, é de Connie, a Meemaw, mãe de Mary e avó de Sheldon vivida por Annie Potts.

Do ponto de vista de que Connie é de fato a melhor personagem do programa, é prazeroso para o público vê-la tomando a série para si episódio a episódio, até que os capítulos finais da primeira temporada sejam completamente focados em suas confusões. Por outro lado, é estranho que Sheldon, o personagem-título da atração, vá se apagando a ponto de passar parte do tempo relegado ao papel de mero espectador - literalmente, já que ele perde muito tempo com um binóculo na janela - dos desenlaces afetivos de sua avó. Fica a dúvida se os roteiristas de fato acreditam que a infância do famoso gênio é terreno fértil para seguir contando histórias ou se frequentemente a bola precisará ser assumida por algum dos personagens que o rodeiam para que a série não fique sem assunto.

Um ponto positivo da série é a habilidade em trabalhar a familiaridade do público com parte dos personagens, seja subvertendo noções pré-estabelecidas ou as reforçando. É muito interessante ver George e Missy ganhando novas camadas fora da ótica limitada que havia sido exposta pelo Sheldon de Parsons. Além disso, falando em rostos conhecidos, a primeira temporada conta com várias participações interessantes, como Bob Newhart, que reprisa seu papel como Arthur Jeffries, além de Ray Liotta, Frances Conroy, Michael Cudlitz e vários outros. Há alguns outros confortos mais óbvios também como a própria narração de Parsons e, é claro, a assinatura de Chuck Lorre.

De modo geral, Young Sheldon não é tão engraçada quanto The Big Bang Theory em função de não ter a malícia adulta dos personagens da produção original, já que, no caso da derivada, seus personagens são basicamente crianças e um casal religioso - provavelmente o destaque de Connie vem justamente daí. Isso não quer dizer, é claro, que a série não divirta: em Young Sheldon, o humor é envolto em uma capa de ingenuidade, o que faz sentido levando em conta o contexto da trama. Há boas piadas, a maior parte delas envolvendo a criação religiosa dos Cooper e os questionamentos de Sheldon sobre isso. Não é, contudo, o tipo de série para dar gargalhadas. No máximo, o espectador passa os 20 minutos de cada episódio com um sorrisinho de canto da boca - o que não deixa de ser uma boa experiência.

Nota do Crítico
Bom