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Séries e TV

Crítica

Wandinha desperdiça apelo de protagonista ao se dobrar a clichês adolescentes

Previsível, série da Netflix usa A Família Addams para contar história genérica

18.11.2022, às 11H11.

A Família Addams sempre se orgulhou de ser diferente. A franquia, que nasceu em tirinhas de jornal assinadas por Charles Addams em 1938, se tornou uma das mais amadas da cultura pop por seu humor mórbido e personagens que se recusam a se encaixar na definição de uma “família tradicional”. Esse histórico de mais de 80 anos de não-conformidade, no entanto, parece ser quase completamente ignorado por Wandinha, série da Netflix focada na primogênita de Mortícia e Gomez Addams.

O derivado estrelado por Jenna Ortega até começa com o pé direito. O primeiro capítulo da produção é muito bem montado, com direção, atuações e diálogos que lembram, em tom e qualidade, os filmes dos anos 1990 estrelados por Raúl Juliá, Anjelica Huston e Christina Ricci, que retorna à franquia, desta vez como uma professora de Wandinha. Infelizmente, essa qualidade inicial desaparece quase completamente já no capítulo seguinte, que se entrega a todos os clichês que dominam suspenses adolescentes atuais. Do interesse amoroso problemático à presença de um assassino misterioso, nada do que acontece em Wandinha é surpreendente, uma vez que já foi feito dezenas de vezes em séries como Pretty Little Liars, Riverdale, Control Z e afins.

Além do abuso de lugares-comuns, Wandinha também peca por seu roteiro esburacado e óbvio, que muda personalidades e relações de personagens de uma hora para a outra, como se cada episódio fosse escrito às cegas por equipes criativas completamente diferentes. Bobo, o texto da produção parece mais uma fanfic escrita por inteligência artificial do que realmente um script de uma produção milionária baseada em uma propriedade intelectual adorada.

Há também uma diferença brutal entre os episódios dirigidos por Tim Burton e os comandados por James Marshall e Gandja Monteiro. Enquanto o diretor de Edward Mãos de Tesoura imprime toda a bizarrice que se tornou sua marca registrada nos capítulos que comanda, Marshall e Monteiro parecem se contentar em emular precariamente o estilo do cineasta, contribuindo para a falta de personalidade que assombra Wandinha.

Um dos poucos pontos altos da série está em seu visual. Ao contrário dos roteiristas, os designers de Wandinha souberam ampliar o mundo esquisito d’A Família Addams para além de sua icônica mansão, fazendo da Escola Nunca Mais um ambiente ao mesmo tempo acolhedor e assombroso, que contrasta muito bem com a cidadezinha “normal” com quem faz fronteira.

O elenco da produção também merece ser elogiado. Embora trabalhem com base em um material sofrível, Ortega e companhia entregam bons trabalhos, tornando Wandinha ao menos assistível. Principal destaque desta primeira temporada, Gwendoline Christie intimida e acolhe em proporções iguais como a diretora Larissa Weems, cuja preocupação com a Escola Nunca Mais só é superada por seu desejo de cuidar dos seus alunos – mesmo que isso signifique mentir para eles.

Infelizmente, nenhuma atuação ou cenário é capaz de salvar Wandinha de seu roteiro baseado em algoritmos. Decepcionante, a série desperdiça a extravagância de A Família Addams e se contenta em ser apenas mais um título adolescente que será esquecido quando a Netflix inevitavelmente lançar mais uma produção formulaica do gênero.

Nota do Crítico
Regular