This is Us/Fox/Divulgação

Séries e TV

Crítica

This is Us - 4ª temporada

Série evolui ao mostrar os defeitos da família Pearson, sem perder a emoção

26.03.2020, às 10H26.

This is Us estreou na televisão em 2016 e rapidamente fez os fãs se apaixonarem pela família Pearson, um grupo de pessoas incríveis marcado por uma grande tragédia. Com o desenvolvimento das temporadas, surgiu a dúvida de quanto tempo a série duraria, afinal o formato adotado sempre foi de voltar ao passado para mostrar o crescimento de Kevin (Justin Hartley), Randall (Sterling K. Brown) e Kate (Chrissy Metz). Isso acabaria em algum momento, certo? A resposta é sim e não. Em sua quarta temporada, This is Us prova que há material para durar muito e ainda amadurece ao tirar o ar de “santidade” de alguns personagens.

Esse conceito já tinha sido abordado muito bem com a própria história de Jack (Milo Ventimiglia). O patriarca que morreu protegendo sua família e sempre fez de tudo por eles, também tinha defeitos, como qualquer pessoa. Foi doloroso para os fãs ver isso em tela, claro, mas o ganho narrativo foi imensurável. Ao ter camadas, Jack deixou de ser apenas uma figura perfeita em uma série e se tornou um igual com seus espectadores. Agora isso é feito com Randall.

Não que o premiado personagem de K. Brown fosse perfeito. Desde o começo, This is Us mostra como o marido de Beth (Susan Kelechi Watson) tem traços de arrogância, mas nesta temporada isso é aprofundado, não para justificar as ações de Randall ou tirar sua culpa de situações. Assim como a vida real não tem só momentos bons ou ruins, nenhum personagem da série é apenas bom ou mau. Todos são cinzas, com suas dores, traumas e erros.

A virada em Randall, no entanto, é tão corajosa que chega a incomodar os fãs mais assíduos do personagem. Todos sabem a história dele: um garoto adotado, que sempre teve problemas para se provar, que lidou com o preconceito racial desde muito cedo e sempre fez de tudo para ser o melhor. Só que aqui essa força de vontade vira realmente arrogância. Ele subestima os irmãos, especialmente Kevin, tem sérios problemas para aceitar que precisa de terapia e usa todos os recursos que pode para que sua mãe, Rebecca (Mandy Moore) faça o que ele acha certo, às vezes até passando por cima das vontades dela.

Randall quer fazer tudo sozinho, quer controlar o destino das pessoas que ama para ter certeza de que elas sempre estarão ali. Depois de tantas perdas, o personagem se agarra à certezas passageiras, mas que para ele valem o mundo: Randall não é capaz de perder mais nada. O que incomoda são os meios que ele usa para isso, especialmente com a mãe. Ainda assim, como This is Us sempre faz, cenas sem muito contexto no futuro deixam os fãs com a pulga atrás da orelha: e se, mesmo com todos os seus defeitos, Randall estava certo? A resposta, assim como na vida real, está no futuro.

O seriado continua desenvolvendo o Grande Trio em paralelo, contando histórias que tanto justificam ações no presente, quanto dão pistas para o futuro. No caso de Kate, o grande ponto são as inseguranças da personagem em seus relacionamentos. This is Us volta ao passado para mostrar a jovem em um relacionamento abusivo, que lhe deixou marcas para sempre. Kate achava que não merecia ser amada e por isso fez o famoso movimento de “aceitar o amor que achava merecer”. No presente, seu relacionamento com Toby (Chris Sullivan) passa por diversos desafios e a série é feliz ao mostrar que tal insegurança ainda existe em Kate, mas que agora ela está mais forte, especialmente após o nascimento do filho. 

Outro personagem que ganha ainda mais camadas é Kevin. Já faz tempo que ele deixou de ser o "rostinho bonito" da família e mostrou que tem suas próprias questões, traumas e nuances. Aqui isso é acentuado pela relação entre Kevin e o tio Nick Pearson (Griffin Dunne). Especialmente no começo da temporada, o astro se esforça para que o parente procure ajuda e tente melhorar. Fazendo isso, This is Us dá a Kevin uma qualidade que não existe em nenhum dos outros irmãos: ele não julga. Enquanto Randall possivelmente olharia com um olhar superior para o tio bêbado que não quer ajuda, Kevin insiste, se faz presente e muda a vida de um homem que estava fadado à solidão.

O personagem de Hartley tem suas fraquezas sim, mas possui uma sensibilidade única, que talvez nem ele tivesse conhecimento. No episódio dedicado à sua relação com Rebecca, Kevin finalmente entende qual é seu lugar na família. Kate é amorosa, Randall é o “cuidador” e o que sobra para ele? Como a própria mãe define, Kevin tem uma leveza única, que traz luz para as pessoas ao seu redor e até justifica seu sucesso como ator. Tão importante quanto a fortaleza feita por Randall e o ternura trazida por Kate, a família Pearson precisa de seu sol iluminando o caminho de todos. 

Quem vive, quem morre, quem conta a sua história?

O episódio piloto de This is Us apostou em uma fórmula única e bela para começar sua história. No começo, Randall, Kate e Kevin são apresentados em suas vidas adultas e a ligação entre eles é mostrada apenas no final. Com um ar quase de antologia, o seriado repete isso aqui ao mostrar personagens aparentemente soltos, cujas ligações com a família são mostradas aos poucos.

Se antes os fãs se preocupavam que o série esgotaria sua fórmula ao terminar a história de amor entre Jack e Rebecca, This is Us prova nesta 4ª temporada que pode ainda pode continuar por muito tempo, mostrando o desenvolvimento das famílias do Grande Trio. Indo além, é pelas gerações futuras que muitos sonhos ainda podem ser realizados, como o de Rebecca de fazer sucesso na música.

O episódio final indica que a matriarca será o foco da próxima temporada e a grande preocupação dos irmãos. Diferente de Jack, que morreu jovem em um ato de heroísmo, Rebecca terá a chance de envelhecer, mas terá que lidar com todos os desafios trazidos por isso. Porém, mesmo quando sua história linear terminar, ela continuará viva pelos filhos, netos, bisnetos e por aí vai, que sempre vão lembrar de sua jornada e levarão sua história de amor e força adiante, assim como acontece com Jack. 

Nota do Crítico
Ótimo