Séries e TV

Crítica

The Leftovers - 3ª Temporada | Crítica

The Book of Damon Lindelof

05.06.2017, às 16H31.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H47

Um dos maiores medos do espectador de The Leftovers era o final. Ao longo de seus três anos e 28 episódios, a série introduziu um número considerável de mistérios e ficou a dúvida: seria tudo solucionado até o último episódio? Esse era o grande desafio de Damon Lindelof depois de Lost - o roteirista, aliás, garantiu inúmeras vezes que não deixaria fãs sem resposta. E a promessa foi cumprida.

A beleza da série se resume na diferença de tema e atmosfera entre as temporadas. Apesar da premissa inicial ser a Partida Repentina - e ela permanecer como pano de fundo em todos os episódios -, estávamos mesmo acompanhando a jornada de Kevin Garvey (Justin Theroux). Aliás, as jornadas de Kevin e Nora (Carrie Coon) - que se torna tão importante para a série quanto seu parceiro. Através de ambos descobrimos inúmeras pistas sobre a Partida ao longo da produção: visitamos o “hotel”, entrevistamos pessoas que perderam seus familiares e estão em luto, conhecemos outros que se aproveitam da situação para ganhar dinheiro... Tudo é possível em um mundo sem respostas.

Por mais que o terceiro ano devesse usar seus oito capítulos para explicar o que tínhamos visto até então, Lindelof e a equipe de roteiristas escolhem seguir por outra direção, introduzindo ainda mais questões, levando os protagonistas à Austrália em busca de respostas. Reencontramos Kevin Garvey Sr. (Scott Glenn) e nos preparamos para o vindouro dilúvio que ele tão desesperadamente tenta evitar, descobrimos a história real e os anseios de Matt (Christopher Eccleston), entendemos ainda mais profundamente as questões de Nora - mas nem de perto passamos pela explicação do desaparecimento até os últimos minutos.

Aliás, essa temporada escolhe muito bem os personagens que vai levar até o final, além de contar suas histórias sem se perder em detalhes desnecessários. São pessoas que, assim como Kevin e Nora, têm problemas e precisam da ajuda uns dos outros para solucioná-los. É por isso que a narrativa do terceiro ano funciona tão bem, mesmo dedicando alguns episódios a contar trajetórias específicas. Acompanhamos os dramas de Kevin Sr., Matt e Laurie (Amy Brenneman), todos conectados, todos independentes. Era necessário explicar o que uniu esse grupo e vemos a força de cada um deles individualmente antes de entender seus maiores medos, algo que serve ao propósito final da série.

Por mais que, no geral, The Leftovers mostre uma sociedade perdida após o desaparecimento de 2% da população mundial, é necessário ver que cada um dos personagens representa um tipo de pessoa na bagunça que se formou. Os medos de Kevin Sr., Matt e Laurie são expostos somente ao final dos capítulos dedicados a eles e a trama toma forma, cada um levando a vida da sua maneira, enfrentando os novos desafios da sua maneira, encontrando a própria solução para os problemas.

Uma das escolhas mais inteligentes feitas por The Leftovers quer confiança do público quando põe todo o esclarecimento da Partida na boca de Nora em uma franca conversa com Kevin. Pequenos detalhes da trama fazem com que duvidemos da solução como um todo e o aparente suicídio de Laurie é um dos principais, além, claro, da “viagem” de Nora. Apesar de muito bem explicado, tudo fica no ar: o que Nora disse é real? Ela realmente viu sua família do outro lado? Realmente encontrou o Dr. Van Eeghen e conseguiu voltar? Ela questiona Kevin, “você acredita em mim?”, como se questionasse o próprio público. Eu acredito, e você?

Nota do Crítico
Excelente!