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Crítica

The Last Kingdom encerra trajetória com temporada corajosa e cheia de emoção

Apesar de não se tratar de um verdadeiro final, a jornada de Uhtred na série encontrou uma forma de ser grandiosa

4 min de leitura
HH
14.03.2022, às 09H03.
Atualizada em 14.03.2022, ÀS 09H19

Créditos da imagem: Netflix/Divulgação

No primeiro episódio de The Last Kingdom, o pequeno Uhtred (Alexander Dreymon) surge como uma criança comum, na faixa de areia de uma praia, quando no horizonte, surgem os navios dinamarqueses, anunciados pelo pai do menino como navegados por homens que eram “como se fossem vikings”, vindo lentamente na direção de uma nova conquista. Uhtred observava, sem entender, o dia em que a vida como conhecia lhe foi arrancada e como ele se tornou prisioneiro de um outro povo, que a despeito de toda dor infringida, veio a lhe tratar como um dos seus.

Essa premissa que domina os primeiros episódios da série se dilui com o avanço da trama, é claro. Sabemos que como em todo enredo onde o filho pródigo é privado de seus direitos, ele vai voltar em algum momento para reivindicar a própria história. O curioso é que embora a série tenha abordado essa inevitabilidade, o caminho do protagonista sempre foi o de pacificador. É uma posição inesperada para uma trama que nasceu com bases em outros sucessos como Vikings ou Spartacus, em que a violência e a guerra são tratadas como ferramentas de honra e soberania. Uhtred, o saxão criado pelos dinamarqueses, era um “salvador”, um símbolo de unificação, um típico “messias” que ali estava para garantir a sobrevivência e a igualdade.

Durante esses cinco anos, a adaptação de Stephen Butchard dos livros de Bernard Cornwell foi fiel à atmosfera de dor, batalha e sofrimento que já são comuns em produções desse tipo. A obra, que respeita alguns traços da verdadeira história dos conflitos territoriais daquele período, ilustra o primitivismo de uma sociedade que só conhecia o crescimento pela guerra. Os reinos que hoje compõem o que é a Inglaterra não eram os únicos que ficavam à mercê da apropriação de terceiros. A história da humanidade é tomada desse jogo de invasões, que foram – através de muita dor – compondo a geografia mundial como ela é hoje.

Mas, figuras como a de Uhtred “colam” os dois mundos: o dos invadidos e o dos invasores. A ideia é que um olhar para trás faça a saga desse personagem ter sentido e substância. Qualquer temporada final tem essa responsabilidade. Assim, nada mais natural que The Last Kingdom focasse sua última narrativa em confrontos pessoais, em questões emocionais, em encontros e reencontros; ainda que as questões políticas nunca desaparecessem... O fundo histórico é inevitável, anda sozinho. O que precisávamos presenciar era como terminariam os afetos de Uhtred. E isso nós vimos.

Tudo é Destino

A primeira parte dessa temporada final foi uma das mais fortes da série. Brida (Emily Cox) surgiu como uma antagonista à altura desses últimos episódios, não só porque suas motivações contra Uhtred tinham raízes exatamente na ambivalência de sua história, como também porque entre os dois há uma bagagem imensa. Brida é uma das poucas personagens que estavam conosco desde o princípio e pensar nela e em Uhtred juntos, ainda meninos, lá no começo, fazia com que essa rivalidade fosse ainda mais significativa.

De certa forma, a força tão grande desse antagonismo eclipsou o avanço da metade final da temporada. Sabemos que The Last Kingdom é uma série que não adia demais grandes transformações, que não segura desnecessariamente personagens fixos (ainda que gostemos muito deles)... Portanto, era evidente que não veríamos Brida dominar a posição de algoz por todo esse último ano. Aethelhelm (Adrian Schiller), que assume essa posição nos episódios finais (mesmo que já estivesse fazendo isso há algum tempo), também é um bom “vilão”, mas é passivo, joga na retranca, o que diminui um pouco o senso de espetáculo.

Por sorte, a série tem roteiristas que entendem cada um dos pontos do mundo que criaram e The Last Kingdom chegou ao seu apogeu com a grandiosidade que se esperava dela. O ponto mais importante, enfim, foi termos Uhtred de volta ao centro das atenções, depois de muitos episódios em que os personagens periféricos foram tão devidamente abordados que acabaram absorvendo tempo de tela demais. O embate final com Brida foi intenso, catártico; as tensões com a filha, as obrigações com dois lados de uma mesma referência, que lhe perseguiram a vida toda. A série não é uma que destaca demais um ou outro elemento de atuação (todos são igualmente bons), mas, sem dúvida, nenhuma de suas qualidades seria uma realidade sem o trabalho sensível de Alexander.

Historicamente, o fim como conhecemos ainda precisaria de tempo para acontecer. Sabemos que Uthred não encontraria a paz como era sonhada. Mas ele encontrou algum tipo de paz. A emocionante montagem que encerrou a série como a conhecemos foi uma pitada de otimismo numa realidade que sabemos que será alterada novamente. The Last Kingdom ainda terá um filme para abordar os últimos livros da saga (lançados durante a produção), que mesmo que tenha sido anunciado como independente, ainda precisará jogar o protagonista em algum tipo de conflito.

Qual será esse conflito ainda não sabemos, mas é possível que a dificuldade de unificação seja mantida na pauta... Não teria como ser de outro jeito, uma vez que o mundo sempre encontra um jeito de nos mostrar que o sangue e a guerra são controversas maneiras de defender o chão em que se pisa.  

Nota do Crítico

Excelente!
Henrique Haddefinir

The Last Kingdom

Em andamento (2015- )

Criado por: The Last Kingdom
Duração: 3 temporadas