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Crítica

The Keepers | Crítica

Série documental da Netflix conta história de terror em tom investigativo

22.06.2017, às 14H53.
Atualizada em 22.06.2017, ÀS 17H02

The Keepers, a nova série documental da Netflix, é uma história de terror baseada em fatos reais. O caso do assassinato da freira Cathy Cesnik, cometido em Baltimore, nos EUA, na década de 1970, é o ponto de partida e o fio condutor de uma trama que passa por assuntos como pedofilia, corrupção, preconceito e educação. Sem questionar dogmas ou a fé dos entrevistados, o seriado de Ryan White faz uma investigação aprofundada em temas pesados, sem esquecer de apresentar uma narrativa didática e instigante.

O documentário, dividido em sete episódios de pouco mais de uma hora, começa como uma simples reportagem que busca entender a morte de uma freira adorada pelos alunos da escola Archbishop Keough High School. Encontrada morta após dois meses desaparecida, a jovem Cesnik é símbolo de inúmeros problemas escondidos nas paróquias de Baltimore e no sistema político americano. E a naturalidade com que informa o espectador e se passa de um documentário investigativo para uma história de terror factual é o grande trunfo de The Keepers.

Boa parte da narrativa se baseia na busca por pistas liderada por três pessoas. Gemma Hoskins e Abbie Fitzgerald Schaub, ex-estudantes de Keough que conheceram a freira e carregam um amor obsessivo, altruísta e quase inexplicável por Cesnik. O outro elemento é o jornalista Tom Nugent, jornalista de uma publicação local, obcecado pelo assassinato e pelos absurdos cometidos pela igreja em Baltimore. Esse trio compõe a veia de thriller que Keepers apresenta, com cenas em meia-luz, uma edição embalada por trilha sonora mais soturna e fotografias antigas com figuras macabras.

Do meio pra frente, a série dá espaço para as vítimas de abuso na escola Keough, principalmente Jane Doe e Jane Row, que ficaram famosas por denunciar o padre Joseph Meskell. Além delas, inúmeras alunas passam pelos episódios narrando de forma detalhada cenas aterrorizantes. Meskell é transformado em um vilão icônico a partir de depoimentos contundentes, que questionam a atitude da Igreja, mas nunca põem em dúvida a importância da instituição na cidade ou país.

The Keepers se nega a entrar na discussão dos males que o catolicismo trouxe para todos os envolvidos no escândalo, colocando a interpretação nas mãos do espectador. As várias partes que estão no meio da investigação são escutadas, questionadas e, em certo ponto, ganham a discussão. E tal qual uma história de suspense e terror com assassinos misteriosos, o roteiro do documentário também tem suas reviravoltas. 

Os sete episódios da série buscam narrar um caso aterrorizante, real, mas sem deixar de mostrar o lado humano de seus heróis e vilões - o que acarreta em erros de ambos os lados. É impossível sair de uma maratona de The Keepers sem embrulhar o estômago ou sentir raiva de Igreja. Passado os sustos, porém, dá pra notar que a trabalho de Ryan White não quer destruir o poder da fé ou a importância de qualquer crença, e sim mostrar o pior lado do homem. Seja ele religioso ou não.

 

Nota do Crítico
Ótimo