Samantha!/Netflix/Divulgação

Séries e TV

Crítica

Samantha! - 2ª temporada

Emanuelle Araújo é destaque em temporada sobre amadurecimento

19.04.2019, às 16H18.
Atualizada em 19.04.2019, ÀS 16H38

Há várias formas de contar uma piada. Existe o humor mais direto, em que um personagem cai no chão com um grande barulho provocando gargalhadas; e o humor irônico, em que a piada fica em segundo plano e precisa funcionar sozinha, sem a adição de um efeito sonoro ou algo do tipo. A segunda temporada de Samantha!, série brasileira original da Netflix, flui entre esses dois núcleos do humor e não se desenvolve bem em nenhum deles.

Contando a história de uma ex-estrela mirim que fez sucesso no Brasil na década de 80, o seriado usa essa premissa para apostar no ironico: há o personagem que é um pacote de cigarros, por exemplo, e vez ou outra o fã que conhece os programas matinais pega uma piada deixada na segunda camada, como quando é dito que agora a moda é ter mulheres de biquíni apresentando atrações infantis.

Só que apesar destas piadas terem o seu mérito, elas não funcionam em Samantha! e a maior culpa disso é o roteiro engessado. O humor, sendo irônico ou direto, precisa ser acima de tudo natural para funcionar com a audiência. Se quem está assistindo desconfiar a qualquer momento de que o ator não acredita em seu texto, o esforço vai por água abaixo. Essa é uma das sensações deixadas pelos novos episódios da série da Netflix. O elenco de Samantha!, com algumas ressalvas para o núcleo infantil, é extremamente talentoso, mas ainda assim suas interações soam artificiais.

Esse aspecto incomoda principalmente nos três primeiros episódios da nova temporada, mas felizmente a história melhora a partir da metade, quando o grande tema passa a ser a maturidade. Criada na televisão desde muito nova, Samantha se tornou uma adulta insegura e que sempre tenta replicar a sensação de se sentir amada pelo público. Quando essa trama começa a ser introduzida, há vários flashbacks para a infância da garota, mostrando como ela precisava fazer coisas que não queria na TV e sempre era direcionada para ser de uma forma ou de outra. Ela não tomava as próprias decisões e sua personalidade era moldada para agradar.

De forma inteligente, o seriado explora ainda mais essa história com a trama de Dodói (Douglas Silva) e a chegada de sua mãe, Socorro (Zezeh Barbosa). Se Samantha não sabe tomar as rédeas da própria vida após crescer no estrelato, Dodói sofre para dar qualquer passo sem a aprovação da mãe, que também é carente e ainda o vê como um garoto. A série também explora como o personagem chegou a deixar um pouco a asa da mãe, mas passou toda essa expectativa para a nova família. Seja com Socorro, Samantha, ou até com os filhos, Dodói sempre precisa de alguém lhe apontando qual caminho seguir, porque ele não confia nas próprias escolhas.

Porém, sem dúvida alguma, o maior destaque da temporada é a atuação de Emanuelle Araújo no papel principal. No começo, é comum se irritar com o aparente excesso de confiança de Samantha, sempre cheia de si e colocando as necessidades dos outros em segundo plano. Mas a partir do meio da temporada, a personagem ganha novas camadas quando seu passado é explorado. Samantha tem um grande motivo para ser tão insegura e ter dificuldades em se desvencilhar da “vida perfeita” de sua infância. Tal história é contada de forma muito delicada pela série e acentuada por Araújo, que várias vezes fica com lágrimas nos olhos ao ser confrontada com a verdade. Nestes momentos, a atriz reverte a falta de naturalidade citada anteriormente e entrega uma atuação totalmente crível, principalmente para quem cresceu acompanhando a trajetória de ex-estrelas juvenis.

Há, inclusive, um momento em que o seriado fala da hipocrisia da mídia e dos fãs com seus ídolos, e de como há o costume de elevar uma celebridade quando algo acontece a ela, apenas para imediatamente deixá-la de lado por outro assunto, sem se preocupar com a pessoa que existe além da figura pública.

Todas essas tramas nas entrelinhas fazem de Samantha! uma série interessante, por mais que, ironicamente, o humor não seja seu forte. O seriado cresce realmente quando aposta no drama e resta saber como a Netflix lidará com isso em um possível terceiro ano, seja com uma mudança de tom, seja com o acerto das piadas para que o humor funcione. Qualquer que seja o caminho, o desenvolvimento da personagem nesta temporada indica que Samantha voltará mais forte, mais ciente de seus problemas e pronta para passar uma mensagem de esperança para seus fãs, sem perder em nada seu brilho.

Nota do Crítico
Bom