Três anos depois do lançamento de sua terceira temporada, O Príncipe Dragão enfim está de volta à Netflix para o seu quarto ano. E se o intervalo entre uma leva e outra de novos episódios deixou alguns fãs da série de Aaron Ehasz (Avatar: A Lenda de Aang) e Justin Richmond (franquia Uncharted) apreensivos com uma possível queda de qualidade, essa preocupação é aplacada já nos primeiros minutos dos novos capítulos.
Cientes de que a ausência da animação foi sentida, os roteiristas optaram por começar a nova temporada com um salto temporal. Evitando as armadilhas que essa ferramenta criou para produções como A Casa do Dragão ou Riverdale, O Príncipe Dragão deixa seus personagens mais maduros, mas sem ignorar as características estabelecidas em anos anteriores. Assim, Callum (Jack De Sena), Rayla (Paula Burrows), Ezran (Sasha Rojen) e companhia seguem reconhecíveis, embora mais experientes e (um pouco) menos inocentes.
Seguindo a boa forma das primeiras temporadas, o roteiro de O Príncipe Dragão segue afiado e profundo, alternando momentos reflexivos e diálogos espirituosos sem nunca perder sua trama de vista. Por mais dinâmica que seja a escrita da série, ela raramente parece apressada, de forma que até personagens recém-apresentados parecem velhos conhecidos ao fim dos novos nove episódios.
O Príncipe Dragão segue abordando questões como política, intolerância religiosa e sexualidade de forma delicada, mas impactante. Assim como nos anos anteriores, a série não ignora a existência do preconceito e reflete sobre a possibilidade de criar um mundo mais tolerante e harmônico – seja ele fictício ou não.
Isso não quer dizer que todos os diálogos e desenvolvimentos sejam perfeitos. A quarta temporada pesa um pouco a mão em algumas piadas escatológicas, que acontecem pelo menos duas vezes por episódio, e força alguns conflitos que seriam facilmente evitáveis se os personagens usassem um pouco mais de lógica. Incômodos, esses momentos vão na contramão do amadurecimento dos protagonistas e quebram o sentimento de urgência das jornadas tanto dos heróis quanto dos vilões.
Ao contrário do humor, que parece ter regredido da terceira para a quarta temporada, o visual de O Príncipe Dragão nunca esteve tão deslumbrante e criativo quanto neste quarto ano. Embora use elementos típicos da fantasia como dragões, elfos, animais mágicos e magias luminosas, a série se mantém única dentro do gênero graças ao seu design inspirado, que se sobressai mesmo quando comparada às gigantes O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder, A Casa do Dragão e Sandman.
Essa mesma criatividade dos designs se faz presente nas principais cenas de ação da nova temporada. Cada briga de dragões, perseguição e duelo mágico é único e criado para explorar tanto as habilidades quanto as personalidades dos personagens envolvidos.
Mantendo o bom nível dos anos anteriores, O Príncipe Dragão vai solidificando seu status como uma das melhores animações originais da Netflix, apesar de uma ou outra piada desencaixada. Com um roteiro bem amarrado, mas que prepara o terreno para as já confirmadas três próximas temporadas, a série continua sendo um presente para fãs de fantasia de todas as idades.