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Crítica

Mosaic | Crítica

Série desenvolvida para ser vista no formato "você decide" não devia ter sido adaptada para o formato tradicional da TV

31.01.2018, às 11H44.
Atualizada em 31.01.2018, ÀS 11H57

Conforme a tecnologia avança, as mídias tentam se modificar e adaptar, transformando narrativas lineares em não-lineares, trazendo elementos de escolha do público para dentro de um ambiente previamente controlado pelos criadores e desenvolvedores, mesclando diferentes alternativas de entretenimento. Já existiram inúmeras versões da "série interativa", um formato que permite que o usuário decide qual seria o caminho a ser tomado e, consequentemente, o desfecho de uma história. Mosaic, inicialmente, seria exatamente isso. Mas se você mora fora dos Estados Unidos, a apresentação da produção segue novamente os tradicionais moldes de exibição, sem a opção de interação e apoiando-se completamente na narrativa tradicional*.

A trama é simples: um assassinato e sua investigação. São seis episódios que acompanham acontecimentos logo antes do crime e quatro anos depois, montando uma investigação que cada hora aponta pra um culpado. A grande questão de Mosaic, no entanto, é a falta de pedaços no sugerido mosaico do título, principalmente nos três primeiros capítulos. A história parece confusa e desconexa ao não explicar direito certas motivações que poderiam trazer muito mais profundidade à série, mas que  ficam esquecidas em um emaranhado de idas e vindas numa linha narrativa que não parece existir.

Talvez criada especificamente para ser vista no formato picotado que o aplicativo deve proporcionar, talvez simplesmente mal escrita, Mosaic deixa algumas lacunas e acelera em alguns pontos-chave que são de extrema importância para a trama, passando por cima deles como se nada ali importasse muito. A mudança de Joel (Garrett Hedlund) para a casa de Olivia (Sharon Stone) é incrivelmente súbita, assim como o relacionamento de Olivia com Eric (Frederick Weller), entre inúmeros outros exemplos. Talvez num formato em que você escolhe o próprio caminho a ser trilhado, esses não sejam de fato problemas, mas na montagem tradicional que acabou na TV faz falta alguma explicação para esses acontecimentos.

Além disso, Mosaic toma inúmeras liberdades criativas com relação à realidade de uma investigação. É improvável que um civil auxilie na investigação de um crime, pior ainda quando esse civil é parente do acusado. Quando a série abre esse tipo de exceção, por mais que seja ambientada numa pequena cidade no interior de Utah, nos Estados Unidos, tudo é permitido dali em diante e é exatamente o que se sucede. Incomoda ver como o xerife tem praticamente zero controle sob a própria investigação, mas incomoda mais ainda como ele também dá muita margem à dúvida devido a sua proximidade com o acusado.

Apesar dos erros, Mosaic tem um elenco de primeira qualidade e entrega uma bela direção. Steven Soderbergh comanda Stone, Hedlund, Weller, Paul Reubens, Beau Bridges, entre outros com maestria, além de estabelecer bem o clima de mistério e suspense desde o primeiro minuto. Enquanto isso, o time de atores também cumpre seu papel, garantindo atuações de qualidade e mesmo os diálogos estranhos e aparentemente desconexos ganham fluidez e tridimensionalidade.

Talvez Mosaic precise mesmo ser vista através do aplicativo, como foi inicialmente planejada. Talvez até mesmo por lá ela siga confusa e desconexa. Mas não teremos bem como saber até que a ferramenta fique disponível por aqui. Enquanto isso, seguimos com a curiosa narrativa montada para a TV.

*Para os propósitos dessa crítica, não tive acesso ao aplicativo que permite a navegação pela trama da forma como a criação do produto foi planejado, já que ele é bloqueado geograficamente e está disponível apenas nos Estados Unidos. O texto acima foi escrito com base na exibição tradicional dos episódios, que aconteceu de segunda a sexta, entre 22 e 26 de janeiro, na HBO.

Nota do Crítico
Regular