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Crítica

Modernos de Meia Idade não tem nada de moderno, mas é uma boa sitcom clássica

Aposta do Disney+ se aproveita da roupagem gay para esconder humor desgastado

04.04.2025, às 14H42.

Não há nada de novo no formato de Modernos de Meia Idade. Dos três amigos que decidem morar juntos para passar o resto de suas vidas à temática voltada para o público LGBTQIAPN+, quase todos os elementos principais da nova série do Disney+ parecem batidos - e não é por acaso. A produção foi idealizada pela dupla Max Mutchnick e David Kohan, as mentes por trás de Will & Grace, série que virou hit entre os anos 1990 e 2000 ao abordar pautas voltadas para o público gay em uma época na qual a TV norte-americana ainda engatinhava em sua luta contra o conservadorismo. Dez anos antes, a clássica Super Gatas (The Golden Girls, no original) empílhou estatuetas do Emmy ao contar a história de quatro amigas da terceira idade que dividiam o mesmo teto. Com tantas referências anteriores, Modernos de Meia Idade parece chegar tarde para uma festa que já está lotada. Mas só parece.

Cientes de que não estavam reiventando a roda, Mutchnick e David Kohan encontram espaço para Modernos de Meia Idade ao reaproveitar clichês que (quase) sempre bombaram em produções hétero normativas. Os clichês da loira burra e do hétero metido/narcisista ganham nova roupagem para abraçar, como já disseram os próprios atores da série, o público gay de todas as idades. E a fórmula, mesmo que sem apresentar nada de novo, funciona.

Parte deste acerto se deve puramente à química do trio protagonista Bunny (Nathan Lane), Arthur (Nathan Lee Graham) e Jerry (Matt Bomer). Após a morte de um amigo em comum, Bunny decide convidar os outros dois para morar na mansão que divide com sua mãe, a antipática e sem papas na língua Sybil (Linda Lavin), para que não se afastem mais pelos percalços da vida. Os três abraçam os estereótipos de seus personagens sem vergonha alguma. Talvez o fato de ser voltada para o público LGBTQIAPN+ ajude a série a se safar com algumas piadas - Two and a Half Men, com seu humor heteronormativo e proposta semelhante, envelheceu mal mesmo pouco tempo após seu encerramento.

Modernos de Meia Idade certamente não é inovadora, mas tem muitos momentos hilários. Bunny, Arthur, Jerry e Sybil têm origens únicas e trazem um ar de familiaridade para quem já é fã do formato. O fato de ser lançada direto para o streaming também parece ter dado mais liberdade aos criadores, cujas piadas envolvendo o apetite sexual de seus personagens talvez não teriam espaço na TV aberta num país que vive nova onda de conservadorismo.

Embora seu humor seja fluído e o elenco enérgico, a série não vai mudar o cenário das sitcoms - mas nem é seu objetivo. Em vez disso, Modernos de Meia Idade oferece mais do que alguns momentos de gargalhadas: há momentos constragedores e emotivos, principalmente no episódio que aborda a morte de Linda Lavinde, que faleceu antes do encerramento das gravações. Para quem não sabe o que assistir nesta vasta opção de streamings, uma série agradável e de baixo risco pode ser exatamente o que o público está procurando.

Nota do Crítico
Bom