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Crítica

Mindhunter - 1ª Temporada | Crítica

Série de investigação da Netflix analisa assassinos e detetives com calma e estilo

17.10.2017, às 15H59.
Atualizada em 18.10.2017, ÀS 09H02

Mindhunter, a nova série da da Netflix, tenta traçar o perfil comportamental de serial killers. O que os faz a tomar certas decisões, quais são as obsessões em comum e de onde vem o traço de psicopatia que os leva a cometer crimes horrendos. Além de fazer isso, o seriado se aprofunda nas relações dos detetives que mergulham nesta pesquisa e constrói uma ligação íntima entre os observadores e os observados. Com isso, ainda que soe como uma história básica de investigação, Mindhunter é o trabalho de análise de personagem mais profundo que o serviço de streaming fez até aqui.

O roteiro acompanha dois agentes do FBI focados em estudar Ciência Comportamental. A dupla recebe o auxílio de uma psicóloga mais experiente que inclui na mistura a visão acadêmica e cartesiana necessária para a construção dos perfis. Esse trio viaja boa parte dos EUA para entrevistar criminosos culpados de assassinatos brutais e com características bizarras - decapitação, violência sexual, esquartejamento, bestialismo e por aí vai. A intenção é fazer a sociedade e o departamento policial americano compreenderem que os crimes não são circunstanciais - sempre há um motivo maior por trás.

Durante as entrevistas, o roteiro se divide entre montar uma identidade para os assassinos e desenvolver os talentos e a relação da dupla policial. As extensas cenas de diálogo começam como simples interrogatórios e depois se tornam análises profundas da vida/profissão dos envolvidos. A evolução gradativa dessa narrativa se dá principalmente pelo ritmo lento e da direção meticulosa de David Fincher - responsável por quatro episódios e definição do estilo da série. Assim como em Zodíaco, o diretor não se preocupa em acelerar um caso ou tornar a edição mais ágil. Aqui, o importante são os personagens e as atitudes que eles tomam, por mais simples que elas sejam.

Os exageros estéticos passam longe de Mindhunter. Não há sangue, muito menos violência durante as dez horas de série. E ainda assim, o apuro técnico em certos segmentos saltam os olhos - e ouvidos. A fotografia pastel e a caracterização quase morta de todos os subúrbios deixam o clima da série sempre mórbido; assim como os close-ups nas entrevistas. Ainda que o roteiro seja recheado de questionários, Fincher dá espaço para o não-falado e aproveita ao máximo do elenco, tanto o principal quanto o coadjuvante. Todos (assassinos incluídos) são contidos e crescem de acordo com a situação. Não há espaço para afetação. O horror vem das falas de um condenado ou descrições de crimes.

O som é um espetáculo a parte em Mindhunter. A trilha sonora, que a princípio parece descolada da lentidão da série, cai como uma luva com o passar dos episódios. Jason Hill escolhe os hits setentistas para caracterizar os episódios e descontrair a vida tão atribulada daqueles que vivem na agência. Mais sutil, mas tão importante quanto é a edição de som - a criação dos efeitos sonoros que povoam cada um dos ambientes da série. Cada uma das prisões tem um barulho característico, o FBI sempre está sob o som de tiros e os escritórios da dupla policial sempre reproduz o bater das máquinas de escrever. Tudo é muito simples, quase imperceptível, mas a ambientação pega o espectador de surpresa e torna dá vida a salas sem vida.

O ritmo lento de Mindhunter a afasta do hall das séries investigativas mais populares da atualidade. Não há necessidade de descobrir um mistério ou apontar um culpado. O problema maior a ser resolvido aqui é o psicológico dos personagens, sejam eles bons ou ruins. No meio de tantas perguntas, sobram respostas e interpretações - e nenhuma delas está definitivamente errada. Para escolher uma delas, calma, paciência e muito estudo são necessários. A Netflix embala essas exigências em dez episódios cheios de significado, ótimos personagens e apuro técnico digno de grandes thrillers.

Nota do Crítico
Ótimo