Algumas coisas são certas na vida e uma delas é que a Netflix vai lançar um novo suspense para os assinantes maratonarem no final de semana e que, em alguns casos, o mistério viralizará nas redes sociais. Indomável, minissérie em seis episódios, estrelada por Eric Bana é o novo exemplar do streaming e tem tudo que os amantes do gênero e do binge-watching mais amam.
Escrita por Elle Smith (A Filha do Rei do Pântano) e Mark L. Smith (O Regresso), a história acompanha o agente federal Kyle Turner (Bana), que vive no Parque Nacional de Yosemite, nos EUA, e precisa investigar a morte de uma jovem desconhecida após o corpo dela cair - ou ser jogado - do alto do El Capitán, formação rochosa de mais de 900 metros, famosa entre os praticantes de escalada. Se você assistiu Free Solo, documentário vencedor do Oscar, sabe o perigo que representa. Turner recebe a ajuda da guarda novata Naya Vasquez (Lily Santiago) e descobre que o parque tem outros segredos que vão se misturar com o assassinato.
Se o suspense de investigação funciona bem e a dinâmica entra Bana e Santiago, com o clássico oficial-veterano-ranzinza-treina-novato, seja bem construída, o elemento a mais que Indomável insere na história é o drama familiar. Há um motivo para Turner viver há anos em Yosemite e esse trauma se mistura na investigação. Claro, a série não deixa alguns clichês do gênero de fora, como o chefe do protagonista (Sam Neill), exemplo de família que o apoia nos problemas, o vício em álcool, um outro guarda que rivaliza com ele (Wilson Bethel praticamente repetindo seu papel em Demolidor).
Quem não deixa a coisa desandar é Eric Bana e uma ótima atuação, que nunca perde o tom e passeia bem entre o violento, o traumático e inesperados momentos de ternura quando tem que lidar com Gael, filho de Vasquez. É um clássico lobo solitário de western, com roupagem moderna, que se conecta com a natureza selvagem onde decidiu se isolar, mas não perde tempo para utilizar o celular na investigação, fugindo do trope batido do cara mais velho que briga com a tecnologia.
Falta à série, no entanto, o talento de um Taylor Sheridan, por exemplo. Na hora de amarrar todas as histórias, fica evidente que algumas ficam sem a atenção devida. É quase impossível não assistir Indomável e comparar diretamente com o ótimo Terra Selvagem, escrito e dirigido pelo criador de Yellowstone. Sheridan parece entender muito melhor o ambiente onde o crime acontece e os fatores históricos que moldaram aquele lugar do que os realizadores da série da Netflix. Existe o drama das comunidades indígenas que vivem em Yosemite, da crise econômica que leva outros a viverem em barracas no parque, entorpecentes e remédios e até questões de violência doméstica. Nenhuma delas realmente pesa como deveria. Há um monólogo aqui, outro momento mais incisivo ali, mas o grande interesse está nos problemas de Turner apenas.
Indomável é um bom suspense, daqueles que o assassinato principal vai desencadear uma onda de revelações e descobertas sobre quase todos os personagens da trama. Os ganchos entre os episódios são ótimos e favorecem o modus operandi de consumo na Netflix. Uma boa dupla de protagonistas, um mistério previsível, mas cativante e você tem a pedida perfeita para assistir em um final de semana. Pelo menos até a estreia do próximo e aí Indomável não será tão lembrado assim.
[Crítica publicada originalmente em 17 de julho de 2025]