Desde sua estreia, em 2019, Game Changer tem se mostrado um dos fenômenos de boca a boca mais interessantes da era do streaming. Lançado como parte do Dropout, serviço do antigo canal CollegeHumor (um dos pioneiros da comédia no YouTube), a série criada e apresentada pelo novo CEO da empresa, Sam Reich, aos poucos passou a definir o próprio ethos da plataforma: humor improvisacional com olhar afiado para os ritmos e vernáculo das redes sociais, espírito de game show com tempero de programa de pegadinhas (e se Jeopardy tivesse um filho com Punk’d?), e disposição para construir comunidade e identificação dentro de seu ecossistema de talentos.
Tudo isso é um pouco papo corporativo, é claro, mas é também a receita de um dos programas de não-ficção mais compulsivamente assistíveis dos últimos anos. Numa era em que o audiovisual como um todo - certamente, o hollywoodiano - luta para encontrar ideias novas e excitantes que engajem o público tanto quanto as ideias velhas excitaram, Game Changer se apresenta ao espectador, por definição, como uma surpresa por episódio. Melhor ainda, ele sustenta a atenção mesmo quando essa surpresa passa.
A premissa aqui, para quem não sabe, é reunir três ou mais dos comediantes que fazem parte do time do Dropout (mais eventuais convidados) para jogar um jogo diferente a cada capítulo. Nenhum deles sabe qual vai ser o jogo antes de entrar no set, e a equipe de produção, representada no programa pelo apresentador Reich, frequentemente desenha os desafios para os interesses, idiossincrasias e - mais importante - fraquezas de cada um dos concorrentes.
Como em Taskmaster, outro game show cômico que conquistou o público nos últimos anos com base no burburinho online, há certo charme na futilidade absoluta dessas premissas. Seja jogando uma versão de Survivor/No Limite que troca a ilha tropical desses formatos consagrados por um estúdio com ar condicionado em Los Angeles (EUA), ou pedindo a um grupo de comediantes bastante afinados para improvisar todo um musical original no palco, Game Changer nunca coloca nada realmente em risco. É a tendência profundamente humana de aflorar um espírito competitivo mesmo quando nada está em jogo que cria a diversão.
O desafio do programa, conforme as temporadas foram se acumulando e a popularidade foi crescendo (desde o ano passado, um contingente cada vez maior de fãs e críticos faz campanha pelo reconhecimento de Game Changer no Emmy, por exemplo), era manter esse charme rebelde mesmo com um orçamento inflado, e uma expectativa elevada. Pois bem: o sétimo ano de Game Changer prova que eles não perderam o fio da meada. E a chave foi, essencialmente, saber onde crescer.
As ideias, sem dúvida, estão maiores. Em “One Year Later” (7x01), três competidores tiveram um ano para completar diversos desafios, alguns deles predicados em figurinos elaborados e viagens longínquas; em “Crowd Control” (7x04), uma plateia ao vivo é adicionada à gravação para que três comediantes de stand-up provem seus talentos fazendo piadas improvisadas em cima das histórias que eles têm a contar; e um quarteto de episódios, incluindo o genial “The Drinking Game” (7x05), são predicados na construção de novos sets e na participação de mais membros do elenco do que o convencional.
Se Game Changer cresceu nas possibilidades que estão disponíveis para seu time de produção, no entanto, é importante notar que, felizmente, ele não cresceu em mentalidade. Este ainda é o game show que ama pregar peças em seus participantes, que tira uma alegria inadulterada dos atos de sabotagem e de apreciação que estende a eles, que prospera na descoberta de um talento inesperado e na exploração de talentos há muito conhecidos. As piadas ainda estão aqui, e ainda são predicadas num conhecimento profundo das pessoas envolvidas nelas, e na vontade interminável de vê-las brilhar.
É um tipo de generosidade criativa que se vê pouco hoje em dia, seja na TV, no cinema ou - honestamente? - em qualquer outro lugar. Game Changer a tem de sobra, e vai continuar sendo uma das melhores séries no ar enquanto não a perder de vista.