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Crítica

Doctor Who: Flux proporciona momentos épicos, mas tropeça em roteiro truncado

Prestes a deixar a série, Chris Chibnall coloca Doutora em jornada de autoconhecimento

09.12.2021, às 16H38.
Atualizada em 09.12.2021, ÀS 17H05

Desde que assumiu o posto de showrunner de Doctor Who em 2016, Chris Chibnall se esforçou para deixar sua marca na história quase sexagenária da série. Com decisões criativas arriscadas como usar exclusivamente vilões novos em sua temporada de estreia e mexer num cânone já solidificado no coração dos fãs, o roteirista foi alvo de comentários agressivos que, entre outras coisas, o acusavam de “quebrar” o programa da BBC. Voluntariamente ou não, a resposta de Chibnall a essas críticas mais duras veio de forma épica no 13º ano da fase moderna da série, subtitulado Flux, que transformou os principais conceitos apresentados pelo showrunner em um importante norte emocional para a Doutora de Jodie Whittaker.

Depois de o último especial de Ano Novo servir como uma espécie de pausa para a trama da Criança Atemporal, a 13ª temporada resgata a trama de forma imediata. Sem rodeios, Chibnall usa seu primeiro episódio para ilustrar o desgaste que as descobertas da Doutora sobre seu passado causaram em seu psicológico ao mesmo tempo em que dá uma prévia do que a protagonista enfrentará em seu futuro imediato. De forma ágil, Flux apresenta os novos rostos da série, com óbvio destaque para Dan (John Bishop), novo companheiro de viagem da Doutora, e de Yaz (Mandip Gil).

Seguindo uma velha tradição de Doctor Who, a temporada se apoiou em ganchos convidativos e tensos para criar expectativas nos fãs, já altas pela confirmação da saída de Whittaker. Mesmo que a regeneração esteja programada para o segundo semestre de 2022, a certeza da despedida da 13ª Doutora tornou os perigos enfrentados por ela em Flux mais reais, como se cada tropeção ou turbulência da TARDIS pudesse iniciar o inevitável processo de transformação. A proximidade ao fim do ciclo dessa versão da personagem fez com que fosse mais fácil absorver a ameaça apresentada pelo tal Fluxo do título e por icônicos vilões como os sontarianos e os anjos lamentadores.

Essa conexão é reforçada pelo bom trabalho feito com os personagens coadjuvantes. Isolada nas temporadas anteriores, Yaz finalmente consegue o espaço que merece, não só como amiga da Doutora, mas como uma exploradora do espaço-tempo. Embora sempre tenha sido destemida, sua personalidade ganha mais profundidade a cada diálogo, de forma que é difícil chegar ao fim do 13º ano sem adorá-la. O recém-chegado Dan é outro que conquista com facilidade. Misturando fascínio e ceticismo, o morador de Liverpool espelha o sentimento de descoberta vivido pelo espectador toda vez que a cabine de polícia pousa em um novo planeta.

Mantendo a crescente de qualidade iniciada na 11ª temporada, a fotografia de Doctor Who: Flux atinge patamares cinematográficos. Com visual deslumbrante, os novos episódios entregam cenários épicos que vão desde a fachada do lendário estádio de Anfield Road até um devastado planeta deslocado da realidade. Embora tenha um histórico de efeitos visuais medianos, a série apresenta algumas de suas sequências de computação gráfica, equiparada à qualidade da maquiagem prática aplicada nos cadavéricos vilões Swarm (Sam Spruell) e Azure (Rochenda Sandall) e no peludo Karvanista (Craige Els).

Apesar de divertido, o novo ano não escapa de barrigas verborrágicas, criadas pelo uso da narração expositiva. Em um momento ou outro, os seis episódios de Doctor Who: Flux interrompem sua trama para que uma longa explicação para os eventos mostrados seja dada da forma mais mastigada possível. Além de subestimar a capacidade de interpretação do público, essa exposição excessiva prejudica o andar da temporada como um todo.

Esses problemas de roteiro podem ser observados especialmente no último episódio de Flux. Várias vezes ao longo de seus 59 minutos, o capítulo soterra revelações importantes para a história contada por Chibnall em linhas de diálogos pomposas que culminam em um final anticlimático.

Certamente, Doctor Who já teve dias melhores. Apesar de contar com visuais deslumbrantes e personagens carismáticos, a 13ª temporada empaca em um roteiro defeituoso e inchado. Alternando sequências épicas com diálogos tediosos, Chibnall e equipe quebram a promessa de preparar uma despedida grandiosa para Whittaker com um trabalho amargamente mediano.

Nota do Crítico
Bom