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Crítica

Black Mirror: Black Museum - 4ª temporada | Crítica

Episódio dá toque cyberpunk para história de terror clássica

29.12.2017, às 15H04.
Atualizada em 30.12.2017, ÀS 01H01

"Black Museum" pode soar como um apanhado de contos macabros exagerados em um primeiro momento, mas o espectador pode manter as expectativas altas. No episódio, Douglas Hodge vive o responsável por um museu de beira de estrada que mais parece um mordomo moderno de uma mansão mal assombrada, enquanto Letitia Wright interpreta a visitante aparentemente desavisada que chega ao local em uma manobra inoportuna do acaso. A trama se desenrola através das histórias que ele conta sobre os artefatos mais macabros do local, sempre com a atmosfera assustadora de adultos contando histórias de terror para crianças.

[Cuidado com possíveis spoilers!]

Exibindo seus artefatos, o anfitrião começa com um capacete capaz de transferir as sensações de quem o utiliza para uma segunda pessoa sem que esse outro indivíduo tenha impactos físicos reais. Para apresentar o objeto, é apresentada a história perturbadora de um médico que conseguia diagnósticos certeiros ao usar o objeto para sentir as mesmas coisas que seus pacientes. É claro que as coisas dão errado em dado ponto e a experiência em si se torna uma análise brutal - quem tem estômago fraco pode ser incomodar nessa sequência - sobre como mexer com determinados mecanismos de defesa do corpo humano, tal qual a sensação da dor, pode ser um caminho sombrio.

Na sequência, a trama apresenta um singelo ursinho de pelúcia que tem como background um casal onde a esposa ficou imobilizada para sempre em uma cama e cujo marido recebeu a possibilidade de abrigar sua mente - um deles se torna o hospedeiro do outro; duas mentes no mesmo corpo. Começa uma dinâmica problemática onde o marido passa a ser vigiado o tempo inteiro pela hospedeira, capaz de ver e sentir tudo que ele vê e sente. Ao mesmo tempo, ela fica refém de tudo o que o parceiro quer fazer - o resultado dessa relação fadada ao fracasso é, sem spoilers reveladores, o tal ursinho do começo da história.

Há ainda uma terceira atração no museu macabro que é a cereja do bolo: a transferência da consciência humana para um corpo cibernético, a criação do que seria um fantasma virtual. O pano de fundo dessa terceira história é composto por um presidiário, sua vontade de garantir a tranquilidade de sua família, o sadismo compartilhado por milhares de pessoas e a possibilidade de lucrar sobre tudo isso junto - a um toque de Frankenstein cyberpunk nesta terceira história que é inegavelmente criativo e tão assustador quanto é possível ser.

Cada uma dessas experiências poderia render seu próprio episódio de Black Mirror, mas quando menos o espectador espera, "Black Museum" vira, na verdade, uma história de vingança: há um elemento de reviravolta surpreendente no episódio que dá real significado a ele e que conecta tudo que foi visto e ouvido até então. A conclusão reduz cada uma das experiências - até então extremamente intensas - a pequenas peças que constituem o golpe final, uma obra-prima da criatividade voltada para a produção de terror.

Com boas atuações e uma história eletrizante, "Black Museum" é assustadoramente divertido e entrega tudo aquilo que se espera de uma série com a bagagem de Black Mirror.

Nota do Crítico
Excelente!