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Crítica

A Mulher da Casa Abandonada expande história do podcast e foge do voyeurismo

Série volta olhar para quem merece voz na história: Hilda dos Santos

3 min de leitura
15.08.2025, às 06H30.

Histórias de assassinos e criminosos sempre chamaram a atenção da audiência. O Silêncio dos Inocentes, por exemplo, fascinou todo mundo com sua trama de investigação com um gênio canibal que ajudava a detetive Clarice no caso de outro assassino em série. Norman Bates e Leatherface, ambos foram inspirados pelo assassino real da década de 1950, Ed Gein. Logo, não é à toa que a moda do true crime pegou entre os curiosos. São inúmeros os casos de séries, documentários e filmes que analisam a fundo os mais hediondos crimes. Claro, a onda também seguiu para as histórias brasileiras. Em 2022, o podcast A Mulher da Casa Abandonada se tornou um fenômeno e extrapolou as plataformas de streaming, se tornando a obsessão de milhares de ouvintes.

Três anos depois, a história que ganhou o país pela voz do jornalista Chico Felitti chega ao Prime Video em formato de documentário. Mas o que poderia ser apenas uma repetição dos episódios em áudio do podcast da Folha de S.Paulo, se torna uma obra que complementa o material original, dando caras e cores para aquelas vozes, e expande a obra de Felitti da melhor forma possível: enxergando a vítima não como uma peça de voyeurismo, mas como uma sobrevivente.

A série ganha um trunfo que Chico não teve em seu podcast. A presença de Hilda dos Santos, a mulher que foi levada do Brasil para servir na casa de Margarida e Renê Bonetti nos EUA e ficou por lá mais de 20 anos em situação análoga à escravidão. Com Hilda prestando seu próprio depoimento, os três episódios dirigidos por Kátia Lund (Cidade de Deus) mudam o foco de lado e passamos a enxergar Margarida muito menos como uma pessoa excêntrica, que esconde um segredo, mas logo de cara sabemos o tipo de monstruosidade que ela esconde. A série é inteligente ao não perder tempo criando esse perfil detalhado de Margarida, mostrando já as consequências do sucesso do podcast e a espetacularização do crime que ela cometeu pela mídia brasileira, para depois voltar os olhos para quem realmente merece voz.

O carisma de Hilda humaniza ainda mais a história, deixando ela muito mais pessoal da vítima e de pessoas que foram próximas dela nos EUA, do que do próprio Chico Felitti e outros personagens do podcast, como Mari Muradas e os porteiros, que acompanharam mais de perto a trama de Margarida. A diretora e os roteiristas têm uma visão própria do quanto querem afastar a série do entretenimento de sofrimento, mas sem nunca suavizar a trama. A edição dinâmica também entende a diferença dos formatos e se aproveita das imagens de arquivo e dramatizações para acelerar a trama e fugir de possíveis torturas visuais.

A Mulher da Casa Abandonada une o melhor dos dois mundos que envolvem o projeto. A visão jornalística e investigativa do formato original, com a linguagem cinematográfica de sua diretora. O resultado é uma obra que expande e se torna complementar ao podcast, sem nunca se perder na crueldade que muitas obras de true crime abraçam em troca do prazer voyeurístico dos espectadores.

 

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Nota do Crítico

A Mulher da Casa Abandonada