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Séries e TV

Crítica

6ª temporada de Peaky Blinders é despedida com gosto de "quero mais"

Final da série já está disponível na Netflix

10.06.2022, às 11H00.
Atualizada em 10.06.2022, ÀS 18H11

Ao fim da quinta temporada de Peaky Blinders, um Tommy Shelby (Cillian Murphy) desolado se perguntava: “Será que encontrei o único homem que não posso derrotar?”. O homem era o fascista Oswald Mosley (Sam Claflin), e a questão vinha após um grave revés nos planos do protagonista em assassinar o adversário. Era a maior derrota para Tommy e para a gangue Peaky Blinders desde o começo da série – e o seu peso, adequadamente, ainda é palpável na sexta e última temporada, que encerra a porção seriada da saga da família Shelby com um gosto de “quero mais”.

Os novos episódios começam de onde parou a temporada anterior e não demoram em estabelecer o destino de Polly, em face da morte de sua intérprete, Helen McCrory, em abril de 2021. A personagem, uma das mais queridas da série, segue uma presença forte até o capítulo final, permeando a rivalidade pré-existente entre Tommy e Michael (Finn Cole), o filho da matriarca.

A ação logo salta para 1933 – mas, aqui, o tempo não fez muito pelos traumas dos Shelbys. Tommy parou de beber para manter a mente mais lúcida, mas ainda é assombrado pelo passado; já Arthur (Paul Anderson), entregue ao vício, é uma sombra do homem que já foi. Ada (Sophie Rundle), por sua vez, enfrenta dificuldades ao tentar manter a família nos trilhos. 

Neste contexto, Tommy ganha um rival a mais personificado em Jack Nelson (James Frecheville), tio de Gina (Anya Taylor-Joy) e gângster americano que não só controla boa parte de Boston como ainda ascendeu a uma posição de proximidade ao presidente Franklin Roosevelt. Seguindo nos passos da temporada anterior, o crime organizado e a política se misturam ainda com mais intensidade nessa reta final da série, com Nelson imiscuído com figuras como o próprio Mosley e sua amante, Lady Diana Mitford (Amber Anderson), também uma figura real usada para escancarar, sem quaisquer pudores, a mentalidade da elite simpática a Hitler e ao nazismo.

O texto do criador Steven Knight continua brilhante, mas nunca foi particularmente sutil, o que acaba por servir especialmente bem à série ao ilustrar as intensas maquinações dos grupos políticos que tentaram ampliar a frente fascista na Europa, e também o total desprezo desses mesmos grupos por aqueles que consideravam inferiores.

O real centro da temporada, no entanto, está na jornada de Tommy. O líder dos Peaky Blinders passou por grandes tribulações desde que começou a mudar a cara dos negócios da família, e não só começa a questionar qual será seu legado, como também busca com mais intensidade a sua redenção, uma forma de expiar os pecados já cometidos por ele – isso, claro, sem abrir mão de seus planos ambiciosos e de sua liderança. A combinação é, mais uma vez, retratada com louvor por Cillian Murphy, que entrega nesta temporada alguns de seus melhores momentos na série.

Como um todo, a produção, que reinventou os dramas de gângsteres na TV, segue em alto nível: cenários, figurinos, trilha sonora e elenco continuam afiadíssimos, com destaque, neste último, para Natasha O'Keeffe, que entrega momentos comoventes e dolorosos como Lizzie, a esposa de Tommy. Os fãs de longa data ainda são recompensados com sequências de ação espetaculares, dirigidas com segurança pelo diretor Anthony Birde.

A despedida da série, porém, deixa algumas pontas soltas, muito provavelmente para serem resolvidas no vindouro filme da produção, que começa a ser gravado em 2023. Uma trama em particular é desenhada muito rapidamente no último episódio, deixando a sensação de que poderia render muito mais. Nada disso chega a desabonar a série, uma joia que demorou a ganhar o reconhecimento merecido em meio ao amplo catálogo dos streamings. A sexta temporada é mais um “até logo” do que um “adeus” -- mas não deixa de ser um alento saber que em breve reencontraremos os Shelbys.

 

Nota do Crítico
Ótimo