San Diego Comic-Con 2020

Notícia

Cosmos | Neil deGrasse-Tyson e viúva de Sagan revelam bastidores da série

Mundos Possíveis, nova temporada, está sendo exibida no National Geographic

25.07.2020, às 15H28.
Atualizada em 25.07.2020, ÀS 15H56

A série de divulgação científica mais famosa de todos os tempos, Cosmos, criada pelo saudoso Carl Sagan, ganhou mais uma temporada neste ano, e que palco melhor que a San Diego Comic-Con para apresentar ao mundo geek todos os bastidores da produção?

Um painel veiculado neste sábado (25) durante a Comic-Con@Home explorou esta que é a terceira temporada da série. A primeira, chamada Uma Jornada Pessoal, foi estrelada pelo próprio Carl Sagan, em 1980. A segunda, de 2014, teve como apresentador o "sucessor" de Sagan no mundo da popularização da ciência, o astrofísico Neil deGrasse-Tyson. E é ele quem volta agora, em 2020, para a terceira versão, chamada Mundos Possíveis.

A série estreou nos EUA em março, no National Geographic, e agora fará por lá sua estreia no canal aberto Fox. Aqui no Brasil, os 13 episódios da nova temporada têm sido exibidos aos sábados, às 22h30, desde o último dia 6 de junho, no canal National Geographic.

"O que a gente queria com Mundos Possíveis era capturar para uma audiência global não apenas os exoplanetas que recentemente começamos a descobrir ou os mundos ocultos sob nossos pés e ao nosso redor, e ainda assim invisíveis para nós sem a lente da ciência. Mas também uma visão deste mundo, do que ainda podemos ter, se nos organizarmos para usar a ciência e a tecnologia com sabedoria", destacou Ann Druyan, escritora e viúva de Sagan, corresponsável pelos roteiros de todas as três temporadas da série.

Desta vez, a parceria de escrita foi com Brannon Braga, roteirista conhecido por seu trabalho com Star Trek nos anos 1990 e 2000 e, mais recentemente, com a série paródia de Seth MacFarlane, The Orville. Seth, por sinal, é produtor executivo desta nova versão de Cosmos e fez uma introdução apaixonante de defesa da ciência na abertura do painel – com o bom humor que sempre o acompanha.

Ausente dos roteiros, pela primeira vez, é o astrofísico Steven Soter, que foi coescritor dos episódios da versão de Sagan e da primeira passada de Tyson pelo papel.

Neil deGrasse-Tyson: como astrofísico, um bom ator 

O painel explorou os desafios da produção, que envolveu viagens ao redor do mundo e uma filmagem dos segmentos fora de ordem, para aproveitar ao máximo cada locação. Neil deGrasse-Tyson relembrou uma história curiosa de que fez uma viagem à China, para que gravassem no maior radiotelescópio do mundo, recentemente inaugurado por lá, e ao mesmo tempo, num estúdio local, usou fundo verde para gravar uma curta passagem que o colocou na ponte do Brooklyn, em Nova York – a poucas quadras de onde ele mora.

Braga neste ponto o interrompeu lembrando as necessidades da produção. "Lembre que você tinha seis páginas de roteiro com o radiotelescópio chinês e um parágrafo genérico na ponte do Brooklyn que era para ilustrar o movimento nas grandes cidades de uma forma geral. Entre uma coisa e outra, tivemos de fazer uma escolha."

É a cápsula perfeita do encontro de Hollywood com a divulgação científica, algo que não é estranho para Neil deGrasse-Tyson, que como astrofísico até que é um ator decente, tendo feito pontas em vários filmes e séries, dentre eles Batman vs. Superman (2016) e The Big Bang Theory (em dois episódios, um de 2010 e outro de 2018).

Apesar disso, ele comentou o desafio de decorar o texto e apresentá-lo de forma convincente à câmera. "Isso é atuação 101, mas foi desafiador", comentou. "Exigiu prática, trazer o roteiro. Era mais fácil nas partes de astrofísica, mas no resto foi bem difícil."

Quem iremos nos tornar no futuro distante?

Durante o painel, Brannon Braga comentou como o mundo está diferente desde o momento em que começaram a planejar esta nova temporada. E Ann Druyan destacou: "E alguns elementos desta temporada parecem até um pouco precognitivos do drama deste ano", referindo-se à pandemia do novo coronavírus.

Por sinal, entre os clipes da série exibidos, um deles reconta a lenda da invenção do jogo de xadrez, que traz uma apaixonante explicação do que é crescimento exponencial – justamente o processo de espalhamento envolvido com o avanço dos casos de Covid-19 pelo mundo, algo que nossos cérebros, educados por taxas de crescimento aritméticas, lineares, não são naturalmente equipados para compreender. Para perceber o drama de uma curva exponencial, o único jeito é através dos superpoderes da matemática e da ciência.

Também participaram da apresentação, com breves comentários, Jason Clark (produtor executivo) e Jeffrey Okun (supervisor de efeitos visuais). E Ann Druyan fechou a apresentação contando de seu sentimento pessoal a respeito do processo de criação da nova temporada.

"Ao escrever, eu ouvia a voz de Carl, no meu coração, se perguntando, quem iremos nos tornar no futuro distante? Vamos nos aventurar por esses mundos distantes? E Carl, em seu jeito inimitável, diria: Yupie, sim! Porque o tempo nos terá mudado. O sonho desta série para mim foi encontrar as histórias que nos iluminarão, trarão o nosso melhor, o nosso mais corajoso, nos momentos mais sombrios."

Confira o painel na íntegra no alto desta pagina.

(o)

Salvador Nogueira é jornalista de ciência e editor da Coleção Trek Brasilis, série de livros-reportagem que abordam os mais variados aspectos da saga de Star Trek.