AS NOVAS INVESTIDAS
O fim dos anos 90 e início dos 2000 presencia, em solo brasileiro, um ainda tímido avanço de pequenas editoras na produção de histórias em quadrinhos para o público infantil. No início de 2001, para mencionar apenas aquelas exclusivamente dedicadas a quadrinhos, podem ser encontradas nos pontos de vendas várias revistas, cada uma delas representando a opção por uma linha temática diferente, conforme pode ser visto a seguir:
Aninha - publicada pela Nova Cultural Editora desde 1998, é baseada na figura de popular apresentadora de programas de variedades da televisão. Nesse sentido, dá continuidade à relação que muitos quadrinhos infantis procuram manter com os produtos televisivos, o mundo do entretenimento em geral e as celebridades nacionais, ainda que com efêmero sucesso efêmero, acompanhando o desempenho dos personagens da vida real (além de Aninha, o final dos anos 90 também presenciou a edição em quadrinhos das personagens do Castelo Ra-Tim-Bum, que permaneceu em bancas de 1997 a 1999). No caso de Aninha, embora a revista apresente qualidade duvidosa em termos gráficos e temáticos, deve-se salientar seu objetivo de buscar maior segmentação do mercado: além de direcionada às crianças de sexo feminino, a revista é também elaborada por uma equipe de profissionais pertencentes a esse sexo, congregadas no Ponkan Studio. Fato inédito na indústria de quadrinhos do país.
Além das temáticas diversas, esse pequeno elenco de títulos evidencia também a preocupação em inserir a revista em quadrinhos em um projeto maior de comunicação e disseminação, incluindo revistas de passatempos, livros infantis, merchandising, materiais audiovisuais, apresentações artísticas, brinquedos eletrônicos, etc. Boa parte dos títulos conta com páginas na internet para divulgação dos produtos e contato com leitores e potenciais interessados na utilização das personagens para fins comerciais (ex: www.comborangers.com.br; www.luana.com.br; www.lobinhonet.com.br; www.aninha.com.br). Os títulos seguem um caminho quase obrigatório para os quadrinhos no próximo século, o da integração com outra mídias.
As pequenas editoras brasileiras também parecem encarar a segmentação do mercado como uma alternativa promissora para o sucesso comercial. De fato, no início do século 21 já não é mais possível pensar nas histórias em quadrinhos como um meio de comunicação direcionado a uma grande massa de consumidores. Cada vez mais, elas também se encaminham para um processo cada vez maior de afunilamento que levará a menores tiragens e maior variedade de títulos, o que começa a se tornar cada vez mais acessível devido à diminuição do custo da tecnologia envolvida na produção das revistas. Editoras pequenas, à medida que possuem menor investimento econômico, estão particularmente bem posicionadas para se beneficiar desses fatores. No entanto, dificuldades para distribuição e correto dimensionamento do mercado brasileiro geram problemas na manutenção da periodicidade das revistas e de conseqüente retorno econômico para seus produtores. A regionalização da distribuição pode oferecer resposta a essas dificuldades.
O século 21, no entanto, inicia-se, também, com um movimento de retração no consumo de histórias em quadrinhos. Nesse tipo de ambiente, o monopólio do mercado por poucos nomes pode representar, a longo prazo, uma alternativa suicida, levando ao esvaziamento temático das personagens e cansaço dos leitores. Com certeza, o novo século exigirá renovação na área de quadrinhos infantis, de forma a se obter a formação das futuras gerações de leitores. Editoras emergentes podem representar o início desse movimento de renovação no mercado de quadrinhos infantis brasileiros, propiciando o oferecimento de maior variedade de produtos e personagens. Ainda que de forma incipiente, pode-se já perceber um movimento inicial no sentido de segmentação do público e busca de temáticas mais próximas da realidade nacional.
A análise dos novos títulos de histórias em quadrinhos infantis evidencia, também, a preocupação em desenvolver histórias com temáticas ecológicas, acompanhando tendência cada vez mais presente na sociedade pós-moderna: o século 21 deve caracterizar-se como o da conscientização sobre a necessidade de preservação e recuperação do meio ambiente. Assim, embora o caminho para o sucesso permaneça uma incógnita, devido principalmente ao rápido desenvolvimento tecnológico e aos efeitos que este tem no mundo do entretenimento em geral e no das histórias em quadrinhos em particular, existem motivos para acreditar que o canto do cisne ainda está longe de ocorrer para os quadrinhos infantis brasileiros. Sonhar é possível.
Leituras complementares:
CIRNE, Moacy. Quadrinhos infantis brasileiros: uma breve leitura. Cultura, Ano 9, n. 32, p. 31-7, abr./set. 1979.
SANTOS, Roberto Elísio dos. Para reler os quadrinhos Disney: Linguagem, técnica, evolução e análise de HQs. São Paulo : 1998. [Tese de Doutorado - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo]
VERGUEIRO, Waldomiro. Children’s comics in Brazil: from Chiquinho to Monica, a difficult journey. International Journal of Comic Art , Ano 1, n. 1, p. , 1999.